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CDU luta contra crise de identidade

Jabeen Bhatti (bt)24 de agosto de 2006

Partido da chanceler federal Angela Merkel, historicamente de tendência conservadora, realiza congresso para repensar princípios básicos, enfrentar queda de popularidade e neutralizar forte criticismo interno.

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Para Merkel, CDU precisa se adequar à nova realidade políticaFoto: AP

Há 12 anos a CDU (União Democrata Cristã), que atualmente lidera a coalizão governista na Alemanha, não se reunia para rediscutir os princípios básicos e a linha de atuação do partido. Mas o encontro acontecido na terça-feira (22/08) em Berlim teve caráter de urgência. Os democratas-cristãos enfrentam uma grave crise de popularidade entre os eleitores e uma onda de criticismo dentro do próprio partido.

A chanceler federal Angela Merkel, que fez o principal discurso do congresso, afirmou que o partido precisa se adaptar às novas realidades. "Desde a última vez em que nossa plataforma foi decidida, em 1994, muitas coisas no mundo, em nosso país e até mesmo em nosso partido mudaram. Essas mudanças devem ser refletidas em nosso programa", declarou.

A CDU ganhou as eleições em setembro de 2005 com uma diferença de apenas cinco pontos porcentuais sobre o SPD (Partido Social Democrata), resultado que praticamente obrigou os conservadores a fazer uma coalizão com os até então inimigos social-democratas. De acordo com recente pesquisa feita no país, a atual diferença entre os dois partidos, caso ocorressem novas eleições, seria de apenas um ponto porcentual em favor da CDU.

Inconsistência política?

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Jörg Schönbohm cobrou a desoneração do setor produtivoFoto: AP

Para os líderes do partido que são mais favoráveis à livre iniciativa e que tradicionalmente representam os interesses do empresariado, a razão da queda na popularidade estaria no visível deslocamento para a esquerda por parte do governo de Angela Merkel. Eles reclamam da elevação de três pontos porcentuais no imposto sobre valor agregado (IVA) e do aumento de alguns benefícios sociais, que teria onerado os empregadores e conseqüentemente reduzido a competitividade da indústria alemã.

Segundo o principal líder democrata-cristão no Estado de Brandemburgo, Jörg Schönbohm, o partido tem se comportado de forma incoerente. "Muitos eleitores da CDU estão decepcionados com a direção adotada pelo partido. Além disso, trata-se de uma direção que não é clara ou consistente", declarou em entrevista ao jornal alemão Bild.

Merkel rebateu os clamores por uma maior liberalização da economia, dizendo que a CDU começou como um partido do povo e deve seguir assim. "Nós envolvemos toda a Alemanha, somos um partido de todos", disse a chefe de governo, passando a mensagem de que a CDU não representa exclusivamente o segmento empresarial.

Reformas tímidas

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Dificuldades para obter consenso no Parlamento impediram reformas mais profundasFoto: AP

Outros analistas explicam a linha mais moderada adotada pelos conservadores como a única saída para viabilizar a coalizão feita com o SPD. A aliança teria demandado dos dois partidos a adoção, no Parlamento, de decisões em consenso, portanto de caráter mais neutro, em nome da governabilidade.

Heribert Prantl, que coordena a editoria política do jornal alemão Süddeutsche Zeitung, entende que a moderação dos democratas-cristãos seja também uma busca de popularidade diante do eleitorado alemão. Ele recorda que a chanceler federal havia prometido, durante a campanha, reformas mais abrangentes que as realizadas por seu antecessor, o social-democrata Gerhard Schröder, mas não pôde realizá-las.

"Cautela política"

Prantl entende que o CDU "puxou o freio de mão" principalmente para não perder votos nas próximas eleições estaduais, que acontecem em setembro nas unidades federadas de Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental e Berlim, atualmente governadas por coalizões entre o SPD e o Partido de Esquerda. "Merkel tem demonstrado cautela política porque compreendeu que os alemães não querem reformas radicais", analisou.

CDU-Generalsekretär Ronald Pofalla
Ronald Pofalla: CDU precisa de um 'novo entendimento do conceito de justiça'Foto: AP

Os principais líderes democratas-cristãos não escondem que o congresso do partido servirá para a definição de novos rumos e para estabelecer mudanças estruturais. "Precisamos encontrar novos caminhos para o futuro. Temos que desenvolver um novo entendimento do conceito de justiça, no qual solidariedade e auto-suficiência encontrem um novo equilíbrio", observou Ronald Pofalla, secretário-geral do CDU.