Como Messi acabou envolvido no conflito israelo-palestino
5 de junho de 2018O amistoso entre as seleções de Israel e Argentina, marcado para este sábado (09/06) em Jerusalém, causou reações negativas na comunidade palestina, que classifica a partida na cidade sagrada como uma provocação de cunho político.
No meio da discussão está o craque argentino Lionel Messi. Dezenas de crianças palestinas assinaram uma carta, na qual pedem que ele não dispute o amistoso. E o presidente da Associação de Futebol da Palestina (filiada à Fifa desde 1998), Jibril Rajoub, pediu aos fãs que queimassem camisas do atacante argentino.
"Esse jogo se tornou uma ferramenta política. Não é uma partida pela paz, mas uma partida política destinada a encobrir a ocupação fascista e racista", disse Rajoub, de acordo com divulgações da agência de notícias da Autoridade Palestina, Wafa.
O cartola também pediu a Messi para boicotar o amistoso na cidade reivindicada como capital por israelenses e palestinos. "Messi é um símbolo de paz e amor", disse, e dirigiu-se ao jogador: "Você tem dezenas de milhões de fãs nos países árabes e muçulmanos. Pedimos a todos que queimem as camisas que levam seu nome e pôsteres."
No domingo, Rajoub participou do protesto em frente à representação consular da Argentina na cidade de Ramallah. Há tempos que o presidente da Associação de Futebol da Palestina tem exigido sanções contra Israel, que mantém seis equipes da primeira divisão do Campeonato Israelense de Futebol (Ligat Ha'Al) baseados em assentamentos israelenses na Cisjordânia.
As crianças deslocadas de Malha
Além disso, um grupo formado por 70 crianças palestinas escreveu ao jogador argentino pedindo que não dispute o amistoso em Jerusalém. A carta foi entregue por Rajoub ao presidente da Associação do Futebol Argentino (AFA), Claudio Tapia.
"Estimado Lionel Messi, és uma lendária figura do futebol. Nós somos filhos de refugiados palestinos dos campos de refugiados de Qalandya, al-Am'ari, Yalazón e Aida", diz a carta, assinada pelas "crianças compulsoriamente deslocadas de Malha".
"Não sabemos se já ouviu falar dela [a cidade], mas temos certeza que vai ouvir, porque ,segundo nos disseram, você vai jogar com seus companheiros em Malha, num estádio construído sobre a nossa aldeia destruída", diz a carta, referindo-se ao Estádio Teddy Kollek, localizado na parte ocidental de Jerusalém. Os menores pediram que Messi não "desiluda seus corações".
Rajoub disse condenar o amistoso, por considerá-lo um apoio para "normalizar" a ocupação do Jerusalém Oriental, ocupada por Israel desde 1967, anexada de maneira unilateral em 1980 e que os palestinos reivindicam como capital de seu futuro Estado. Israel considera a cidade inteira como sua capital "indivisível". O presidente dos EUA, Donald Trump, irritou os palestinos ao instalar a embaixada de seu país em Jerusalém.
Ingressos esgotados para ver Messi e companhia
Em Israel, o amistoso é ansiosamente esperado e todos os 34 mil ingressos foram vendidos em apenas 20 minutos, perante a oportunidade de ver estrelas como Messi, do Barcelona, Sergio Agüero, do Manchester City, e Angel Di María, do Paris Saint-Germain.
O ministro de Cultura e Esporte de Israel, Miri Regev, disse, em entrevista a uma emissora de rádio israelense, que está programada uma visita de Messi ao Muro das Lamentações, lugar sagrado para os judeus. Regev comentou que a visita do craque argentino é uma vitória para Israel.
Este será o último amistoso preparatório da Argentina para a Copa do Mundo. Na Rússia, os bicampeões mundiais encabeçam o Grupo D, no qual enfrentarão a Islândia em 16 de junho, a Croácia em 21 de junho, e a Nigéria em 26 de junho.
Israel terminou em quarto lugar no Grupo 7 nas Eliminatórias europeias para a Copa do Mundo, atrás de Espanha, Itália e Albânia. A única participação de Israel em mundiais foi em 1970, no México, quando ainda disputava as Eliminatórias asiáticas. Logo em seguida, Israel foi expulso da Confederação Asiática de Futebol (AFC) e agora compete como membro da Uefa.
PV/afp/efe/dpa
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