Clima: avanço em passos de tartaruga
10 de dezembro de 2005Na verdade, o mundo não tem tempo a perder. O combate às mudanças climáticas é uma luta de vida e morte. Trata-se de dois graus centígrados. Uma ninharia para alguns, talvez. Mas o dado é dramático.
Não há como dar conta de mais do que esses dois graus de aquecimento. Só assim – diz a maioria dos pesquisadores – dá ainda para controlar mais ou menos as conseqüências das mudanças. E elas já se fazem sentir hoje: catástrofes naturais drásticas, multiplicação das secas, derretimento das geleiras.
Diante disso, era a enorme a pressão para que a Conferência de Montreal tivesse sucesso. O Protocolo de Kyoto, aprovado há oito anos e no qual o países industrializados se comprometem a reduzir a emissão de gases causadores do efeito estufa, tem prazo até 2012. Dar um impulso para que se iniciem a tempo negociações para um novo protocolo – foi isso que se conseguiu em Montreal.
O resultado pode ser visto como um sucesso, principalmente pelos europeus. O consenso sinaliza ao setor econômico maior garantia para seus investimentos. O bem-sucedido projeto europeu do comércio de emissões vai ter continuidade.
Correlações complexas
Outro fator positivo a ser computado é que os países em desenvolvimento vão ser inseridos nesse processo com maior intensidade do que até agora. E isso sem a imposição de condições, já que os países do Sul são os que mais sofrem com as mudanças climáticas, embora sejam os que menos contribuíram para essa situação.
Mas é claro também que, sem esforços pela proteção do clima, todos os empenhos para o combate à pobreza são vãos e os avanços já obtidos neste sentido, aniquilados.
Os debates em Montreal evidenciaram uma vez mais a complexidade das correlações existentes: sem desenvolvimento, não há crescimento. Sem crescimento, não há bem-estar. Mas, sem que o meio ambiente seja levado em consideração, de nada adianta todo o crescimento.
É preciso portanto encontrar um caminho sensato – também entre instrumentos reguladores e instrumentos da economia de mercado.
Fator financeiro
Nesse meio tempo, os mercados financeiros descobriram o tema da proteção do clima – ainda que se preocupem no momento somente com o financiamento dos prejuízos conseqüentes, que se tornam cada vez mais gigantescos.
Mas um número crescente de empresas já reconhece que as mudanças climáticas as atingem também em suas raízes – e que, afinal, é possível fazer bons negócios com a proteção do clima.
Em Montreal, os Estados Unidos uma vez mais se recusaram a reconhecer esses fatores. Em conversas reservadas, sua atitude era alvo de críticas. No final, para não ficarem totalmente isolados, eles acabaram concordando com uma declaração da qual foram retiradas todas as formulações contundentes.
Sinais de esperança
Por sorte há os que permitem que se tenha esperança: 190 prefeitos de cidades norte-americanas com um total de 60 milhões de habitantes já implementaram em suas cidades medidas para a proteção do clima. A mesma iniciativa foi tomada também por uma aliança formada por nove Estados federais que, juntos, constituem o décimo maior emissor de gases causadores do efeito estufa no mundo.
A esperança dos ambientalistas é que aumente a pressão interna sobre a administração Bush – e que haja uma mudança na Casa Branca, após as eleições de 2008.
O que resta, após as duas semans de Montreal? O Protocolo de Kyoto vai ser levado adiante – com a consciência de que as mudanças climáticas já são uma realidade. Mas também ficou claro que o caminho é árduo e pedregoso. A proteção do clima não se mede apenas em graus, mas também em milímetros.