Carnaval das Culturas
22 de maio de 2010Música, dança, teatro, acrobacia, artesanato, esporte, comidas típicas e vários idiomas marcam a 15ª edição do Carnaval das Culturas, que prossegue até o dia 24 de maio em Berlim. Ao todo, 380 barracas e quatro palcos estão montados entre as estações de metrô Mehringdamm e Hallesches Tor, no bairro de Kreuzberg, para alimentar e entreter os cerca de 1,4 milhão de visitantes esperados este ano.
Aproximadamente 950 artistas devem subir aos palcos durante os quatro dias de festa. Se a chuva dos últimos dias der uma trégua, crianças e adultos também são convidados a participar de brincadeiras e assistir a apresentações circenses e musicais, por exemplo, no gramado próximo às barracas.
O maior destaque do evento é o desfile no domingo (23/05). Com carros alegóricos e trajes folclóricos, cerca de 4,5 mil pessoas representando 70 nações seguem da estação de metrô Hermannplatz até a estação Yorckstraße. O desfile tem início ao meio-dia com uma cerimônia afro-brasileira feita pelo grupo de percussão Afoxé Loni, sinalizando a importância que o ritmo e a tradição carnavalesca brasileira têm no evento.
O Afoxé é comandado por uma berlinense e dois paulistanos e conta com 120 pessoas vestidas de branco e amarelo para contagiar o público com o som dos tambores baianos e a alegria do povo brasileiro. Depois dele, seguem outros 96 grupos, incluindo vários latino-americanos, como Amasonia, Aya-Huma Ecuador, Boi da Caipora Doida, Bloco Explosão, Casa Latinoamericana, Furiosa, Grupo Peru e Tangará Tanzstudio. Ao todo, o desfile deve durar nove horas.
Intercâmbio cultural
O Carnaval das Culturas foi criado em 1996 pela Werkstatt der Kulturen (WdK, em português, oficina das culturas). Na sede no bairro de Neukölln, a instituição oferece espaços de trabalho para profissionais da música, dança, teatro e literatura de diferentes origens. Ali, cidadãos alemães e de outras nacionalidades, culturas e religiões se encontram para desenvolver projetos que busquem promover o intercâmbio e a expansão cultural dos povos imigrantes na capital alemã.
Segundo o departamento de estatisticas da Alemanha, 19% da população do país são imigrantes ou seus descendentes. De acordo com a WdK, em Berlim, essa porcentagem chega a 25%, com cidadãos vindos de 183 nações. A instituição também informa que, dos 3,4 milhões de habitantes da capital, 450 mil não possuem cidadania alemã.
Para a WdK, o Carnaval das Culturas é, ao mesmo tempo, um desafio e um incentivo para que imigrantes reconsiderem sua visão da terra natal e possam se situar "entre duas culturas". Além disso, a WdK também espera que a exposição do carnaval na mídia tenha efeito positivo para a auto-estima das minorias étnicas que vivem no país.
Integração
A colombiana Larissa Mejía e o marido alemão, Conrad Beckert, integram o grupo "Colômbia: 200 anos de independência" e sabem bem como é viver "entre duas culturas". Enquanto Conrad admira o jeito alegre e a capacidade latino-americana de encontrar soluções em situações adversas, a esposa Larissa se esforça, há 12 anos, para se identificar com a cultura alemã sem esquecer a colombiana. "Sei que quem tem que se adaptar sou eu", diz Larissa, para quem a maior dificuldade de integração ainda é o domínio do idioma alemão.
Outra colombiana do grupo, a engenheira industrial Jaqueline Casallas, diz que a experiência de contraste cultural tem sido forte. Desde que chegou a Berlim, há cerca de um ano, Jaqueline tem se impressionado com o individualismo e a falta de cordialidade no ambiente de trabalho. "Na Colômbia, as pessoas dão mais importância à família e há mais humanismo", defende. Por isso, a engenheira diz que a maioria dos amigos na Alemanha é de origem estrangeira ou tem alguma relação com a América Latina.
O grande número de escolas de música e dança com raízes latino-americanas participantes do desfile do Carnaval das Culturas mostra que não é difícil encontrar alemães interessados na cultura latino-americana. A fonoaudióloga Christine Heisler é um exemplo de que, em alguns casos, a integração com os estrangeiros parte dos próprios nativos.
No caso de Christine, o casamento entre as culturas brasileira e alemã se deu no samba. Desde que participou de uma oficina sobre o ritmo, há sete anos, a fonoaudióloga frequenta semanalmente a escola de samba berlinense Sapucaiu no Samba. Christine diz que, nesses encontros, tem aprendido que "os brasileiros são muito abertos, gostam de festejar e contagiam com seu jeito amigável e energia positiva".
O mestre de bateria da escola, Dietrich Kollöffel, também é alemão. Ele fundou a Sapucaiu do Samba em 1998, quando estreou no desfile do Carnaval das Culturas. Desde então, ele tem levado à avenida não só brasileiros e alemães, mas também representantes de outros países, como França, Inglaterra, Holanda, Espanha e Turquia. Em cinco edições, a escola foi premiada como um dos melhores grupos do desfile. A entrega dos prêmios aos vencedores deste ano será na segunda-feira (24).
Autor: Elton Hubner
Revisão: Roselaine Wandscheer