Comentário de Trump sobre muçulmanos gera indignação
8 de dezembro de 2015As declarações polêmica do pré-candidato republicano Donald Trump, sugerindo a proibição da entrada de muçulmanos nos Estados Unidos, gerou nesta terça-feira (08/12) uma série de reações indignadas, inclusive por parte de seus correligionários.
Na segunda-feira, durante um discurso de campanha, Trump defendeu um bloqueio "total e completo" da entrada de muçulmanos no país, após o massacre ocorrido na semana passada em San Bernardino, na Califórnia, atribuído a um casal muçulmano supostamente radicalizado.
"Não temos escolha", afirmou o pré-candidato. "Isso vai piorar cada vez mais. Teremos mais World Trade Centers", disse, se referindo aos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001. "[Temos que] impedir total e completamente que muçulmanos entrem nos Estados Unidos, até que as autoridades possam entender o que está acontecendo."
A agência da ONU para refugiados (Acnur) afirmou que as declarações poderão, inclusive, prejudicar o programa americano de acolhimento a refugiados sírios e de outros países, que fogem de guerras e perseguições.
A porta-voz da Acnur Melissa Fleming afirmou que "a retórica utilizada na campanha eleitoral põe em risco um programa extremamente importante de realocação, voltado ás pessoas mais vulneráveis: as vítimas de guerras que o mundo não consegue deter".
Adversários de Trump dentro do próprio Partido Republicano condenaram suas declarações. O pré-candidato Jeb Bush acusou a falta de seriedade das propostas políticas do bilionário. Outros concorrentes do partido à candidatura presidencial, como Marco Rubio, John Kasich, Chris Christie e Lindsey Graham, também rejeitaram a proposta de Trump.
Repúdio generalizado
A pré-candidata do Partido Democrata Hillary Clinton declarou que a fala de Trump é "condenável, preconceituosa e polarizadora". "Você simplesmente não entende", afirmou em seu perfil no Twitter. "Isso nos deixa menos seguros." Outro pré-candidato democrata, Martin O'Malley, disse que Trump concorre à presidência na condição de um "fascista demagogo".
O porta-voz da Casa Branca Josh Earnest disse que Trump "joga com o medo das pessoas para tentar angariar apoio à sua campanha".
O governo britânico também condenou as declarações do republicano. Um porta-voz do primeiro-ministro David Cameron afirmou que o líder conservador considera os comentários "desnecessários e simplesmente equivocados".
Joel Millman, porta-voz da Organização Internacional para Migrações (OIM), disse: "O preconceito e a discriminação com base na religião é contra todas as convenções que conhecemos, em termos de ajuda a pessoas em emergências humanitárias e, claro, de realocação."
Nihad Awad, diretor-executivo do Conselho das Relações Americo-Islâmicas, que defende os direitos dos muçulmanos, se disse "ofendido" pelos comentários, "vindos de alguém que deseja assumir o posto mais alto do país". "É irresponsável e antiamericano. Ele soa mais como um líder de um grupo de linchamento do que de uma nação como a nossa."
O diretor do centro islâmico da cidade de Jersey acusou o pré-candidato de incitar o ódio e a violência. "Peço, imploro que pare. Essas acusações têm que parar. Olhe para a comunidade muçulmana como parte do mosaico americano: somos parte da América. Não vamos a lugar algum."
RC/rtr/afp/ap