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Moda

Carlos Albuquerque24 de outubro de 2007

Christian Dior é sinônimo de luxo, feminilidade e elegância. Nesta semana, o mundo lembra os 50 anos da morte do costureiro, cuja habilidade renovou não somente a moda, mas também o comércio de marcas de luxo.

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Christian Dior renovou o luxo e seu comércioFoto: AP

Nova-iorquinas milionárias, cariocas peroladas e parisienses entediadas tiveram que esperar até o fim da Segunda Guerra Mundial para que seu sonho em chiffon de seda pudesse ser realizado. Como explica uma das últimas herdeiras milionárias americanas da época, não seria patriótico usar o luxo durante os anos de guerra.

A vingança não tardou, chegando através das mãos do costureiro normando Christian Dior, que em fevereiro de 1947 lançava Corola, nome com o qual batizou a primeira coleção da recém-inaugurada Casa Dior, na Avenida Montaigne 30, em Paris, endereço que mantém até hoje.

A mulher moderna, dinâmica e "rápida como um táxi", libertada do mofo do século 19 e preparada por Coco Chanel para os duros anos de guerra, era substituída pela mulher mãe, esposa e feminina, pronta para abandonar seu emprego na agricultura e na indústria e devolvê-lo ao soldado herói que retornava dos campos de batalha.

Quilos e quilos de tecidos

50 Jahre Modehaus Dior - Ausstellung in London
Modelos da coleção de 1947: cintura fina e metros de tecidoFoto: picture-alliance/dpa

Desenhando roupas para esposas de colaboradores do governo de ocupação nazista, Christian Dior dividiu com Pierre Balmain a direção artística do atelier do costureiro Lucien Lelong na Paris ocupada. Após a guerra, Dior conseguiu convencer Marcel Boussac, dono de um império de têxteis, a investir na sua "maison". Em vez da parcimônia dos anos de guerra, Dior prometeu a Boussac uma mulher que usaria metros e metros de tecidos.

No lugar dos ombros marcados e da silhueta sedutora "à la Mae West", desenhados pela barroca e genial Elsa Schiaparelli nos anos de 1930, a coleção Corola, literalmente o conjunto de pétalas da flor, reavivou a mulher da Belle Époque: casaquinho curto, cintura marcada, saias rodadas quase até o tornozelo, ombros arredondados, luvas, sapato alto, imensos chapéus, flores de seda e colares com muitas voltas de pérolas.

Em 1947, o diabo passou a vestir Christian Dior. Na ocasião, Carmen Snow, editora da revista de lifestyle americana Harper's Bazaar, comentou: "Querido Dior, sua coleção é uma revelação, seus vestidos têm um novo visual". Surgia assim o "new look" ou novo visual, que marcou a moda feminina durante toda a década de 1950.

Atrizes e princesas

Christian Dior Olivi de Haivilland wedding gown
Dior vestiu Olivia de Havilland em 'A Filha do Embaixador', 1956Foto: AP

Corola foi um imenso sucesso. Rita Hayworth usou Dior na estréia de Gilda em 1947. O costureiro francês realizou um desfile especial para a família real inglesa. O rei George 5º, no entanto, proibiu as princesas Elisabeth e Margaret, mais tarde uma fiel cliente, de usarem o "new look". Em tempos ainda de racionamento, isto poderia ser um mau exemplo para a nação. A coleção de vestidos e bijuterias de Marlene Dietrich foi o ponto forte da recente exposição Dior na Alemanha 1947-1957.

Grace de Mônaco, Olivia de Havilland, Jane Russel, Margot Fonteyn. A mulher de Dior tinha piano de cauda na sala e lia O Pequeno Príncipe. Apesar de afirmar que as próprias curvas femininas definiriam o contorno e o novo estilo, a moda de Dior moldou, definitivamente, o corpo feminino.

Dependendo da altura da cintura, do diâmetro das saias e do tamanho das golas, nas mãos de Dior, o corpo da mulher tomou a forma de um "H", um "Y", um "A" ou um "8", como foi o caso da linha Corola.

