Checkpoint Berlim: 50 tons de cinza
20 de janeiro de 2017Janeiro está chegando ao fim e com ele vem aquela sensação característica de que o inverno já dura décadas em Berlim. A paciência para esta estação se esgota em algum momento entre o Natal e os primeiros quinze dias do novo ano.
O frio é apenas um detalhe do inverno na cidade e é fácil contorná-lo, até mesmo os 20 graus negativos que peguei no primeiro ano em Berlim. Aqui, todos os lugares têm aquecimento, então dentro de casa é sempre aconchegante. Já passei mais frio em Curitiba do que na Alemanha. Na capital paranaense, as casas parecem geladeira, com temperaturas sempre menores do que do lado de fora.
Mas essa experiência que vivi desde a infância, apesar de sofrida, é muito útil hoje em dia, pois auxilia na economia do gás usado para o aquecimento. Para mim, em casa, a temperatura interior não precisa simular um verão artificial, como ocorre em certos lares alemães, bastando permitir que se ande com uma blusa de lã.
O grande problema do inverno em Berlim são os dias cinzentos. É cinza que não tem mais fim. O sol aparece raramente nesta estação. Aquele cinza eterno renasce dia após dia e traz consigo uma depressão profunda e a vontade de hibernar até esse período passar ou até aparecer um daqueles dias ensolarados de contar nos dedos, que trazem a esperança de um fim de inverno próximo.
No entanto em janeiro o fim do inverno, que na prática começou em algum momento em outubro, parece muito distante. As temperaturas só vão atingir um nível agradável, com muita sorte, a partir de abril, porém mais provavelmente em maio.
Além disso, alguma neve deve cair nos próximos meses. Apesar de bonita nas primeiras horas, ela adquire o tom marrom ao se misturar com os passos e as pedrinhas colocadas para evitar escorregões e, no fim, contribui para ressaltar o cinza de Berlim e deixar a cidade com uma aparência suja e descuidada.
Clarissa Neher é jornalista freelancer na DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, publicada às sextas-feiras, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.