Cidades minguantes
6 de dezembro de 2005A exposição Cidades Minguantes, que acontece em Halle e em Leipzig, de novembro último a 29 de janeiro de 2006, marca o encerramento do projeto homônimo iniciado pela Fundação Federal da Cultura (Kulturstiftung des Bundes) e a Fundação Bauhaus para estudar e dar sugestões à resolução de um dos problemas que mais assola a antiga Alemanha Oriental (RDA).
Segundo dados da Fundação Federal da Cultura, a situação é dramática: 1,3 milhão de moradias estão abandonadas na ex-RDA; em 2030, este número deverá subir a dois milhões. Desde 1991, mais de um milhão de pessoas abandonaram o Leste alemão, onde o índice de desemprego gira em torno dos 20%.
O Departamento de Estatística da Saxônia informa, por sua vez, que a população do Estado diminuiu em 600 mil nos últimos 15 anos. Leipzig e Dresden já perderam mais de 10% de sua população e, em cidades menores, como Hoyerswerda, quase metade da população já arrumou suas malas.
A projeção de dados de institutos governamentais aponta para a perda de cinco milhões habitantes por parte do Leste alemão até 2050.
Fenômeno mundial
O projeto governamental Cidades Minguantes tematiza, pela primeira vez em termos internacionais, um forma de desenvolvimento urbano que já se tornou um fenômeno mundial, característico de regiões de industrialização antiga.
Desde o outono europeu de 2002, estão sendo estudadas as regiões de Detroit (Estados Unidos), Manchester/Liverpool (Reino Unido), Ivanovo (Rússia) e a região de Halle/Leipzig na Alemanha.
O projeto divide-se em três partes. A primeira trata da pesquisa e documentação dos casos; a segunda abrange os projetos e sugestões para intervenção urbana nas cidades minguantes; e a terceira leva ao público, através de exposições e livros, os conhecimentos adquiridos sobre o tema.
Especificidades regionais
Os estudos de Cidades Minguantes demonstraram que, às diversas regiões, corresponde um determinado fator de redução populacional: a desindustrialização, a suburbanização e a "mudança pós-socialista".
Nas regiões britânicas de Manchester, Sheffield e Liverpool, o encolhimento urbano é causado principalmente pelo fenômeno da desindustrialização.
Em Detroit é a suburbanização que fez com que 80% da cidade se concentrasse nos bairros periféricos, deixando o centro vazio.
Nas antigas cidades socialistas da Rússia e da Alemanha, a drástica diminuição populacional é fruto da "mudança pós-socialista". O resultado desta mudança foi o desmonte dos antiquados parques industriais e a evasão de empregos que provocaram, além do êxodo urbano, a diminuição do índice de natalidade em até 50% nos últimos 15 anos, como é o caso da parte oriental de Berlim.
Por outro lado, em cidades como Manchester, Sheffield e Detroit, este fenômeno provocou mudanças que não necessariamente são negativas, como o nascimento de movimentos que deram o tom da cena musical desde os anos 70 (punk, house e tecno).
O cenário é todavia triste nos plattenbauten, as construções pré-fabricadas que deram nome aos conjuntos habitacionais do Leste alemão.
A lei da selva
Com exceção dos plattenbauten localizados em regiões nobres, como o bairro berlinense de Friedrichshain, a renovação promovida pelo governo até o final dos anos 90 não deu o resultado esperado.
Principalmente os mais jovens e dispostos abandonaram as habitações, revitalizadas ou não, em busca de trabalho, principalmente nos Estados da antiga Alemanha Ocidental. Sobrou uma população de velhos e estrangeiros, atraídos pelos baixos aluguéis.
Paradoxalmente, a maciça subvenção governamental dos anos 90 provocou ainda mais o esvaziamento dos centros urbanos. Como em Detroit, quem pôde preferiu mudar-se para habitações modernas nos subúrbios das cidades, onde também reina a construção de shopping centers.
E este êxodo habitacional também tem uma outra conseqüência: o abandono do espaço público, onde praças, playgrounds, escolas e creches perdem o sentido. O "ir embora" dos alemães orientais é tão forma de protesto quanto a destruição do espaço público dos subúrbios franceses.
A impotência do urbanismo
O projeto Cidades Minguantes traz uma constatação e uma conclusão interessante.
A constatação é que este encolhimento caracteriza algo fundamental: o fim do período histórico de crescimento urbano e populacional impulsionado pela industrialização.
A conclusão é que uma reforma urbana em termos construtivos é neste caso pouco eficiente.
O projeto propõe a utilização dos chamados "instrumentos suaves de ação", ou seja, o fortalecimento do desenvolvimento cultural, das formas de comunicação e dos laços sociais dentro das comunidades.
Talvez, assim, os alemães do Leste parem de ir atrás do capitalismo e deixem que ele finalmente venha até eles, pois, parafraseando a teórica marxista Rosa Luxemburg, na antiga Alemanha Oriental, ele encontrará um dos componentes que mais precisa para desenvolver-se: espaço.