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"Cenário midiático ameaçador eleva apoio a ações militares"

Roman Goncharenko (av)6 de julho de 2016

Os alemães apoiariam uma mobilização das suas Forças Armadas para a fronteira leste da Otan em caso de ameaça da Rússia? Pesquisa afirma que a resposta depende muito do quadro apresentado pela mídia.

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Soldados de diversas nações em exercício militar da Otan
Soldados de diversas nações em exercício militar da OtanFoto: picture-alliance/dpa/T. Zmijewski

Reportagens de forte cunho militarista acirram a disposição para conflitos no mundo, podendo trazer de volta a velha divisão político-ideológica Leste-Oeste dos tempos da Guerra Fria, conclui um estudo recente realizado na Universidade de Bamberg, na Alemanha.

Com base num artigo da revista Der Spiegel de 2014, no início da crise na Ucrânia, os pesquisadores examinaram um cenário hipotético em que a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) reforçaria sua presença no Leste Europeu, com o fim de intimidar a Rússia.

A DW entrevistou um dos autores do estudo, Fabian Gebauer, que é pesquisador associado da cadeira Psicologia Geral da Universidade de Bamberg, com especialização em posicionamentos políticos e ameaças existenciais.

DW: Como a equipe da Universidade de Bamberg desenvolveu o estudo sobre o papel da mídia no novo potencial de conflito Leste-Oeste?

Fabian Gebauer: Interessou-nos até que ponto cenários hipotéticos de ameaça podem desembocar novamente numa mentalidade "Leste contra Oeste". Para investigar isso, utilizamos um assim chamado "design de pesquisa 2x2": um grupo recebeu o artigo [de 2014 da revista Der Spiegel] com trechos originais, o outro, numa versão não militarizada, sem a representação ameaçadora.

Fabian Gebauer é psicólogo especializado em posicionamentos políticos e ameaças existenciais
Fabian Gebauer é psicólogo especializado em posicionamentos políticos e ameaças existenciaisFoto: privat

Um dos artigos continha determinados termos e gráficos com números de tropas e símbolos de tanques de guerra em ambos os lados; o outro, não. Além disso, os participantes foram confrontados ou com uma ameaça existencial ou com uma condição não ameaçadora – formando-se assim um total de quatro grupos. No fim, eles tiveram que responder a questões, como por exemplo, se tropas alemães deveriam ser enviadas para o flanco oriental da Otan. Nós também aplicamos na prática a teoria de gestão do terror.

O que postula essa teoria?

Ela trata do medo da mortalidade que os seres humanos têm. Para combatê-lo de algum modo, tentam defender e deixar para a posteridade valores e símbolos que sobrevivam a si mesmos. Em geral trata-se de valores culturais. Nesse estudo, por exemplo, seria o sistema de valores dos Estados da Otan na condição de comunidade cultural.

Qual foi a constatação central do seu estudo?

Nós descobrimos que aqueles que leram os trechos do artigo original da Spiegel se mostraram mais dispostos a enviar tropas alemãs aos limites orientais da Otan – cerca de 70%. Entre os que leram um artigo não militante, a disposição foi apenas de 30% – um efeito significativo.

E constatamos que as ameaças descritas em partes do artigo da Spiegel provocavam o mesmo efeito que quando uma pessoa sente sua existência ameaçada e é lembrada da própria mortalidade.

Em outras palavras: quando as pessoas são confrontadas com um perigo de vida aumenta a aceitação para missões militares?

Sim, o potencial está sempre lá. Porque, em situações extraordinárias, os meios militares são uma forma de defender os próprios valores e minorar o próprio medo.

Em relação ao tema de seu estudo, "o perigo que a Rússia representa para a Europa Oriental": sua opinião é que esse cenário não existe e é criado artificialmente pela mídia?

Não, não tenho como julgar até que ponto esse cenário é totalmente real ou não. Como psicólogo, só posso dizer que tínhamos, na sociedade da Alemanha, pouca disposição a nos tornarmos militarmente ativos. Entretanto, quando se intensifica essa representação confrontativa "Leste contra Oeste", "Rússia contra a Otan", então a população fica predisposta a pensar novamente em termos militares. Na psicologia, diríamos que reina uma ameaça, ela desencadeia medo, e este precisa ser solucionado: as pessoas têm vontade de combatê-lo com meios militares.

Qual seria seu conselho à mídia?

É preciso frisar que o artigo da Spiegel realmente trazia alternativas. Com base em pesquisas anteriores, eu sei que é sempre importante apresentar alternativas que não se orientem unidimensionalmente por um cenário de ameaça. Também é importante as pessoas desenvolverem empatia e compreensão pelo outro lado, que reconheçam que não existe só o bem contra o mal, que há uma visão diferenciada.

A conclusão principal do seu estudo lembra a situação na Rússia, onde a mídia local representa a Ucrânia e o Ocidente como ameaças. Diante desse pano de fundo, aparentemente cresce na sociedade russa a disposição a um procedimento militar. Seu estudo sugere que é possível usar a mídia para reforçar esse clima. O senhor concorda?

Sim, ele é uma prova disso. Se isso vale para a Rússia, então nosso estudo é a contrapartida do lado ocidental: seria possível acalmar os ânimos promovendo o entendimento mútuo. Talvez não seja a intenção generalizada das pessoas de ambos os lados ficar se ameaçando mutuamente o tempo inteiro. Mas quando os cidadãos só veem cenários hipotéticos confrontativos, ameaçadores, unidimensionalmente, sem alternativas, aí haverá um potencial mais elevado para se disseminarem padrões militares nessa mentalidade Leste-Oeste.