Cegueira alemã com discriminação cotidiana
1 de agosto de 2003A Alemanha está atrasada na adoção de medidas recomendadas por órgãos internacionais para o combate sobretudo da discriminação racial, adverte o estudo Discriminação e Racismo – Compromissos internacionais e desafios nacionais para o trabalho dos direitos humanos na Alemanha, do Instituto Alemão de Direitos Humanos. Segundo David Nii Addy, autor do relatório, o país é "retardatário", se comparado a outras nações.
O holocausto faz parte do passado, mas a realidade evidencia que os alemães têm dificuldades em se desfazer de seus preconceitos raciais. A Alemanha, por exemplo, não cumpriu o prazo de 19 de julho para adaptar sua legislação à diretriz anti-racismo da União Européia. Nas audiências para debate do projeto de lei, formou-se uma ferrenha oposição à mudança. O projeto inclui também recomendações de outra diretriz da UE para igualdade de tratamento profissional e no local de trabalho, cujo prazo para incorporação à legislação vence em 2 de dezembro.
Sociedade despreza problemática
Para David Nii Addy, uma das causas para a pouca sensibilidade alemã com o tema é a "longa relutância" de os alemães reconhecerem seu país como um país de imigrantes e multiétnico. Além disso, a sociedade alemã estaria acostumada a identificar discriminação apenas em atos de violência, ignorando as formas sutis, presentes por exemplo no mercado de trabalho, na hora de se escolher um inquilino e mesmo nas instituições de ensino. A discriminação atinge imigrantes, refugiados e ciganos sinti e roma, assim como minorias religiosas.
O cientista político ressalta ainda a falta de pressão da opinião pública, enquanto em outros países existem numerosos grupos organizados que defendem com sucesso os interesses de minorias. Em mais um sinal de cegueira e imobilismo da Alemanha para o tema, o autor revelou ter sentido falta, na elaboração de seu estudo, de documentação sobre racismo em todas as suas formas e investigações empíricas de experiências de discriminação.
Propostas para enfrentar a discriminação
O especialista em migração, combate à discriminação e política de desenvolvimento observa que criar novas leis é insuficiente. "É necessário haver consciência da sociedade para a diversidade social", diz Addy. "Entretanto, antes de mais nada, precisa existir o reconhecimento público da discriminação", adverte.
O cientista político rejeita a adoção de cotas para minorias étnicas como método de combate à discriminação social. Ele defende o incentivo dirigido à ascensão social em áreas estratégicas. Addy reivindica também campanhas que estimulem a integração e assimilação das minorias pela sociedade alemã e sugere lemas como "Vocês são parte de nós" e "Diversidade é algo positivo".
A vice-diretora do Instituto de Direitos Humanos observa que a Alemanha não é exatamente uma exceção no cenário internacional. Segundo Frauke Seidensticker, todos os países ocidentais apresentam carência de medidas para combater o racismo.
O que é
O Instituto Alemão de Direitos Humanos foi fundado em março de 2001 sob recomendação unânime do parlamento federal, o Bundestag. Ele tem como função investigar e analisar a situação dos direitos humanos dentro e fora do país e contribuir com sugestões para o combate às violações.
Seu conselho curador reúne representantes de organizações não-governamentais, ministérios e do Bundestag. O instituto é uma entidade independente, mas financiada com recursos públicos.