Em 1953, o mestre francês criou a coleção Vivante, também denominada de linha Tulipa, na época uma sensação. As saias se aproximaram dos joelhos e pairavam exatamente a 40 cm do chão. Em vez de cinco metros de tecido, Dior chegava a usar 40 metros em um vestido de noite, cujo peso era de 30 quilos.

Miss Dior, Diorama e Diorissimo

Mode Dior 1953
Linha Tulipa: Dior moldou a mulher como uma florFoto: picture-alliance/dpa

Como bem observa o diário alemão FAZ, mais do que materiais e combinações, o que interessava a Dior eram as proporções. Dior foi o mestre do direcionamento da visão. Cada bainha, cada acessório, cada aplicação provocava um movimento nos olhos do observador, em vez de fixar-lhe a visão em determinado ponto.

Justifica-se assim a máxima de Dior, que dizia: "Moda começa na ponta dos cabelos e termina na ponta dos pés". Em dez anos, o costureiro francês desenhou 22 coleções e cerca de 3 mil modelos. Apesar da concorrência de Pierre Balmain e Cristóbal Balenciaga durante os anos de 1950, foi Dior quem mais deixou sua marca no mundo da moda.

Seus vestidos eram elaborados como alta-costura, mas eram vendidos como prêt-à-porter de luxo, podendo ser adaptados ao manequim das clientes de suas butiques que também vendiam acessórios, bijuterias, lingeries e perfumes. Já em 1947, ele lançava seu perfume Miss Dior, seguido de Diorama (1949) e Diorissimo (1956). Após a guerra, Coco Chanel e Jean Patou também se lançaram no ramo de perfumes e acessórios, Elsa Schiaparelli se concentrou no lingerie. Dior aperfeiçoou a tendência.

Dior, Laurent, Ferré, Bohan e Galliano

Christian Dior models
Dior e manequins no Hotel Sayoy de Londres, em 1950Foto: AP

Apesar da timidez, ele surpreendia pela habilidade empresarial. Representantes podiam comprar moldes ou peças originais das coleções com exatas instruções de reprodução. Um modelo de vestido que custaria 950 dólares na Av. Montagne 30 custava, assim, 80 em uma loja de departamentos. Dior introduziu o sistema de royalties para a comercialização de sua lingerie. A política empresarial por ele lançada serve de exemplo, ainda hoje, para o comércio de marcas de luxo.

O supersticioso Dior, que não recebia nenhum senhor sem gravata e não lançava suas coleções antes de consultar sua taróloga, inseria um modelo chamado Granville (nome da cidade da Mancha onde nasceu em 1905), em todas as suas coleções. Aos 52 anos, vítima de um ataque cardíaco, Christian Dior morreu em 24 de outubro de 1957, nas termas de Montecatini, na Toscana.

Haute Couture 2004 in Paris, John Galliano, Christian Dior
Desfile de John Galliano: renovação da marca DiorFoto: AP

Seu assistente Yves Saint-Laurent tornou-se seu sucessor aos 21 anos de idade. Pierre Cardin também havia trabalhado para Dior no início da carreira. Em 1958, a coleção suave, leve e fácil de usar da Casa Dior, desenhada em apenas nove semanas por Saint-Laurent, foi uma sensação. No entanto, o existencialismo de Saint-Laurent não combinava com o refinado gosto das clientes de Dior. Convocado para servir o exército em 1960, Saint-Laurent não mais voltou a trabalhar para a casa.

Ele foi substituído por Marc Bohan, que lentamente impôs seu estilo conservador às novas coleções, até ser substituído pelo milanês Gianfranco Ferré, em 1989. A partir deste ano, a marca Dior passou a pertencer à empresa de artigos de luxo Moet Henessy Louis Vuitton (LVMH), que em 1996 contratou John Galliano, infant terrible da moda inglesa nascido em Gibraltar, como renovador e sucessor do estilo lançado por Christian Dior.