Vazou na internet
26 de julho de 2010Em si, o número dos documentos divulgados para o website Wikileaks já bastaria para deixar irado o governo norte-americano. São 91.731 relatórios provindos do banco de dados do Exército americano, a maior parte deles classificado como secreto. O site é especializado em "vazar" dados explosivos, relativos a corrupção ou à política mundial.
Os atuais documentos mostram uma imagem crua e não filtrada da guerra do Afeganistão, entre 2004 e 2009. A maioria das informações não era desconhecida, mas nunca pôde ser tão ampla e detalhadamente consultada.
Boa parte dos relatos é de sargentos, também de um comandante e de um dos analistas do serviço militar. Eles falam do aumento maciço de atentados dos Talibãs, de ataques das tropas aliadas nunca divulgados publicamente e que mataram centenas de civis, de esquadrões assassinos altamente secretos, montados para exterminar comandantes talibãs.
A informação mais controversa é que, possivelmente, o maior apoiador estrangeiro dos rebeldes talibãs seria o serviço secreto do Paquistão, país aliado dos Estados Unidos. Segundo os relatos, os espiões paquistaneses têm permissão para se encontrar diretamente com os rebeldes afegãos.
Os documentos revelam ainda que os veículos aéreos não-tripulados usados frequentemente pelos Estados Unidos não trabalham mais com tanta perfeição, e que os talibãs estão equipados com armas mais modernas do que os aliados. A Wikileaks alega que parte da história não foi publicada, pois poderia colocar os informantes em perigo, ou divulgar legítimos segredos militares.
Publicação em jornais de grande circulação
Após examinar o material durante várias semanas, tanto o semanário alemão Der Spiegel quanto os jornais New York Times e Guardian chegaram à conclusão de que ele é autêntico.
A reportagem do Der Spiegel focou os relatos do norte do Afeganistão, onde o Exército alemão atua, concluindo que a guerra naquela região se torna cada vez mais perigosa, e que os alemães foram ingênuos ao entrar nessa operação que, até agora, rendeu poucos resultados.
O New York Times diz que os arquivos ilustram em "detalhes o porquê de, depois dos Estados Unidos terem gasto quase 300 bilhões de dólares na guerra, o Talibã está mais forte do que em 2001".
Para o governo dos Estados Unidos, a revelação dos documentos aconteceu no pior momento possível. Tanto o Congresso quanto a população questionam cada vez mais se a estratégia do presidente Barack Obama no Afeganistão está correta, e se a retirada das primeiras tropas do país deve realmente começar em meados do próximo ano.
Reação oficial
Por isso, a Casa Branca reagiu de forma rápida e incisiva: James Jones, conselheiro de Segurança do governo Obama, condenou a publicação dos documentos. Segundo ele, a revelação desse tipo de informação secreta coloca em risco a vida dos americanos e de parceiros dos EUA, além de ameaçar a segurança nacional.
A Casa Branca salientou que o último relatório foi apresentado no final de 2009, e que, justamente por a situação no Afeganistão ser tão grave que, em dezembro mesmo o governo Obama anunciara uma nova estratégia, com maior número de tropas.
Trata-se de uma clara tentativa da administração Obama de sair da linha de fogo e culpar o antecessor George W. Bush pelo caos no país asiático. Num comunicado separado aos jornalistas, a Casa Branca afirma que o site Wikileaks não é uma fonte de notícias objetiva, mas sim uma organização que se opõe à política norte-americana no Afeganistão.
Wikileaks: polêmico
A página digital Wikileaks vem ocupando regularmente as manchetes. No começo do ano, ela colocou na rede um vídeo da guerra do Iraque, mostrando um ataque contra um grupo de civis, conduzido por um piloto de helicóptero norte-americano. Doze pessoas morreram, dois funcionários da agência de notícias Reuters estavam entre as vítimas.
O Wikileaks é elogiado por seu trabalho, mas também é alvo de críticas. Para muitos, o site publica documentos vazados sem, no entanto, perguntar-se o sentido dessa transparência. Muitos críticos comparam o trabalho da Wikileaks ao dos que tomam a justiça nas próprias mãos.
Quanto às últimas informações, os criadores do Wikileaks afirmam desconhecer a fonte que lhes passou o material. Mas, mesmo se soubessem, jamais a revelariam.
Autoras: Sabine Müller / Nádia Pontes
Revisão: Augusto Valente