Escândalo presidencial
8 de janeiro de 2012No que depender das manchetes da imprensa alemã deste domingo (08/01), as chances de Christian Wulff se manter no cargo de presidente são bem parcas. Segundo o Frankfurter Allgemeine, a chanceler federal Angela Merkel e o líder do Partido Liberal Democrático (FDP), Philipp Rösler, da coalizão de governo, estariam mantendo contato por telefone para acertar sucessão do presidente. O jornal se apoia em fontes da liderança partidária do FDP.
A União Social Cristã (CSU), também integrante da coalizão em Berlim, rebate oficialmente as especulações. Segundo o líder do partido, Horst Seehofer, as informações não procedem, e, definitivamente, não existe um "plano B" para o caso de Wulff vir a renunciar.
Novas eleições?
O tema também movimenta a oposição. Falando ao Tagesspiegel, o chefe da bancada parlamentar do Partido Social Democrático (SPD), Frank-Walter Steinmeier, exigiu que a premiê alemã assuma uma posição com relação ao escândalo.
Já que Merkel impôs como chefe de Estado o político de seu partido, a União Democrata Cristã (CDU), ela agora não pode fazer de conta que nada tem a ver com o assunto, censurou Steinmeier. Até o momento, Merkel se limitou a emitir comunicados sobre o tema por meio de seu porta-voz.
A secretária-geral do SPD, Andrea Nahles, vai mais longe: caso a renúncia ocorra, o governo do país teria que ser reavaliado. "Se, depois de Horst Köhler [que entregou o cargo em maio de 2010, por desacordo com a política de Berlim], mais um presidente se retirar, então deve haver novas eleições", declarou Nahles ao jornal Bild – o mesmo que desencadeou os escândalos envolvendo Wulff com uma matéria publicada do dia 13 de dezembro último.
Candidato de consenso
A presidente do Partido Verde, Claudia Roth, instou a chanceler federal a procurar um candidato que agrade governo e oposição. Caso se faça necessária a procura de um novo presidente federal, ela espera que Merkel "aproxime as forças políticas deste país com um verdadeiro interesse num candidato convincente e confiável para [o palácio presidencial de] Bellevue", comentou ao diário Welt.
Roth acrescentou que Joachim Gauck, indicado em 2010 por social-democratas e verdes para concorrer com Wulff, teria sido "um presidente ideal". "Mas infelizmente a chanceler federal agiu em termos da estratégia de poder. Só posso desaconselhá-la a fazer isso novamente".
Neste sábado, 400 pessoas protestaram em frente ao palácio Bellevue, em Berlim, exigindo que Christian Wulff entregue o cargo. Sob o slogan "Shoe for you, Mr.President!" elas mostraram seus sapatos diante da sede presidencial. Na cultura muçulmana, esse gesto expressa escárnio, ira e desprezo.
Novas ameaças
No mesmo dia, a editora Axel Springer (grupo ao qual pertence o Bild) confirmou informações divulgadas pela revista Der Spiegel de que Wulff teria não só tentado a intervenção do diretor-geral da empresa, Mathias Döpfner, para barrar a publicação de reportagem sobre os créditos imobiliários comprometedores, como também teria feito ameaças.
Segundo o Spiegel, Wulff teria deixado um recado na secretária eletrônica do celular do chefe da editora, no qual se referia a uma "campanha" do Bild e à criação de um escândalo despropositado. Ao retornar o telefonema, prossegue o Spiegel, Döpfner encontrou o presidente "exaltado", o qual teria feito ameaças expressas: caso o artigo sobre o crédito imobiliário privado fosse publicado, isso significaria guerra entre a presidência e a Springer até o fim do mandato de Wulff.
O Bild já havia confirmado há alguns dias que Wulff também deixou um recado de voz na caixa de mensagens do editor-chefe do jornal, Kai Diekmann, ameaçando cortar relações com o periódico, sobre o qual cairiam "ações legais" caso decidisse publicar detalhes do tal empréstimo.
Mesmo sob forte pressão, o presidente garante que está decidido a manter-se no cargo. "Dentro de um ano, tudo vai estar esquecido", declarou numa recepção de Ano Novo para seus colaboradores, na última sexta-feira. De acordo com o noticiário do Bild, Wulff vai dando seguimento aos planejamentos para o ano em curso, juntamente com seu secretário de Estado.
AV/dpa/afp/rtr/dapd
Revisão: Mariana Santos