Eleições na Rússia
23 de setembro de 2011Cerca de 110 milhões de eleitores russos estão aptos a votar uma nova Duma, a câmara baixa do Parlamento russo, no próximo dia 4 de dezembro. Dos sete partidos autorizados a concorrer, apenas três têm chance de conseguir algum assento na Duma.
Observadores ocidentais e ativistas de direitos humanos não aguardam uma eleição justa e democrática. Essa avaliação também é compartilhada pelos próprios russos: 54% acreditam que a votação será uma farsa.
Em uma pesquisa conduzida pelo Centro Levada de Moscou, quase dois terços dos entrevistados (60%) disseram acreditar que a eleição para a Duma é uma luta entre clãs de burocratas, preocupados somente com o acesso a fundos orçamentários e outros recursos estatais.
Nesse contexto, tem início nesta sexta-feira (23/09), a fase final da campanha eleitoral na Rússia, com a realização de congressos de diversos partidos.
"Rússia Unida"
O maior partido do país, o Rússia Unida, foi criado pelo primeiro-ministro russo, Vladimir Putin. O partido conservador de direita, com um urso na logomarca, foi fundado em dezembro de 2001, avançando em poucos anos como a maior força política do país. Nas eleições parlamentares de 2007, o "partido do poder", como ele é chamado na Rússia, conseguiu uma maioria de dois terços.
Pesquisas mostram que o Rússia Unida pode repetir este êxito. A popularidade do partido vem, afinal de contas, do seu líder, Vladimir Putin. O chefe de governo continua sendo o político mais popular do país.
Para os críticos, incluindo o ex-presidente soviético Mikhail Gorbachev, o Rússia Unida faz lembrar cada vez mais o antigo Partido Comunista da União Soviética. Da mesma forma como o antigo PCUS, o partido de Putin tenta dominar todos os setores e eliminar rivais.
Comunistas, em segundo lugar
O Partido Comunista da Federação Russa é a única força de oposição no Parlamento em Moscou – situação que provavelmente não deverá mudar. De acordo com pesquisas, nas eleições de 4 de dezembro próximo os comunistas poderão conquistar até 18% dos votos, melhorando assim seu resultado de quatro anos atrás (11,6%). Assim, continuariam sendo a segunda maior força na Duma.
O partido, cujo programa exige um retorno à União Soviética, ao socialismo e à economia planificada, obteve seus melhores resultados nos anos 1990.
Na eleição presidencial de 1996, o líder do partido, Gennady Zyuganov, conseguiu até mesmo chegar ao segundo turno, onde foi derrotado por Boris Yeltsin.
Populistas de direita alinhados com o Kremlin
A terceira força que deverá ser eleita para o Parlamento russo é o Partido Liberal Democrata da Rússia. Pesquisas de opinião mostram que o partido do populista de direita Vladimir Jirinovski poderá receber os votos de 10% a 13% dos eleitores. O partido faz propaganda há anos contra os imigrantes na Rússia.
Também desta vez, o slogan dos liberal-democratas russos na campanha eleitoral é "Nós somos a favor dos russos". Como na maioria das vezes os populistas de direita apoiam o Kremlim em votações no Parlamento, eles não são concorrência para o Rússia Unida.
Por outro lado, o partido Rússia Justa, até agora a quarta força na Duma, tem razões para preocupação. Nas pesquisas sobre a preferência do eleitorado, ele está baixo dos 7%, cota necessária para garantir a entrada no Parlamento. O partido, que se descreve como social-democrata, é considerado da linha do Kremlin.
Nenhuma chance para a oposição
Críticos oposicionistas continuam não exercendo influência na política russa. Essa é a constatação que políticos de orientação ocidental, como o antigo vice-premiê Boris Nemtsov, fazem frequentemente. Também este ano, ele e seus parceiros estão excluídos da eleição parlamentar.
Em junho último, o Ministério russo da Justiça recusou a concessão de licença para que o Partido da Frente Popular (Parnas), de cunho liberal, concorresse às eleições de dezembro. Os líderes partidários, entre eles o ex-primeiro-ministro Mikhail Kasyanov, falam de "perseguição".
Segundo as pesquisas, os partidos de oposição já estão, de qualquer forma, bem atrás na preferência do eleitorado. Isso se aplica, por exemplo, ao partido liberal Yabloko, que desde 2003 não consegue representação no Parlamento.
O recém-criado Causa Justa poderia ter recebido os votos de eleitores pró-ocidentais, mas o partido esfacelou-se mesmo antes do início da campanha eleitoral. Seu líder, o bilionário russo Mikhail Prokhorov, renunciou.
Segundo o bilionário, o partido teria sido objeto de infiltração, tornando-se assim um fantoche do Kremlin, o que o governo desmente.
Autor: Roman Goncharenko (ca)
Revisão: Roselaine Wandscheer