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Brasil lidera em investimento estrangeiro na América Latina

Fernando Caulyt24 de junho de 2015

ONU registra recuo de 2,3% em 2014, situação menos grave que médias mundial e da América Latina. Para analista, impacto do pacote de concessões do governo deve ser lento.

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Foto: picture-alliance/dpa

Pelo terceiro ano consecutivo, o Brasil apresentou uma ligeira diminuição na entrada de investimentos estrangeiros diretos (IEDs) em 2014, afirmou a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad) nesta quarta-feira (24/06), em seu relatório anual World Investment Report 2015.

Apesar da queda de 2,3% em comparação a 2013, o Brasil – que atraiu 62,5 bilhões de dólares em 2014 – continua sendo o primeiro destino de IEDs na América Latina. A queda dos investimentos no Brasil foi inferior à média da América Latina e Caribe (-14%, para 159 bilhões de dólares) e mundial (-16%, para 1,23 trilhão de dólares).

O relatório afirma que a China (128 bilhões de dólares) passou a ser o maior receptor de IEDs em 2014, seguida por Hong Kong (103,3 bilhões) e pelos Estados Unidos (92,4 bilhões). O grupo de economias em desenvolvimento atraiu 681 bilhões de dólares e segue sendo o que recebe a maior proporção dos investimentos mundiais. Cinco dos dez principais receptores de IEDs são economias em desenvolvimento: China, Hong Kong, Cingapura, Brasil e Índia.

De acordo com o documento, as regiões que se destacaram positivamente no mundo em 2014 foram: Leste e Sudeste da África, que recebeu 381 bilhões de dólares (+9,6% em comparação a 2013 / participação mundial de 31%) e Sul da Ásia, com 41,2 bilhões (+16% / 3,4%).

Por outro lado, os negativos foram: África, 54 bilhões (-0,1% / 4,4%); Ásia Ocidental, 43 bilhões (-3,7% / 3,5%); economias em transição, 48,1 bilhões (-51,7% / 3,9%) e países desenvolvidos, 498,8 bilhões (-28,4% / 40,6%).

De acordo com os dados da Unctad, o Brasil apresentou uma forte queda dos investimentos no setor agropecuário (de 58%, para 7 bilhões de dólares). Por outro lado, os setores de indústria e serviços compensaram esse recuo com aumentos de 5% (para 22 bilhões de dólares) e 18% (para 33 bilhões de dólares), respectivamente.

Dilma Rousseff
Governo Dilma espera obter 198 bilhões de reais por meio das concessões de infraestruturaFoto: Wilson Dias/ABr

Pacote de concessões do governo

No início de junho, a presidente Dilma Rousseff anunciou um pacote de concessões de 198 bilhões de reais com o objetivo de atrair investimentos privados para a modernização de estradas, ferrovias, aeroportos e portos. O plano inclui a construção da Ferrovia Transoceânica, que ligará o Brasil ao Oceano Pacífico e será financiada pela China.

O governo federal espera obter 86,4 bilhões de reais em investimentos em ferrovias, 66,1 bilhões em estradas, 37,4 bilhões em portos e 8,5 bilhões em aeroportos. Do total de recursos previstos, 69,2 bilhões de reais serão investidos entre 2015 e 2018. A partir de 2019, o programa prevê investimentos de 129,2 bilhões de reais.

Apesar de os primeiros investimentos estarem previstos já para 2015, o analista Marcos Troyjo, diretor do BRICLab da Universidade de Columbia, nos EUA, diz que o impacto do pacote de concessões sobre os IEDs no país será mais lento do que o governo espera.

"Intervenções recentes em políticas de preços na eletricidade, gasolina, o sucateamento político das agências reguladoras e a inflexibilidade nas regras de conteúdo local continuam a desestimular os investidores", afirma Troyjo. "Recuperar a confiança demanda tempo e inflexão de rumo por parte do governo e tudo isso torna mais lenta a recuperação dos investimentos."

Ele lembra que haverá um significativo lote de investimentos chineses em infraestrutura. Porém, esses investimentos serão efetivados num ritmo mais lento do que desejaria o governo federal, já que muitos projetos, como a Ferrovia Transoceânica, dependem de estudos de viabilidade e licenças ambientais que ainda não estão assegurados.

Para o especialista, o fluxo de investimentos no país vai passar por um "rescaldo". Por um lado, há a continuação dos investimentos por parte de empresas que se estabeleceram ou ampliaram as operações no Brasil entre 2010 e 2011. Por outro, o fraco desempenho da economia, particularmente nos últimos seis meses, tem funcionado como um freio a novos fluxos de IEDs.

"Ao final de 2015, essas fontes devem, de certa forma, se compensar, e estimo que o fluxo de IEDs fique pouco abaixo de 60 bilhões de dólares. Poderia ser muito mais, mas, dadas as circunstâncias brasileiras, não é de todo ruim", afirma o especialista.

América Latina e Caribe

De acordo com a Unctad, após quatro anos consecutivos de crescimento, os IEDs na América Latina e Caribe diminuíram 14% em 2014, para 159 bilhões de dólares.

Segundo o relatório, a queda se deve, principalmente, a uma diminuição de 72% das fusões e aquisições estrangeiras na América Central e Caribe, e à redução dos preços das commodities, que afetou negativamente o investimento nas indústrias extrativas da América do Sul.

A diminuição foi registrada em ambas regiões, mas foi maior na América Central e no Caribe (de 36%, para 39 bilhões de dólares), onde as correntes de investimentos regressaram aos seus valores normais após os altos níveis alcançados em 2013 devido à aquisição internacional de grande envergadura da indústria cervejeira mexicana.

Os investimentos na América do Sul continuaram diminuindo pelo segundo ano consecutivo, em 4%, para 121 bilhões de dólares. Todos os maiores países receptores, salvo o Chile, registraram um crescimento negativo dos IEDs: Argentina (-41%), Colômbia (-1%), Peru (-18%) e Venezuela (-88%) são alguns dos destaques negativos.

Os chilenos recuperaram sua posição como segundo maior destino de IEDs na região – os investimentos aumentaram 38,4%, para 22,9 bilhões de dólares, impulsionados pelos níveis excepcionalmente elevados das vendas realizadas através de fusões e aquisições internacionais, que se triplicaram e corresponderam a 9 bilhões de dólares.

Já o México foi o terceiro maior receptor em 2014, embora os IEDs tenham sido reduzidos quase à metade, a 22,8 bilhões de dólares, após uma queda das vendas internacionais depois de alcançarem níveis excepcionais em 2013. A tendência se intensificou em 2014, quando a AT&T, dos EUA, retirou 5 bilhões de dólares de sua participação da América Móvil.