Com novo secretário do Tesouro, Obama mira dívida pública
11 de janeiro de 2013Jack Lew é o homem para uma nova era. Mesmo que a aparência discreta deste político de 57 anos, de óculos redondos e franja repartida para o lado, pareça dizer o contrário. Seus antecessores, Timothy Geithner, o antigo presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA), e Henry Paulson, ex-presidente do banco de investimentos Goldman Sachs, eram considerados a ligação personificada de Wall Street com a Casa Branca.
Com Jack Lew é diferente. Além de uma curta passagem por Wall Street, onde trabalhou no Citigroup, entre 2006 e 2009, o nomeado por Obama para a pasta do Tesouro não tem qualquer experiência digna de nota no mais importante centro financeiro do mundo.
Em vez disso, Lew quase encarna com perfeição o tipo tecnocrata, conhecedor dos meandros de Washington. O nova-iorquino dirigiu, em duas ocasiões, o Office of Management and Budget (OMB), importante órgão orçamentário do presidente, na gestão de Bill Clinton e na de Obama. Quando jovem, colheu experiência política em Washington, como consultor do democrata Tip O'Neill, lendário presidente da Câmara dos Representantes. Um ano atrás, Obama fez dele seu chefe de gabinete. Agora, ele confia a Lew o centro nervoso de seu governo.
Política fiscal é prioridade
"Com sua escolha, fica claro onde está o cerne do problema atual: o alto endividamento, que pode ser controlado pela futura política fiscal", analisa Monika Merz, professora de economia da Universidade de Viena. Ela observa que os problemas mais urgentes do primeiro mandato de Obama foram resolvidos. Desde a assinatura pelo presidente da chamada lei Dodd-Frank, no verão de 2010, a crise financeira está politicamente sob controle, no entendimento da administração Obama. Afinal, a economia americana pode não estar a pleno vapor, mas, em contraste com a zona do euro, também não enfrenta mais uma recessão.
Agora Jack Lew é quem deverá resolver a tarefa mais difícil dos Estados Unidos, há anos empurrada com a barriga por Washington: sanear o orçamento do Estado e controlar a ânsia de endividamento do país.
"Para o papel que ele deve desempenhar na política interna em questões orçamentárias, essa é uma excelente escolha", elogia Mark Hallerberg, professor de economia política da Hertie School of Governance, em Berlim. "Ele [Lew] está muito familiarizado com questões de orçamento."
Com a saída de Geithner e a nomeação de Lew, Obama sinalizou, de acordo com os especialistas, sobretudo sua vontade de finalmente resolver o problema de consolidação fiscal. E por uma boa razão, diz Merz: "Se os EUA não controlarem seu orçamento e também o sério problema das dívidas, os mercados financeiros vão reagir".
Sem período de carência
Lew não tem muito tempo para cumprir sua missão. No final de fevereiro, provavelmente o teto da dívida será atingido. Se nenhuma solução for encontrada, mesmo os drásticos cortes de gastos evitados há algumas semanas pelo chamado "acordo do abismo fiscal" podem entrar em vigor. A saída para ambos os problemas requer não apenas conhecimento detalhado em matéria de números, mas também habilidade de negociação política com os republicanos, que são maioria na Câmara dos Representantes.
"Seu trabalho é representar o governo nas negociações sobre o orçamento, e nessa área ele parece ser muito bem-sucedido", diz Hallerberg. "Ele não fez isso somente em 2011, mas já esteve envolvido nas negociações sobre o orçamento na década de 1990, durante a gestão Clinton."
Segundo especialistas, Lew é um tático experiente que defende com afinco os interesses dos democratas e luta contra cortes em programas sociais, como os exigidos pelos republicanos. "Se nas próximas negociações for alcançado o esperado mas difícil pacote amplo de acordos, abrangendo cortes de gastos e aumentos de impostos, Lew terá sido, com certeza, um de seus arquitetos", afirma Hallerberg.
Foco nos EUA
A mudança representada pela troca de Geithner por Lew também não vai passar despercebida entre os ministros das Finanças europeus. Em contraste com o ainda ministro Geithner, que nos últimos anos ocasionalmente acusava Berlim e Bruxelas de cometerem erros na gestão da crise, de seu sucessor é esperado um tom mais moderado.
"Sua preocupação é com os EUA", ressalta Hallerberg. "Não sei nem mesmo se ele tem alguma experiência internacional", acrescenta. "Claro que Lew vai estar nas cúpulas financeiras internacionais mais importantes e dirá o que tem de dizer", observa o economista. "Mas esta não será sua prioridade."
Autor: Michael Knigge (md)
Revisão: Francis França