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Cientistas alertam para risco de manipular clima

5 de abril de 2018

Pesquisadores de países em desenvolvimento, entre eles o Brasil, fazem apelo para estarem à frente da geoengenharia. Argumento é de que seus territórios sofreriam mais com efeitos incertos de uma tecnologia controversa.

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Cientistas estudam cobertura atmosférica artificial que poderia proteger os países mais vulneráveis no hemisfério sul
Cientistas estudam cobertura atmosférica artificial que poderia proteger os países mais vulneráveis no hemisfério sulFoto: AP

Um grupo de cientistas de países em desenvolvimento, como o Brasil, lançou um apelo para que tenha maior participação nas pesquisas de geoengenharia solar – o conceito de que, com a tecnologia, é possível fazer intervenções diretas no clima da Terra, reduzindo os impactos, por exemplo, do aquecimento global.

Controversa no mundo científico, a geoengenharia solar, inspirada nas grandes erupções vulcânicas que provocam o esfriamento da superfície terrestre ao encobrir o sol com uma camada de cinzas, é tradicionalmente dominada pelos países mais ricos, em universidades como Oxford, no Reino Unido, e Harvard, nos Estados Unidos.

A instituição americana realiza sua própria experiência em geoengenharia solar, chamada de "efeito estratosférico de perturbação controlada", que envolve a utilização de um balão para liberar aerosol na atmosfera a uma altitude de 20 quilômetros, o que poderia alterar as propriedades de reflexão na cobertura das nuvens.

Leia mais: Os riscos da manipular o clima pela geoengenharia

Agora, 12 pesquisadores de países como o Brasil, Bangladesh, China, Etiópia, Índia, Jamaica e Tailândia publicaram um artigo na revista científica Nature, afirmando que os países mais pobres são os mais vulneráveis ao aquecimento global e que, por isso, deveriam estar mais envolvidos nas pesquisas para evitar o problema.

Segundo argumentam os autores do estudo na Nature, as consequências de intervenções no clima ainda são incertas, mas os países mais afetados - positiva ou negativamente - seriam os em desenvolvimento.

"Os países em desenvolvimento hoje estão excluídos da pesquisa em geoengenharia, que está sendo feita quase totalmente nos países ricos. No entanto, os impactos de qualquer técnica dessas ainda envolvem muitas dúvidas - e a única certeza é os países em desenvolvimento sofreriam mais intensamente com esses impactos", disse o físico brasileiro Paulo Artaxo, da Universidade de São Paulo, que participa da equipe internacional de cientistas, ao jornal O Estado de S. Paulo.

"A ídeia inicial é bastante maluca, mas aos poucos vai criando raízes no mundo das pesquisas", diz o pesquisador Atiq Rahman, chefe do Centro de Estudos Avançados de Bangladesh.

Os cientistas pretendem avaliar os impactos regionais da geoengenharia solar em fenômenos naturais como secas, enchentes ou monções. Uma das ideias prevê a utilização de aviões que espalhariam nuvens de partículas refletoras de sulfato em grandes altitudes da atmosfera. "A técnica é controversa, e deve de fato ser. Ainda é cedo para saber quais efeitos poderá ter. Poderá ser bastante útil ou danosa", disseram os cientistas.

O relatório de um painel da ONU de especialistas em clima, vazado à imprensa antes de sua publicação em outubro, lança dúvidas sobre a geoengenharia solar, afirmando que poderá ser "economicamente, socialmente e institucionalmente inviável".

Entre os riscos citados pelo relatório, estão uma possível perturbação de padrões meteorológicos, a dificuldade de pôr fim ao processo após iniciado, além de o potencial que o uso da tecnologia teria para desencorajar alguns países a substituir os combustíveis fósseis por energias limpas.

Rahman observa que a maioria dos países em desenvolvimento “falhou de modo abissal" em suas promessas de reduzir as emissões dos gases causadores do efeito estufa, fazendo com que opções mais radicais para reduzir o aquecimento global se tornem mais atraentes. 

Ele afirma que o mundo caminha para um aumento de temperatura de 3ºC ou mais em relação aos níveis pré-industriais, muito abaixo da meta de manter essa elevação abaixo de 2ºC, prevista no Acordo do Clima de Paris, de 2015.

RC/rtr/ots

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