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Checkpoint Berlim: Pichação ativista

20 de fevereiro de 2017

Irmela Mensah-Schramm, de 71 anos, foi parar nas páginas policiais de jornais alemães. Multada após pichar para mudar slogan de ódio, aposentada tem spray como arma contra neonazismo e xenofobia.

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Irmela Mensah-Schramm dedica sua vida a remover propaganda neonazista
Irmela Mensah-Schramm dedica sua vida a remover propaganda neonazistaFoto: picture alliance/dpa/J. Carstensen

A história da aposentada Irmela Mensah-Schramm, de 71 anos, ganhou o noticiário da Alemanha, mais precisamente os cadernos policiais. Após esperar quase três meses para que uma pichação que promovia o ódio fosse removida, Irmela cansou e resolveu agir por conta própria: pegou sua tinta spray e foi transformar o "Merkel muss weg" (Fora Merkel) – slogan do movimento Pegida e de partidários da legenda populista de direita Alternativa para a Alemanha – pichado num muro de Berlim em "Merke! Hass weg!" (Lembre-se! Fora ódio!). 

No meio da ação de transformação, Irmela foi pega no flagra por um policial e, agora, ela enfrenta um processo na Justiça. "O que está por trás deste lema é o ódio contra refugiados primeiramente e, somente depois, vem a Merkel. Por isso, resolvi transformar a frase pichada num slogan para a reflexão", explicou-me a simpática pedagoga.

Apesar da boa intenção, a ativista sofreu uma derrota na primeira batalha judicial e foi condenada a pagar uma multa de 1,8 mil euros. "A Promotoria alegou que não vê perspectiva de melhora no meu caso", disse, achando graça do argumento. E Irmela não pretende mesmo deixar de apagar ou transformar pichações que promovem o ódio.

Clarissa Neher vive em Berlim desde 2008
Clarissa Neher vive em Berlim desde 2008Foto: DW/G. Fischer

A ativista não se deu por vencida e recorreu da decisão. Sua defesa pede que ela seja declarada inocente. Irmela argumenta que o crime foi cometido pela pessoa que pichou o slogan, ela estava apenas cumprindo seu papel de cidadã ao removê-lo. Há mais de 30 anos, a aposentada dedica sua vida a limpar a cidade de adesivos e pichações xenófobas e neonazistas.

Esta missão começou por acaso. Depois de ver um adesivo neonazista colado próximo a sua casa, Irmela não teve dúvida de que aquele pedaço de papel remetendo a um passado monstruoso não poderia ficar ali. A limpeza a encheu de satisfação. Desde então, a aposentada se dedica a apagar mensagens deste tipo em várias partes da Alemanha e países da Europa.

O uso do spray para transformar pichações é recente. Irmela contou-me que a ferramenta é prática de se carregar na bolsa e bastante útil para slogans que não são fáceis de serem limpos.

Por seu engajamento, ela ganhou prêmios, mas, após o julgamento, ela devolveu dois que recebeu da cidade de Berlim, onde mora há 48 anos. "Os prêmios foram um reconhecimento pelo meu trabalho voluntário. A condenação, porém, transformou esse trabalho voluntário em crime", afirmou, ressentida.

Após o incidente em Berlim, Irmela foi pega novamente pela polícia pacificando pichações neonazistas no estado da Saxônia, onde agora enfrenta uma investigação.

"Não alcançaremos nada, se não fizermos nada. E se você não fizer nada, quem vai fazer?", disse em resposta a minha pergunta sobre o que a levou a iniciar essa jornada de limpeza de frases carregadas de preconceito que surgem do dia para noite em muros ou postes das cidades.

Clarissa Neher é jornalista freelancer na DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, publicada às segundas-feiras, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.