Coalizão dos dependentes
23 de março de 2003O presidente norte-americano George W. Bush não cansou de anunciar "um amplo apoio internacional" à guerra no Iraque. E, aparentemente, ele conta com esse apoio. É questionável, porém, que o principal interesse dos "voluntários" realmente seja o "desarmamento imediato" de Saddam Hussein.
O diretor da Fundação de Pesquisas sobre Paz e Conflitos de Hessen (HSFK), Hans Joachim Schmidt, está convencido de que a maioria dos países espera uma compensação política e econômica por seu apoio. "À exceção da Grã-Bretanha, principal aliada dos EUA, eles praticamente não têm influência sobre os rumos do conflito", disse Schmidt à DW-WORLD.
Solidariedade como única opção
Segundo Schmidt, somente os EUA, a Grã-Bretanha e a Espanha têm motivos de guerra que vão além de interesses materiais. "O que une os três é a consciência de uma missão de caráter religioso", afirma. As demais nações estariam interessadas apenas em provar que são fiéis aliadas da superpotência norte-americana.
Essa avaliação é partilhada também por Ulrike Borchardt, do Grupo de Pesquisa sobre Causas das Guerras (AKUF), da Universidade de Hamburgo. "Muitos países não têm outra alternativa, a não ser se solidarizarem com os Estados Unidos", disse, em entrevista à DW-WORLD. Seria o caso, por exemplo, do Afeganistão, "que ainda depende da ajuda financeira e militar dos EUA". Também a sobrevivência política de governos como o da Colômbia depende dos EUA. O presidente colombiano Alvaro Chaves enfrenta a guerrilha e a máfia da droga com o apoio militar norte-americano.
Outras nações, como o Usbequistão, pretendem fortalecer suas próprias posições. Segundo Schmidt, o Usbequistão quer exercer um papel de liderança na Ásia Central e espera que os EUA instalem bases militares permanentes no país. Expectativas semelhantes seriam alimentadas pelo Azerbaidjão e a Geórgia. "Além disso, nota-se aqui um clima de relações tensas entre as repúblicas da ex-União Soviética e a Rússia. Principalmente, a Geórgia costuma assumir uma posição anti-russa", diz Borchardt.
Efeitos retardados da guerra fria
Impressionante é o grande número de países do Leste Europeu na lista dos "voluntários". Entre eles, os candidatos ao ingresso na União Européia Polônia, Romênia, República Tcheca, Hungria, Eslováquia, Estônia e Lituânia sinalizaram seu apoio à coalizão de Bush.
A Polônia já foi duramente repreendida pelo presidente francês Jacques Chirac, por sua política excessivamente pró-americana, a poucos meses da assinatura do tratado de ampliação da UE. Segundo Borchardt, para os países do ex-bloco comunista os Estados Unidos apresentam-se, no momento, como parceiro mais confiável do que a "desunida" UE. "Isso já causou enormes estragos também no processo de ampliação da União Européia", afirma Schmidt.
Este pode ser também o motivo pelo qual a Bulgária, que vinha apoiando abertamente os EUA no Conselho de Segurança da ONU, não aparece na lista dos "voluntários". Talvez o país não queira complicar ainda mais suas relações com a UE.
Já a explicação para a adesão do Japão à coalizão dos voluntários seria outra. Segundo Schmidt, o país vê a China e a Coréia do Norte cada vez mais como ameaça e, por isso, resolveu unir-se ao seu ex-inimigo da Segunda Guerra Mundial, ao lado da Coréia do Sul. "Os japoneses apostam nos EUA como mediadores do conflito da Coréia do Norte", diz Schmidt.
"Voluntários" sem nome
A Bulgária não é a única nação pró-americana que falta na lista da coalizão dos voluntários. Os países árabes também não são mencionados, apesar de se saber que Jordânia, Egito, Kuwait, Omã, Arábia Saudita e Catar apóiam os EUA, permitindo o uso de seu espaço aéreo ou a operação de bases militares norte-americanas em seus territórios. Schmidt acredita que o governo dos EUA evitou mencionar publicamente os nomes desses países, temendo protestos da população islâmica na região. Eles provavelmente fazem parte de uma espécie de "lista B" formada por cerca de 15 apoiadores "extra-oficialmente", que o Departamento de Estado norte-americano não pretende divulgar.