Passado duvidoso
30 de dezembro de 2011O nome do general Mohammed Ahmed Mustafa al-Dabi, de 63 anos, é estreitamente ligado a Darfur, região conflituosa no oeste do Sudão. Ele é o chefe da missão de observadores da Liga Árabe na Síria, que chegou ao país no último dia 28 para investigar denúncias de massacre contra os manifestantes pelas forças do governo.
Em pelo menos quatro das suas ocupações militares, al-Dabi esteve diretamente envolvido com a região de Darfur, onde os conflitos já causaram a morte de 300 mil pessoas, segundo as Nações Unidas.
Na avaliação de grupos de direitos humanos, como a Human Rights Watch, al-Dabi é uma péssima escolha para ocupar o cargo de observador em assuntos ligados a direitos humanos – o seu passado desqualificá-lo-ia.
Protegido do presidente
Al-Dabi deve sua carreira nas Forças Armadas do Sudão ao presidente do país, Omar al-Bashir, contra o qual o Tribunal Internacional de Haia emitiu um mandado internacional de captura por genocídio e crimes de guerra em Darfur.
Depois do golpe de 1989, al-Bashir nomeou al-Dabi como chefe do serviço secreto militar. Outros cargos importantes vieram em seguida, como diretor do serviço secreto estrangeiro e vice-chefe do Estado-Maior para operações militares, entre 1996 e 1999.
Apesar de o general – que carrega a alcunha de "cobra" – não ter sido acusado de crimes contra o humanidade pelo Tribunal de Haia, observadores o acusam de ter ignorado graves violações dos direitos humanos cometidas pelas Forças Armadas sudanesas, tanto no sul do país como na parte oeste. Isso teria acontecido também quando ele mediava o acordo de segurança de Darfur.
Uma mão lava a outra
A nomeação pode ter a boa intenção de trazer o presidente sírio, Bashar al-Assad, para a mesa de negociação. Os dois países mantêm boas relações, dentro do esquema "uma mão lava a outra". Durante o conflito em Darfur, Damasco apoiou o regime instalado na capital sudanesa. Segundo observadores, se Assad ainda tiver disposição para ouvir alguém, seria o governo do Sudão.
Já os críticos consideram uma missão liderada por um militar sudanês como fadada ao fracasso. "Em vez de dirigir um time para investigar violações dos direitos humanos na Síria, o próprio general deveria ser investigado pelo Tribunal Internacional para ver se ele não cometeu os mesmos crimes no Sudão", afirma o analista Omer Ismail, da ONG americana Enough Project, que faz campanha pelo fim do genocídio.
No entanto, a Liga Árabe defende a escolha de al-Dabi, citando também os seus "longos anos de experiência militar". O argumento, entretanto, é escandaloso aos olhos do movimento pró-democracia na Síria. Depois de sua rápida visita a Homs, local dos conflitos mais recentes na Síria, al-Dabi afirmou que a situação seria "relativamente normal" – o que aumentou ainda mais as dúvidas sobre sua nomeação.
Autor: Ludger Schadomsky (np)
Revisão: Alexandre Schossler