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Religião

Conferência sobre véu islâmico gera controvérsia na Alemanha

Tessa Clara Walther | Friedel Taube ip
6 de maio de 2019

Após organizar debate questionando se peça do vestuário muçulmano é símbolo de opressão das mulheres, professora é acusada de islamofobia. Associação que representa docentes fala em ameaça à liberdade de expressão.

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Muçulmanas usando véu na cidade alemã de Munique
Muçulmanas usando véu na cidade alemã de MuniqueFoto: imago/Ralph Peters

Véus islâmicos são motivo de discussões acaloradas na Alemanha. Enquanto alguns os veem como um elemento essencial da liberdade religiosa; outros, o consideram um símbolo da opressão das mulheres no islã. A questão se professoras deveriam ser proibidas de usar véu em escolas públicas, por exemplo, já foi abordada em tribunais alemães, e foi decidida de maneira diferente por juízes dos vários estados do país.

A população muçulmana da Alemanha, que aumentou rapidamente nos últimos anos devido à imigração de países de maioria muçulmana, foi estimada entre 4,4 milhões e 4,7 milhões de pessoas ou aproximadamente 5,5% da população total do país em 2015, segundo o Departamento Federal de Estatísticas. O número é sem dúvida maior agora, segundo o órgão, mas não existem dados oficiais atualizados.

Tais mudanças demográficas vêm acompanhadas de debates sociais, e o do véu islâmico tem sido uma fonte contínua de discussão. A mais recente controvérsia em torno do véu, que rendeu manchetes em toda a Alemanha, gira em torno de uma conferência acadêmica prevista para este mês – algo que nem mesmo sua organizadora esperava.

A professora Susanne Schröter, que desde 2008 estuda o islã na Europa pela Universidade de Frankfurt, planejou para o dia 8 de maio uma conferência intitulada "O véu islâmico: símbolo de dignidade ou de opressão?". Um pequeno grupo de estudantes criticou a conferência, acusando Schröter de querer disseminar um sentimento islamofóbico e pedindo a renúncia da docente.

Zuher Jazmati, membro da iniciativa "Uni gegen antimuslimischen Rassismus" ("Universidade contra o racismo antimuçulmano"), disse à DW: "Nós não acreditamos que deva se fazer um julgamento de valor sobre o uso ou não do véu. Esses julgamentos são irritantes e um fardo para qualquer mulher que o use." Jazmati acredita que tais discussões inclusive encorajam a violência contra as muçulmanas.

Ele também se opõe a vários dos palestrantes convidados para a conferência. Jazmati discorda, por exemplo, da presença da jornalista alemã Alice Schwarzer, que edita a revista feminina Emma. Ele também é contra a participação da crítica do islã Necla Kelek, acusando-a de ter dado declarações altamente contenciosas no passado e de perpetuar um discurso racista.

"Quando discutimos este tópico, devemos fazê-lo com a presença de mulheres que usam o véu, para que elas possam falar por si mesmas", ressalta Jazmati.

Schröter está convencida de que o evento irá acontecer conforme o planejado. "Eu presumi que se trataria de só mais uma conferência, sem maiores controvérsias. Faz quase 20 anos, afinal, que discutimos o véu islâmico", disse à agência de notícias DPA.

Embora admita que o véu islâmico tenha se tornado um assunto muito debatido, Schröter destacou que a conferência foi planejada para contextualizar a controversa exposição "Contemporary Muslim Fashions" (Moda Islâmica Contemporânea) no Museu de Artes Aplicadas de Frankfurt. A professora observou que defensores do véu, como a teóloga e especialista em Corão Dina El-Omari – ela mesma adepta da peça de vestuário –, também foram convidados para a conferência.

Ainda assim, Schröter é conhecida por sua visão crítica dos véus islâmicos. Em agosto do ano passado, quando participava de uma conferência da Terre des Femmes, organização sem fins lucrativos de defesa dos direitos femininos, ela teria declarado que o véu impede a liberdade das mulheres e muitas vezes está "ligado a todo um pacote de restrições".

No início de abril deste ano, a acadêmica publicou um artigo no diário alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung intitulado "O que Deus tem contra a exibição dos cabelos? Aqueles que defendem a moda islâmica devem estar cientes de sua natureza repressiva".

Liberdade de expressão ameaçada?

Enquanto isso, a Associação Alemã de Professores Universitários (DHV, na sigla em alemão) advertiu que a liberdade de expressão está sob ameaça nas universidades alemãs.

"Opiniões dissidentes devem ser respeitadas e toleradas", afirmou o presidente da DHV, Bernhard Kempen, para quem diferenças de opinião devem ser resolvidas através do debate, e não do boicote, do assédio ou da violência.

Birgitta Wolff, presidente da Universidade de Frankfurt, defende Schröter, enfatizando que é parte de seu trabalho como professora organizar conferências acadêmicas nas quais opiniões divergentes são manifestadas.

Schröter diz que as universidades devem gozar de liberdade de expressão e pluralidade de opiniões: "Universidades são locais para discussões, e não um lugar onde pequenos grupos de interesse decidem o que pode e o que não pode ser dito." 

Em entrevista ao diário alemão Die Welt, a professora disse que críticos tentaram "intimidá-la" e "difamá-la" e que, portanto, atacaram o princípio da liberdade de expressão. Para a professora, eles a acusam de "racismo antimuçulmano" por rejeitarem toda e qualquer crítica ao islã.

No momento, parece improvável que uma solução amigável para o caso seja encontrada. Jazmati diz que, com tal lista de palestrantes convidados, nem ele nem outros membros de sua organização participarão do evento – embora afirme que irá analisar os trechos da conferência divulgados posteriormente para confirmar se as coisas que sua organização esperava realmente aconteceram. Até agora, não houve nenhuma comunicação direta entre Schröter e o grupo representado por Jazmati.

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