Carros inteligentes, estradas seguras
23 de setembro de 2005Seu carro pode "conversar" com a estrada e saber quando a pista está escorregadia? Pode o seu automóvel "sentir" quando um acidente está para acontecer e acionar os freios em seu lugar? Se você acidentalmente atingir um pedestre, pode seu veículo acionar um air bag externo, amenizando o impacto? Pode ele automaticamente ligar para os serviços de emergência enquanto registra dados sobre o acidente e os envia para as autoridades responsáveis?
A sua resposta a todas essas perguntas será, muito provavelmente, não. E isto não é surpresa: nenhuma dessas medidas de segurança é comum, mas a União Européia espera implantar ao menos algumas delas nos próximos anos. Cada vez mais, as montadoras de automóveis estão desenvolvendo veículos com "tecnologia aplicada" – sensores avançados e semicondutores incorporados às peças normais dos carros – para prevenir acidentes.
Segurança e economia
Os avanços técnicos vêm ao encontro das políticas européias de segurança. O continente está tentando incentivar os itens de segurança nos veículos, com o objetivo de evitar mortes em acidentes automobilísticos, mas também de olho no crescimento de sua indústria automotiva e de alta tecnologia. A comissária para Assuntos de Informação e Mídia da União Européia, Viviane Reding, vê a tecnologia da informação como a tábua de salvação da indústria européia de veículos.
Semana passada, no Salão do Automóvel de Frankfurt (IAA), ela lançou o projeto "carro inteligente". A idéia é parte de um grande esforço para criar mais empregos nas indústrias de alta tecnologia na Europa. Na ocasião, Reding reiterou o apelo para que mais países usem o sistema de bordo para ligações de emergência criado pela Comissão Européia e apelidado de e-call.
Redução de acidentes
Em 2003, a Comissão estabeleceu a meta de reduzir o número de mortes nas estradas européias pela metade, até 2010. Na Alemanha, mais de 7,7 mil pessoas morrem por ano em acidentes de automóvel, e mais de 520 mil ficam feridas. A iniciativa e-call visa diminuir acidentes. Por isso, Reding faz campanha para equipar todos os carros da Europa com o sistema automático de chamadas de emergência até 2009. A representante da Comissão Européia espera que o e-call reduza, sozinho, o número de casos fatais em 5% ou 10%.
"O novo sistema poderia salvar pelo menos 2,5 mil vidas ao ano, além de reduzir a gravidade dos ferimentos, ao permitir o acesso mais rápido aos cuidados médicos", disse ela. Depois de um acidente, o e-call permite que sensores automáticos acionem um telefone celular instalado no veículo. A chamada aciona o serviço médico mais próximo.
Apesar dos benefícios deste tipo de sistema, apenas dois países – Finlândia e Suécia – já colocaram o e-call em funcionamento. A hesitação das demais nações está relacionada aos custos de instalação da rede de comunicação necessária para o oferecimento do serviço. Apesar disso, segundo Reding, "um grande número de países-membros da UE, incluindo a Alemanha" devem se comprometer, no próximo encontro do bloco econômico em outubro, a oferecer o e-call.
Novidades na estrada
O e-call pode ser o mais conhecido dos esforços para a construção de um "carro inteligente", mas não é o único. Em Frankfurt, a comissária destacou recentes novidades anticolisão que estão sendo desenvolvidas graças a subsídios concedidos pela União Européia. "A inovação é fruto de muitos anos de pesquisa e incentivo financeiro da UE. Eventualmente, o carro será capaz de detectar o que está ocorrendo ao redor dele, permitindo a construção de um 'casulo' protetor e reduzindo o risco de acidentes", disse.
O projeto integrado PReVENT foi um dos mais beneficiados pelo dinheiro da UE. É um programa internacional que envolve empresas de automóveis e órgãos reguladores de diversos países, formado com a meta de desenvolver acessórios de segurança que usam tecnologia de ponta.
Um dos subprojetos do PReVENT é chamado Willwarn (em português: Dispositivo de Segurança Sem Fio). Atualmente em estudo na DaimlerChrysler, o Willwarn é um sistema de comunicação que informa os motoristas sobre trechos perigosos na estrada, onde a atenção deve ser redobrada. De acordo com a DaimlerChrysler, 90% dos acidentes poderiam ser evitados se os motoristas fossem alertados sobre as más condições das rodovias.
Tecnologias para todos
Mas, como nem todos podem comprar uma Mercedes, um Audi, ou outros carros de alto valor, fica uma questão para a Comissão Européia responder: ficariam esses itens de segurança restritos a quem tem dinheiro? Em Frankfurt, Viviane Reding disse esperar que o programa "carro inteligente" encoraje as autoridades públicas a superar barreiras legislativas e acelerar o processo de implantação, tornando as novidades disponíveis também para modelos básicos.
Desta forma, segundo ela, a Europa poderá manter sua posição de liderança no mercado de veículos seguros, inteligentes e limpos. "Colocar essas tecnologias em modelos de luxo não é o meu objetivo. Eu busco um uso universal", frisou Reding.