Christa Wolf recebe Prêmio Alemão do Livro
21 de março de 2002Pouco conhecida dos leitores brasileiros, a escritora Christa Wolf, 73 anos, recebeu na noite desta quinta-feira, pelo conjunto de suas obras, o Prêmio Alemão do Livro. A homenagem foi instituída este ano, sendo entregue na Feira do Livro de Leipzig, que se realiza até domingo.
Nascida em 1929, Christa Wolf estreou em 1964, na então República Democrática Alemã (RDA), com o romance Der geteilte Himmel (O Céu Dividido), em que descreve o destino das pessoas na Alemanha dividida. A ocupação com esse tema, bem como sua participação corajosa "nos grandes debates da RDA e da Alemanha reunificada" foram citadas pelo júri como justificativa para a escolha da premiada.
Afiliada do partido comunista da RDA, o SED, desde sua criação em 1949 até 1989, Wolf chegou a participar do Comitê Central, do qual se desligou em 1967, após um discurso crítico em reunião plenária. Colaborou temporariamente com o Stasi, o serviço secreto da RDA, que por sua vez a observava cuidadosamente, chegando a preencher 42 volumes com documentos e anotações sobre ela.
Nunca se deixou cooptar completamente pelo regime, o que não impediu que fosse diversas vezes condecorada na RDA, tendo recebido inclusive o Prêmio Nacional de Primeira Classe. Reconhecida também no oeste do país, foi laureada em 1980 com a mais importante distinção literária da Alemanha, o Prêmio Georg Büchner.
O autor do discurso em seu louvor, na entrega da láurea em Leipzig, foi o Nobel de Literatura Günter Grass, autor também da estatueta que constitui o prêmio.
Apenas dois livros da autora estão disponíveis em português, no Brasil: Em Busca de Christa T. (obra de 1968), em tradução de Andreas Amaral, lançada pela Art Editora; e Cassandra (de 1983), tradução de Marijane Vieira Lisboa, publicada pela Estação Liberdade.
Na Alemanha, acaba de ser lançada a primeira biografia da autora, Christa Wolf – Eine Biographie (ed. Kindler), em que o autor, o jornalista Jörg Magenau, a apresenta como uma "dissidente leal, que viveu entre a crítica e a defesa da RDA", e resgata, partindo da vida da escritora, a história da Alemanha Oriental.