Checkpoint Berlim: Feirinha asiática
8 de julho de 2016Aqueles que estão longe do país natal há certo tempo sabem que em determinado momento a saudade sempre aperta e sentimos falta de coisas que nem imaginávamos, como o pão de queijo, o feijão com o arroz, pastel, e, como não esquecer, a coxinha (sou viciada nessa iguaria brasileira).
Em Berlim, a comunidade asiática encontrou uma maneira criativa de matar essa saudade: criou uma feira gastronômica clandestina. Nos domingos, o parque Preussen, no bairro de Wilmersdorf, vira um mar de guarda-sóis coloridos. De longe, aquela mistura de cores parece ser apenas um aglomerado de pessoas que foram passar o dia no local.
Mas de perto, surge a feirinha do gramado tailandês, como foi apelidado o ponto de encontro da comunidade asiática, principalmente tailandesa, na cidade. Sentadas ao chão, senhoras preparam em fogareiros pratos típicos de sua terra natal. A maioria dos alimentos vendidos já está pronta para ser degustada. As opções variam bastante entre um guarda-sol e outro. Há também "barraquinhas" comandadas por homens.
Ao caminhar pelo corredor que surge entre fileiras paralelas de guarda-sóis, a sensação é de estar em uma feira no Brasil. A diferença é que aqui não há barraquinhas, as comidas são preparadas ali no chão mesmo. Semelhante, no entanto, é a forma de vender os produtos. Os comerciantes também fazem propaganda no grito e convidam gentilmente os clientes para degustar a comida caseira e as bebidas típicas: "Madame, aceita um suco de manga?"
A feirinha clandestina surge no meio do gramado e divide, de um lado, famílias asiáticas que se reúnem ali para matar um pouquinho a saudade da terra distante e, do outro, moradores de Berlim que aproveitam para almoçar no parque e tomar sol no gramado.
A reunião no gramado tailandês acontece há mais de 20 anos. Apesar de algumas tentativas das autoridades sanitárias de interditar a feira clandestina – afinal aqui não dá para simplesmente vender coisas, principalmente alimentos, sem as autorizações necessárias –, os asiáticos mantêm firmemente a tradição e, pela quantidade de guarda-sóis, as especialidades têm saída. O difícil sempre é saber o que escolher entre tantas delícias.
Clarissa Neher é jornalista freelancer na DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, publicada às sextas-feiras, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.