Candidato Martin Schulz: "Sondagens não passam de sondagens"
16 de setembro de 2017Às vésperas das eleições gerais na Alemanha, o líder do Partido Social-Democrata (SPD), e candidato à chefia de governo Martin Schulz reforçou suas críticas ao presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, em entrevista à DW. Segundo o político alemão, a situação de direitos humanos naquele país é crítica.
"Se amanhã vocês forem à Turquia para fazer uma reportagem, não posso garantir que não vão parar na prisão", comentou a seus entrevistadores, a editora-chefe da DW, Ines Pohl, e o apresentador de TV Jaafar Abdul Karim. No momento faz pouco sentido falar com Erdogan, acrescentou.
Antes, Schulz já anunciara que defende o fim das negociações para uma filiação da Turquia à União Europeia, que transcorrem desde 1999. Se necessário, também pretende encerrar a cooperação com Ancara na política para os refugiados. "Seja como for, não vou me curvar diante de Erdogan. Não se pode ceder a chantagem."
Questão dos refugiados
O candidato social-democrata também promete ser incisivo com os Estados-membros da UE que se recusam a acolher refugiados. Ele ameaça diretamente a Hungria, por exemplo, com remanejamentos do orçamento da comunidade europeia.
Nos próximos sete anos, cerca de 900 bilhões de euros estão disponíveis para ser realocados, frisa. "Solidariedade é um princípio – no financiamento, mas também no acolhimento de refugiados." Ele também é a favor de que se adote na UE uma lei de imigração com contingentes ou quotas fixos, mas sem que a legislação de asilo seja afetada.
Schulz considera possível uma cooperação com Estados africanos, também com os não democráticos, a fim de reduzir as ondas migratórias em direção à Europa, porém só em colaboração e sob controle de organizações internacionais.
Merkel, o status quo e um mundo em transformação
Na maioria das pesquisas de intenção de voto, o líder social-democrata aparece bastante atrás de Angela Merkel, a qual concorre à quarta reeleição pela conservadora União Democrata-Cristã. Seu julgamento da atual chanceler federal é severo.
"Merkel só administra o status quo, segundo o slogan 'Um país onde se viva bem e com prazer'. Sim, está certo. [...] Mas amanhã também queremos continuar vivendo aqui bem e com prazer." Por isso, é preciso explicar ao povo "para onde vamos", rebate.
Muitos cidadãos estão inseguros quanto aos caminhos futuros do país, até mesmo pelas alas conservadoras adentro, prossegue Martin Schulz. Se fosse chanceler federal, no auge da crise migratória, dois anos atrás, ele teria explicado as razões do procedimento governamental num discurso televisivo.
"Aí, talvez se escutassem frases que não agradam às pessoas. Eu teria dito: isso é apenas uma parte do que vamos ter que realizar nos próximos anos." Merkel, por sua vez, "decidiu dizer 'nós vamos conseguir'. Quem teve então que dar conta, foram os outros."
No geral, ele condena a falta de coragem dos políticos de dizerem que, num mundo em rápida mudança, quase nada permanece como era. E isso não diz respeito só à Alemanha, mas a muitas nações europeias.
"Vejam só os partidários do Brexit; vejam a Liga Norte ou o pessoal do [Movimento Cinco Estrelas de Beppe] Grillo, na Itália; vejam a Frente Nacional [na França]: é uma espécie de cólera, que em princípio não passa de uma atitude de recusa em aceitar que o mundo está em meio a uma dramática transformação."
"Sondagens são sondagens"
Indagado se está decepcionado diante da campanha eleitoral legislativa quase sem perspectivas, Schulz afirma: "Eu estou bem, sinceramente. Desculpem, vou ter que desapontar vocês. Tenho um equilíbrio interno que me diz: sondagens são sondagens. No 24 de setembro, o povo vai falar. E aí vamos ver."
E qual dos políticos de ponta dos demais partidos o chefe do SPD levaria consigo para uma ilha deserta? Martin Schulz não precisa pensar muito: sua escolha é Cem Özdemir, copresidente do Partido Verde.
"Ele é quem eu conheço melhor, esteve junto comigo no Parlamento Europeu. É uma ótima pessoa."