Como o Tinder virou ferramenta eleitoral na França
7 de março de 2022
Mais de 200 anos após a Revolução Francesa, a democracia na França já viu dias melhores. Quando os franceses foram convocados para as eleições regionais em junho passado, a grande maioria dos jovens preferiu ficar em casa. A taxa de abstenção entre eleitores de 18 a 25 anos foi de 87% – recorde negativo para a faixa etária.
A tendência não é verificada somente nos pleitos regionais. Nas últimas eleições parlamentares em junho de 2017, o Ministério do Interior francês também registrou uma participação historicamente baixa. Menos de metade dos eleitores votou no primeiro turno.
Até agora, os partidos não encontraram meios eficazes de combater o cansaço eleitoral. Agora, o aplicativo de namoro Tinder deve pelo menos ajudar que a situação não piore. Para isso, a organização não governamental "A voté" (votou!) fechou uma cooperação com o aplicativo de namoro. A parceria visa eliminar os obstáculos que até agora impediam muitas pessoas de se deslocarem aos locais de votação.
Registros eleitorais
De acordo com um estudo, cerca de 7,6 milhões de franceses estavam registrados com informações desatualizadas nas listas de eleitores para a última eleição presidencial em 2017 – principalmente com um endereço antigo. Como resultado, os eleitores não puderam votar onde moram atualmente.
A desatualização dos dados afeta principalmente eleitores com menos de 30 anos, muitos dos quais há muito deixaram a casa dos pais, mas ainda constam como morando no endereço antigo.
Nas próximas semanas, o Tinder pretende levar vários milhões de usuários na França a pensar em seus registros eleitorais. Para fazer isso, ao deslizar o dedo sobre o perfil de namoro, o aplicativo mostra telas com informações em vez da próxima foto. "Se você está procurando um namoro perto de casa, vote também perto de casa", diz o texto.
Procurando o jogo político
As telas, por sua vez, estão vinculadas ao site da "A voté", que compilou informações práticas e explicações sobre os registros eleitorais. "Registros errados nas listas de eleitores são um obstáculo à votação que queremos eliminar", conta Dorian Dreuil, cofundador de "A voté".
Quando a lista de candidatos às eleições for encerrada, no início de março, e o prazo para inscrições nas listas de eleitores expirar, Tinder e "A voté" iniciam a segunda fase de sua campanha. Nas últimas semanas antes do pleito, o foco não será mais os registros eleitorais mas os candidatos.
O aplicativo de namoro usará telas que dizem: "Seu voto conta. Não traia suas convicções!". Na homepage de "A voté", entre outras coisas, será explicado o sistema de votação por procuração. Ele permite que os eleitores tenham seus votos depositados nas urnas por uma pessoa de confiança – os pais, por exemplo. Mesmo com um registro eleitoral desatualizado, é possível votar sem ter que retornar ao distrito eleitoral antigo.
O porta-voz do Tinder Benjamin Puygrenier está otimista com as chances de sucesso da campanha. "Vimos através dos dados de nossos membros que há um interesse crescente por política. É um grande tema entre os jovens. A evidência disso é o uso crescente da palavra "política" nos perfis de nossos membros nos últimos 12 meses. Aumentou 59%", diz Puygrenier.
Essas campanhas não são um território novo para o Tinder nem para "A voté". O Tinder já organizou campanhas semelhantes para eleições nos EUA, Reino Unido e Alemanha. "A voté", por sua vez, também fechou uma parceria com a empresa-mãe do Facebook, Meta, para as eleições presidenciais. Um chatbot no WhatsApp também deve fornecer informações sobre os registros eleitorais, tal como a campanha no Tinder.