Checkpoint Berlim: Cerveja alemã com toque brasileiro
23 de outubro de 2017A Alemanha possui ótimas cervejas comerciais, mas nem por isso ignora as tendências mundiais. A onda de cervejas artesanais, cada vez mais populares no Brasil, também chegou a Berlim. Recentemente, várias marcas e microcervejarias surgiram na cidade. E numa das que mais tem crescido nos últimos anos, a bebida tipicamente alemã tem um gostinho brasileiro.
Desde maio de 2016, a brasileira Veronica Menzel é uma das mestre cervejeiras na BRLO, cuja "fábrica-bar", construída em contêineres, fica no parque berlinense Gleisdreieck. Pale Ale, German IPA e Berliner Weisse estão entre os mais de dez tipos de cerveja produzidos pela cervejaria, fundada em 2014.
A cerveja entrou na vida de Veronica bem antes de seu ingresso na BRLO. Ainda no Brasil, a então comissária de bordo de Campinas começou a estudar sozinha sobre o tema e, nas horas vagas, experimentava produzindo a bebida em casa. Em 2010, Veronica se mudou para Berlim e aproveitou para tomar um novo rumo profissional. Na capital alemã, fez um curso de mestre cervejeira no Instituto para Pesquisa e Educação em Cervejaria de Berlin (VLB).
O curso lhe abriu as portas para sua inserção na cena cervejeira alemã. Depois de fazer um estágio no laboratório do VLB, ela foi contratada pelo instituto, que além de oferecer cursos e formar mestres cervejeiros, faz análises e presta assessoria técnica na área. Na cervejaria piloto do local, Veronica conheceu os donos da BRLO.
No país da cerveja, ela me contou que o fato de ser brasileira foi um diferencial em seu currículo. No meu encontro com a mestre cervejeira, também conversamos sobre as diferenças entre o mercado para cervejas artesanais na Alemanha e no Brasil.
Enquanto do outro lado do oceano há uma cena já estabelecida e um amplo público, por aqui, esse fenômeno ainda é recente, e Berlim está no centro dessa pequena revolução. De acordo com Veronica, a cena da cerveja artesanal começou a ganhar força na Alemanha há cerca de cinco anos.
Neste pouco tempo, Berlim já ganhou aproximadamente 30 marcas locais. Apesar de a Alemanha ser a terra da cerveja, o ingresso nesse mercado é mais difícil do que no Brasil, segundo a avaliação da mestre cervejeira.
"Os alemães estão acostumados com cervejas comerciais, que são boas e baratas. Além disso, praticamente cada cidade tem uma cervejaria, por isso, é mais difícil que eles experimentem cervejas novas, estando contentes com a local", explicou.
Veronica, porém, acredita que, apesar desta dificuldade e do preço – um pouco mais alto que o das cervejas comerciais –, o mercado alemão tem espaço para as artesanais. "As cervejas artesanais têm mais caráter e sabor", acrescentou a especialista.
E, mesmo respeitando a Lei da Pureza da Cerveja (Reinheitsgebot) – a regra alemã máxima para a produção da bebida, que vigora desde 1516 e determina o uso de somente quatro ingredientes – o espaço para a experimentação é enorme. "Somente com malte, lúpulo, levedura e água é possível criar mais de 5 mil cervejas diferentes", destacou Veronica.
O mundo das cervejas artesanais também abre espaço para dar uma burlada nessa lei, ou seja, possibilita a introdução de outros ingredientes na receita tradicional. Veronica, por exemplo, criou para o cardápio da BRLO a Brazilian Blowout – uma cerveja com pimenta-malagueta, trazida diretamente de sua terra natal.
Clarissa Neher é jornalista freelancer na DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, publicada às segundas-feiras, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.
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