Wulff eleito
30 de junho de 2010O candidato do governo alemão, o democrata-cristão Christian Wulff, precisou esperar até a terceira votação para ser eleito presidente da Alemanha nesta quarta-feira (30/06) em Berlim. Apesar do maior número de membros do partido do governo no colégio eleitoral, ele não conseguiu reunir a maioria absoluta necessária nas duas primeiras votações.
Isso causou surpresa entre os observadores políticos e é interpretado como grande derrota para os líderes dos partidos no governo, a chanceler federal democrata-cristã Angela Merkel e o liberal-democrata e ministro das Relações Exteriores, Guido Westerwelle.
Na Alemanha, o presidente federal, que exerce principalmente funções representativas, é eleito pelos membros da Assembleia Federal, que se reúne especialmente para esse fim. Se nenhum candidato conseguir a maioria absoluta nos dois primeiros turnos, a maioria simples, na terceira votação, basta para ser vencedor.
A Assembleia Federal foi composta pelos 622 deputados do Bundestag (câmara baixa do Parlamento alemão) e outros 622 delegados enviados pelas bancadas dos 16 estados alemães. Apesar de indicados pelas bancadas estaduais, a lei garante aos delegados o livre arbítrio para votar, proibindo os partidos de exercerem pressão sobre eles.
De um total de 1.244 membros do colégio eleitoral, Wulff obteve, na terceira votação, 625 votos, enquanto o segundo colocado, Joachim Gauck, somou 494 votos. O número de abstenções foi de 121, enquanto dois votos foram anulados.
Primeiro e segundo turnos
Wulff, de 51 anos, era o candidato indicado pelos partidos da coalizão de governo – CDU (União Democrata Cristã), CSU (União Social Cristã) e FDP (Partido Liberal Democrático).
Além do teólogo evangélico Joachim Gauck, Wulff concorria com a deputada do partido A Esquerda, Luc Jochimsen, e com Frank Rennicke, candidato do partido de extrema direita NPD.
Ainda que os partidos do governo dispusessem de 644 delegados na Assembleia Federal, no primeiro turno Wulff obteve somente 600 votos, 23 a menos que a maioria absoluta necessária para ser eleito. O segundo colocado, Gauck, obteve 499 votos e a candidata do partido A Esquerda, 126. Frank Rennicke conseguiu angariar somente os três votos dos delegados do NPD no primeiro turno.
No segundo turno, a situação não foi muito diferente. Christian Wulff recebeu 615 votos, oito a menos que a maioria absoluta necessária, e Joachim Gauck, 490. A candidata do partido A Esquerda obteve 123 votos e Frank Rennicke recebeu novamente três votos.
Instância ética e moral
Após os dois primeiros turnos, confirmava-se o temor das lideranças da coalizão conservadora-liberal de que a crise em que se encontra a coalizão tivesse reflexos na eleição presidencial. Por outro lado, Sigmar Gabriel e Claudia Roth, presidentes dos partidos de oposição SPD e Partido Verde, disseram não ver no resultado uma derrota para a coalizão conservadora-liberal.
Para Gabriel, o fracasso de Wulff nos dois primeiros turnos foi "uma vitória para a Assembleia Federal". Roth, por sua vez, disse que a eleição não devia ser usada para discutir sobre a coalizão conservadora-liberal. "E é justamente isso que tenta a coalizão", disse Roth, explicando que a maioria da população do país queria alguém que representasse uma instância ética e moral como Joachim Gauck.
Pressão sobre A Esquerda
Apesar de a pressão exercida por verdes e social-democratas sobre o partido A Esquerda, após o segundo turno, a presidente do partido, Gesine Lötzsch, afirmou que Gauck não seria, nem de longe, um candidato que compartilha a posição dos esquerdistas.
Lötzsch chegou a sugerir a nomeação de um novo candidato que fosse aceitável para todos. A sugestão, todavia, foi rejeitada por social-democratas e verdes.
Pouco antes do início do terceiro turno, a candidata Luc Jochimsen desistiu de sua candidatura. Os delegados conservadores-liberais, por sua vez, se mostraram mais coesos e acabaram elegendo Christian Wulff como sucessor de Horst Köhler, que renunciou ao cargo no final de maio último. Wulff se torna assim o décimo presidente da República Federal da Alemanha. Sua posse está marcada para a próxima sexta-feira.
CA/apn/rtr/dpa
Revisão: Roselaine Wandscheer