Conferência quer garantia de segurança para material nuclear
27 de março de 2012Assim como as do Irã, as ambições nucleares da Coreia do Norte foram deixadas fora da agenda da conferência de cúpula global sobre segurança nuclear que se encerrou nesta terça-feira (27/03), em Seul. Ainda assim, os norte-coreanos conseguiram "roubar a cena", ao anunciar um "teste de foguetes".
Por ocasião do 100º aniversário do pai da nação, Kim Il-sung, em meados de abril, o governo quer lançar um satélite no espaço. Questionado sobre a intenção, o presidente da Coreia do Sul, Lee Myung-bak, comentou: "Eu realmente acredito que a cúpula terá alguma influência [sobre a Coreia do Norte]. A cooperação é de interesse dela própria".
Pyongyang advertira que qualquer menção a seu programa nuclear durante o encontro seria considerada uma "declaração de guerra". O que não impediu o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, de apelar aos norte-coreanos para que retomem as negociações pela desnuclearização.
Obama também pediu apoio aos chefes de Estado russo, Dimitri Medvedev, e chinês, Hu Jintao, no sentido de convencer Pyongyang a abandonar o anunciado lançamento de "foguetes" – o qual diversos analistas creem tratar-se de camuflagem para um teste de mísseis de longo alcance. Os EUA e seus aliados ameaçaram a suspensão da ajuda humanitária com alimentos, caso o país leve adiante esses planos.
De HEU para LEU
"A Coreia do Norte parece ser a única que acredita tratar-se de um foguete, e não de um míssil", comentou Duyeon Kim, uma das diretoras do Centro de Controle de Armas e Não Proliferação, em Washington. Ela reconhece que os organizadores da cúpula em Seul poderiam ter encontrado uma forma mais sutil de condenar a declaração da Coreia do Norte, mas esse tiro também poderia ter saído pela culatra.
"Colocar especificamente a Coreia do Norte na agenda oficial poderia ter legitimado o programa nuclear do país. Poderia também ter desviado a atenção do seu objetivo principal, que é realmente o terrorismo nuclear."
Os líderes da cúpula de segurança chegaram a um acordo que poderá levar a uma futura redução do volume de urânio de alto enriquecimento (HEU, na sigla em inglês), elemento essencial para a produção de armamentos: os Estados Unidos se prontificaram a fornecer urânio de baixo enriquecimento (LEU) à França e à Bélgica, para uso em unidades médicas que produzem isótopos radioativos.
"Converter os reatores de pesquisa, em todo o mundo, do uso de combustível HEU para LEU, é peça crucial na melhoria da segurança nuclear global", explicou o secretário norte-americano de Energia, Steven Chu. Caindo em mãos erradas, o HEU pode ser utilizado na fabricação das chamadas "bombas sujas", com potencial de serem usadas por grupos terroristas contra alvos militares ou civis.
Salvaguarda de material nuclear
Contudo, apesar de ser um passo na direção certa, esse acordo pouco servirá para verdadeiramente aprimorar a segurança nuclear global, argumenta Miles Pomper, pesquisador de não proliferação no Instituto de Estudos Internacionais de Monterey, na Califórnia. "Não há uma norma legal internacional vinculativa a respeito do que significa colocar material [nuclear] em segurança", diz.
Segundo o especialista, atualmente não há qualquer mecanismo para determinar quanto material nuclear passível de utilização militar uma nação tem salvaguardado. Até mesmo o termo "salvaguardar" é vago. Embora algumas nações tenham se gabado dos próprios avanços desde a primeira cúpula de segurança nuclear, em 2010, ainda há muito a ser feito.
"A Rússia foi muito eficiente em recuperar material espalhado por outros países, mas fez muito pouco, na verdade quase nada, no sentido de converter suas próprias centrais para urânio de baixo enriquecimento", assinala Pomper.
Ele duvida que os dirigentes mundiais sejam capazes de cumprir sua promessa de garantir a segurança de todos os materiais nucleares até o final deste ano. Para o próximo encontro, em 2014, na Holanda, o perito em não-proliferação diz desejar metas mais definidas do que as apresentadas em Seul. "Precisamos de uma imagem mais ampla, uma agenda mais ambiciosa para a Holanda."
Um sistema de revisão paritária seria uma possibilidade para os países verificarem melhor seus progressos na salvaguarda de material nuclear. De outro modo, ressalva Pomper, eles estarão simplesmente alegando sucesso, sem que haja de qualquer mecanismo para confirmá-lo através de provas.
Autor: Jason Strother (av)
Revisão: Roselaine Wandscheer