Colônia tem museu exemplar sobre nazismo
11 de agosto de 2005
Sessenta anos após o fim da Segunda Guerra Mundial, os memoriais e centros de documentação alemães intensificam o debate sobre o período nazista. Uma das instituições que vem se destacando internacionalmente nesse sentido é o Centro de Documentação do Nazismo (EL-DE-Haus) em Colônia.
Construída nos anos de 1934/35 e transformada em centro do documentação em 1997, a casa recebeu 35 mil visitantes no ano passado, dez mil a mais que no ano anterior. Um dos motivos pelos quais desperta tanto interesse é a autenticidade de suas instalações, na antiga sede da polícia secreta do nazismo (Gestapo) para a região de Colônia e Aachen.
O ponto de partida das visitas é o porão, que era a "prisão domiciliar" da Gestapo, construída por prisioneiros em 1935. As celas foram mantidas no estado em que se encontravam em 1945, o que é excepcional na Alemanha. Inúmeras inscrições nas paredes documentam o sofrimento dos prisioneiros e revelam mais sobre o terror nazista do que montanhas de livros de História. Nos andares superiores, os escritórios dos espiões transformados em salas de exposição lembram o terror burocrático.
Detentor de vários prêmios nacionais e internacionais, o museu possui em seu acervo 25 mil fotografias das atrocidades do nazismo, catalogadas num banco de dados – outras cinco mil ainda estão por catalogar. Além de uma ampla biblioteca, dispõe de salas de trabalho e de mídia, preparadas para receber grupos de 15 a 20 pessoas.
Uma exposição permanente documenta a história do nazismo em Colônia. Na Biblioteca dos Sobreviventes, disponibilizada na internet, pessoas que escaparam ao Holocausto têm a oportunidade de publicar trechos de suas biografias.
Confronto com a História
"Antes de ter visto isso, não era bom só falar da destruição ocorrida na Segunda Guerra. Aqui eu vi que há museus que mostram o que realmente aconteceu. Acredito que é realmente bom saber isso", diz o jovem indiano Devin, que antes de visitar o EL-DE-Haus tinha tido algumas horas de aula sobre o nazismo.
O culto a Hitler na Índia resiste inclusive na elite intelectual e é um fenômeno suspeito. Uma pesquisa feita em 2002 pelo St. Stephen's College em Nova Délhi revelou que, para 60% dos estudantes entrevistados, Adolf Hitler foi a pessoa mais admirável do mundo.
Os memoriais e centros de documentação na Alemanha também costumam confrontar os visitantes estrangeiros com questões fundamentais sobre o desprezo humano dos nazistas, os criminosos e oportunistas e com o fascínio pelo culto ao führer.
Humanidade não aprende
O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, disse em certa ocasião que "a tragédia do povo judeu foi singular. Mas, desde o Holocausto, o mundo vergonhosamente falhou mais de uma vez quando se tratou de impedir ou conter um genocídio". Ele citou os exemplos do Camboja, Ruanda e ex-Iugoslávia.
"No Camboja, há organizações que preservam os documentos, gravam depoimentos de testemunhas e tudo o mais, para a História e, eventualmente, para um julgamento do Khmer Vermelho. Mas nós deveríamos fazer mais. Nossas organizações e as entidades estrangeiras que as apóiam deveriam vir aqui para aprender da Alemanha e de seus mais variados centros de documentação", diz o monge cambojano Jos Hut Khemacaro, após uma visita ao EL-DE-Haus.
O centro de documentação de Colônia tem bons contatos internacionais com outras instituições, tanto em Israel quanto nos Estados Unidos e países da ex-União Soviética. Também na Rússia, há tentativas de fazer uma elaboração crítica da História, sobretudo o passado comunista do país.
Em 1992, foi aberto um memorial e centro de informação científica em São Petersburgo, que investiga a repressão política na ex-União Soviética. Em visita ao EL-DE-Haus, a diretora da instituição, Irina Flige, disse que "na Rússia, a história dos campos de concentração soviéticos (Gulag) ainda não se incorporou ao ideário nacional. Não há no país nenhum museu estatal sobre o Gulag ou o terror de Estado. Para nós, é muito importante ver como outros países lidam com sua história".
Amnésia e simplificação histórica
Uma pesquisa representativa realizada em 1999 revelou que 20% dos alemães entre 14 e 17 anos não sabiam o que significou Auschwitz. Também nos Estados Unidos, a consciência histórica parece questionável, diz Nancy Brendlinger, professora de Jornalismo da Universidade de Ohio.
Ela admite que a versão da Segunda Guerra transmitida aos estudantes é bastante simplificada: "Os nazistas eram maus, os aliados, bons. Os nazistas exterminaram judeus. E é isso que os nossos estudantes sabem; eles não conhecem detalhes. Quando pensam no Holocausto, eles têm em mente os judeus e não se lembram dos poloneses e rom, dos deficientes e de todas as outras pessoas que foram parte do Holocausto".