Como a Turquia acompanha o caso Böhmermann
16 de abril de 2016Reagindo à autorização da chanceler federal alemã, Angela Merkel, para a abertura de um inquérito contra o humorista Jan Böhmermann, a maior parte dos veículos de imprensa online turcos adotou uma linha discreta, evitando artigos de opinião explícitos.
Quase já antecipando o resultado de um processo por injúria, a agência estatal de notícias Anadolu Ajansı apenas anunciou a permissão, pronunciada por Merkel nesta sexta-feira (15/04), da ação jurídica contra Böhmermann, "que com seu poema ofendeu o presidente turco Recep Tayyip Erdogan".
Em tom objetivo, o diário Hürriyet aponta as divergências dentro do governo alemão: os ministros do Partido Social Democrata, o segunda na coalizão em Berlim, se pronunciaram contra a autorização para que a Justiça alemã submeta o humorista a inquérito.
Segundo a jornalista turca Tülin Daloglu, "muitas mídias ainda se comportam com cautela, pois ainda querem aguardar a decisão judicial". Seja como for, de um modo geral o caso não tem na Turquia o mesmo peso que na Alemanha, acrescentou Daloglu, depois de avaliar o noticiário atual de seu país, a pedido da DW.
Tons de triunfo, apoio incondicional da ZDF
Em contrapartida, o jornal Yeni Akit, ligado ao presidente turco e a seu partido conservador islâmico AKP, manifesta triunfo aberto com a manchete "Erdogan venceu: o bobo da Alemanha vai pagar". O Sabah, igualmente próximo a Ancara, comemora: "A injúria não ficará impune". E a emissora ATV fala de um "segundo choque para o palhaço impertinente da ZDF".
Na realidade, antes de qualquer veredicto, ainda cabe aos tribunais alemães decidir se sequer considerarão a queixa. Caso o apresentador de TV ZDF chegue às barras do tribunal, o diretor-geral da emissora, Thomas Bellut, promete apoiá-lo "através de todas as instâncias".
O eventual acusador de Böhmermann será Michael-Hubertus von Sprenger, representante do presidente Erdogan na Alemanha. O advogado é notório pelas figuras politicamente controversas entre seus mandantes, como o inglês negador do Holocausto David Irving – que Von Sprenger frisa só ter representado 25 anos atrás.
Mesmo alguns veículos de imprensa turcos críticos ao governo não pouparam um tom de aprovação ao posicionamento da chefe de governo alemã. "Merkel não pôde dizer 'não' a Erdogan", anuncia o periódico Diken. Também o Cumhuriyet saúda a "decisão certa".
Neste sábado, o humorista Jan Böhmermann anunciou que suspenderá temporariamente suas atividades televisivas. Ele diz ter decidido "fazer uma pequena pausa com a televisão, a fim de que a gigantesca esfera pública e a internet possam se concentrar nas coisas realmente importantes, como a crise dos refugiados, vídeos de gatos ou a vida amorosa da [jovem atriz alemã] Sophia Thomalla".
AV/rtr/afp/dpa