Como o Oriente Médio acompanha as eleições nos EUA
20 de junho de 2016Nas últimas semanas, os democratas pareciam confiantes de que sua candidata, Hillary Clinton, ganharia as eleições em novembro, contanto que não acontecesse nada de extraordinário – ou seja, algo que pudesse ser capitalizado por Donald Trump, provável candidato republicano.
Mas foi isso que aconteceu, com o assassinato das quase 50 pessoas numa boate gay da Flórida. À frente do massacre esteve um muçulmano, e cientistas políticos árabes já se preocupam com a questão de como o resultado da eleição pode afetar o Oriente Médio.
Nos últimos anos, a maioria dos árabes não esteve muito satisfeita com a política externa dos EUA. O presidente Barack Obama teria se distanciado demais dos problemas da região – em particular, da guerra na Síria, na qual os Estados Unidos preferiram pouco interferir.
"Este distanciamento político e estratégico provavelmente mudará após as eleições", acredita o analista egípcio e diretor do canal de televisão Al-Araby em Washington, Mohamed Elmenshawy.
Caso Hillary Clinton saia vencedora, Elmenshawy aposta que ela seguirá uma política em relação à Síria diferente da de Obama. "Em relação a algumas coisas, ela agirá de forma mais resoluta", prevê. Ele afirma que ela deverá, por exemplo, ser menos relutante em armar rebeldes sírios moderados.
No entanto, Elmenshawy sublinha que ela não seguirá um curso fundamentalmente distinto, mas apenas definirá um tom diferente. "Isto simplesmente se deve ao fato de não haver interesse americano que justifique uma intervenção nesta guerra."
As previsões sobre política para o Oriente Médio se tornam mais difíceis no caso de vitória de Donald Trump, que tem se expressado de forma contraditória em sua campanha.
Mas é possível achar alguns pontos definidos. Trump foi questionado pela rede de televisão NBC como avalia os esforços dos países ocidentais para forçar uma saída do poder do presidente sírio, Bashar al-Assad. Ele respondeu que isso só iria aumentar o caos na região.
"Nós causamos caos na Líbia e no Iraque. Se Assad cair, a Síria irá na mesma direção." Ele também anunciou que, no caso de uma vitória eleitoral, vai deportar os refugiados sírios que vivem nos EUA.
Além disso, criticou a retirada das tropas americanas do Iraque, dizendo que os EUA não deviam ter deixado o país sem assegurarem antes as reservas de petróleo – considerando que o produto acaba indo diretamente para o Irã e também para o "Estado Islâmico".
"O EI tem muito dinheiro, porque tem muito petróleo – e simplesmente porque somos ingênuos", afirmou ele.
Prioridades mais claras
Como o resto dos países árabes na região, os Estados do Golfo também torcem por uma vitória de Hillary Clinton. "Na opinião deles, há vários pontos a favor da candidata democrata", lembra o cientista político Abdulkhaleq Abdulla, de Dubai.
Segundo Abdulla, Hillary não só tem grande experiência em política externa, mas também tem posições claras – independentemente do fato de concordarem ou não com elas. "Essa é a diferença dela em relação a Trump."
O especialista diz, além disso, que a política externa de Obama se caracterizou, sobretudo, por ele muitas vezes ter excluído opções militares. Para Abdulla, ao lidar com adversários dos Estados Unidos, como Irã e Cuba, Obama apostou em reforma e, ao mesmo tempo, se distanciou dos velhos amigos dos Estados Unidos.
"Uma coisa é certa: não importa quem vencer a corrida pela presidência, o futuro governante certamente vai seguir uma política externa com prioridades mais claras do que a de Obama. Isso vai ajudar a melhorar novamente a coordenação entre Washington e os governos árabes", avalia.
Segundo os analistas árabes, o resultado das eleições terá pouco impacto sobre a relação entre EUA e Israel. Até agora, todos os presidentes americanos enfatizaram sua amizade com Israel. Isso não vai mudar após a próxima eleição, segundo Abdulla. Mohamed Elmenshawy também prevê que Trump terá uma posição dura em relação aos palestinos, caso se eleja.
Já Hillary Clinton disse que acredita em uma solução de dois Estados. Ao mesmo tempo, ela reforçou sua amizade em relação a Israel. "Deverá ser difícil chegar a um acordo de paz duradouro entre Israel e palestinos", declarou em fevereiro.