Candidatos à Presidência apresentam propostas ao agronegócio
6 de agosto de 2014Os candidatos à Presidência da República que alcançaram as primeiras três posições nas últimas pesquisas de intenção de voto participaram de sabatina promovida pela Confederação Nacional da Agricultura (CNA), em Brasília, nesta quarta-feira (06/08).
Dilma Rousseff (PT), Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) falaram aos representantes do agronegócio sobre falhas na infraestrutura, demarcação de terras indígenas e política externa.
A CNA entregou a cada um dos candidatos uma carta com demandas do setor e pediu respostas a perguntas específicas, que tratam de temas considerados mais graves, segundo a entidade, como invasões de terra, segurança jurídica e conflitos derivados de questões ambientais.
Primeiro a falar, Eduardo Campos defendeu o diálogo entre o agronegócio e os ambientalistas e prometeu postura mais agressiva para ampliar o espaço das exportações brasileiras.
Em seguida, Aécio focou em estabilidade e meritocracia na administração federal, prometendo mudanças nas estruturas dos ministérios ligados ao setor. E Dilma apresentou dados do seu governo e prometeu ambiente seguro aos produtores.
Cada candidato teve 30 minutos para falar e respondeu a três perguntas elaboradas por entidades do setor. Depois, os três responderam a cinco perguntas da imprensa.
Campos: "Diálogo, compreensão e respeito"
Na apresentação aos representantes do agronegócio, Eduardo Campos falou da adoção de "novos conceitos para construir os próximos 40 anos". Segundo o candidato do PSB, é preciso trabalhar com "diálogo, compreensão e respeito" para enfrentar as questões mais urgentes.
"Nossa disposição em vir aqui é para construir um diálogo. Não haverá futuro sem debate de desenvolvimento econômico, responsabilidade social e sustentabilidade. Representamos esses novos valores e conceitos", disse Campos, que estava acompanhado da candidata a vice-presidente, Marina Silva.
Em uma das perguntas, a CNA acusou o Ministério do Meio Ambiente, já comandado por Marina Silva, de ter praticado um "ambientalismo radical". Ao rebater as críticas, Campos reforçou a importância do diálogo e tentou minimizar o mal-estar. "O caminho do embate político não é o caminho certo."
Campos foi aplaudido ao se comprometer a assumir, pessoalmente, a liderança dos assuntos estratégicos do agronegócio e da agricultura familiar. Ele também prometeu fortalecer o Ministério da Agricultura e "tirá-lo do balcão político dos partidos e das lideranças e colocá-lo na mão da competência de quem possa efetivamente inspirar um diálogo responsável".
Sobre política externa, o candidato do PSB disse que o governo atual deixou o país "amarrado nos insucessos do Mercosul e rodadas de Doha". Para ele, é preciso assumir uma "postura comercial ativa" e "garantir ativismo técnico junto aos órgãos de apoio na OMC para superar barreiras técnicas injustificáveis que os produtos brasileiros enfrentam hoje".
Aécio Neves: "Autoridade e liderança"
A fala do Candidato do PSDB foi focada em ataques ao governo atual e em propostas de mudanças na administração federal. Ele prometeu a criação do que chamou de "Superministério da Agricultura", que incorporaria o da Pesca, e garantiu trabalhar para fazer o "governo da meritocracia".
Ainda no âmbito das mudanças administrativas, Aécio também se comprometeu a "resgatar" a Embrapa, criando bases nos seis biomas brasileiros. "Vamos criar em cada um desses biomas plataformas de pesquisas com apoio do CNPq e Universidades, para que possamos cada vez mais nos aprofundar nos nossos potenciais", disse.
Sobre demarcações de terras indígenas – assunto sensível aos representantes do agronegócio – Aécio disse que o país já tem legislação para tratar dos casos, mas que ela não vem sendo cumprida.
"A Funai terá sempre relevância, mas não poderá ser a única e solitária voz a tratar dessas questões. Os estados têm de participar dessas decisões", afirmou, ao fazer referência à Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que passaria ao Congresso Nacional os poderes para as delimitações.
"O que posso oferecer ao Brasil é liderança, coragem para arbitrar esses conflitos. É isso que os brasileiros esperam e vamos fazer isso de maneira inteligente", prometeu, ao acusar o governo atual de omissão.
No âmbito internacional, Aécio disse que promoverá a abertura econômica, caso eleito, para construir uma "relação madura" com o mundo: "Temos política externa hoje conduzida para que gostem da gente. Vou conduzir a política externa para que respeitem a gente."
Dilma: "Ambiente seguro para os produtores"
Em discurso com tom de prestação de contas, Dilma listou as ações implementadas durante seu mandato e os do ex-presidente Lula, como o crédito rural e seguro agrícola.
Ela também deu dados comparativos da produção de grãos que, na safra de 2001 e 2002, chegou a 100 milhões de toneladas e, para a próxima, tem a perspectiva de dobrar a produção:
"Nesses quatro anos, houve uma interlocução qualificada entre o governo e órgãos do setor, especialmente a CNA. Quando esse diálogo ocorre, não significa que sempre tenhamos posições iguais, mas estamos abertos para chegar a algo que é o bem do Brasil."
Dilma reconheceu que a questão da demarcação é um desafio, mas prometeu manter um "ambiente seguro para os produtores". Ela disse que o percentual de demarcações feitas durante os anos do governo do PT somam volume maior que outros governos e defendeu a revisão das regras para a definição das terras indígenas, assunto tratado pela PEC em tramitação.
A candidata também falou da necessidade de o Brasil ter "uma estrutura avançada de defesa agropecuária" para assegurar não só a qualidade dos produtos, mas também uma maior inserção desses produtos no mercado internacional.
"Tenho vivido isso de perto porque em todas as discussões sobre ampliação das exportações do setor agropecuário, com alguns países como Rússia e China, isso está na pauta", finalizou.