Conferência de emergência em Roma discute paz no Líbano
25 de julho de 2006Após duas semanas de combates violentos entre militantes do grupo radical-islâmico Hisbolá e forças israelenses, a situação é dramática. Desde o início da ofensiva no Líbano, em 12 de julho último, o número de vítimas já chega a 40 no lado israelense. No Líbano, os ataques israelenses já provocaram a morte de cerca de 380 pessoas, civis em sua maioria.
Segundo estimativas da ONU, cerca de meio milhão dos 4,5 milhões de libaneses estão em fuga. A conferência de emergência a ser realizada nesta quarta-feira (26/07), em Roma, deverá discutir possibilidades de solução para o conflito.
Kofi Annan tenta incluir Síria e Irã
Para o secretário-geral da ONU, Kofi Annan, o encontro deverá indicar "uma estratégia concreta", que leve à finalização dos combates entre Israel e o Hisbolá. Participarão do encontro representantes do chamado Grupo do Líbano, formado por iniciativa dos Estados Unidos, após a morte do ex-primeiro-ministro Rafik Hariri, em fevereiro de 2005.
Além de Annan, 13 ministros das Relações Exteriores estão sendo esperados na capital italiana, entre eles os representantes da Alemanha, Rússia, Itália, França, Reino Unido, Egito, Arábia Saudita, Jordânia e a secretária de Estado norte-americana, Condoleezza Rice. O Líbano será representado por seu presidente, Fuad Siniora.
Ajuda imediata
Annan anunciou em Nova York que apelará para um cessar-fogo imediato durante a conferência em Roma. Além disso, a ajuda aos milhares de refugiados libaneses deverá começar imediatamente.
A longo prazo, Annan sugere a instalação de uma tropa internacional das Nações Unidas, que garanta a paz na zona tampão entre Israel e o Líbano. O secretário-geral da ONU se esforça agora em incluir o Irã e a Síria, como principais aliados dos militantes do Hisbolá, nas mesas de negociações.
Pelo telefone, ele conversou com o presidente sírio, Bashar el Assad, e com o ministro iraniano das Relações Exteriores, Manutcher Mottaki. "Precisamos da cooperação deles e ambos deram a entender que vão cooperar", comentou Annan.
Alemães, russos e italianos
Antes da conferência, o ministro alemão das Relações Exteriores, Frank-Walter Steinmeier, viajou para Malta nesta terça-feira (25/07), onde se encontra com as equipes de seu ministério encarregadas de sondar em Damasco, Beirute e Nova York as possibilidades de uma solução democrática.
Segundo Steinmeier, a estabilidade da região deverá estar encaixada em um "arcabouço político". O governo alemão espera que a conferência alcance "soluções rápidas e práticas" para questões humanitárias, como a evacuação e o bem-estar dos refugiados, que fogem dos ataques israelenses no sul do Líbano.
Em Moscou, um porta-voz do ministério das Relações Exteriores anunciou que seu país espera que o encontro "estabeleça um cronograma para apressar ações que possam pôr fim à crise".
O governo da Itália, um dos países defensores do cessar-fogo imediato, declarou que o objetivo do encontro será encontrar "caminhos para retomar a ajuda humanitária para o povo libanês e refletir sobre como estabilizar a região, incluindo o envio de uma tropa internacional".
Críticas à falta de concepção política
Três temas deverão prevalecer no encontro: o envio de uma tropa internacional, a ajuda humanitária e uma solução diplomática.
Quanto à solução diplomática, o governo alemão é em princípio a favor de uma suspensão imediata dos combates violentos, mas condiciona um cessar-fogo à declaração dos países do G8 de exigir a libertação dos soldados israelenses seqüestrados.
Quanto ao envio de tropas, Wolfgang Gerhardt, responsável pelas Relações Exteriores do Partido Liberal (FDP), critica a falta de planejamento político do governo alemão e de outros governos ocidentais para uma solução da crise do Oriente Médio. "Enquanto não houver tal conceito político, não adianta enviar tropas para o Líbano", afirma o político.
A impresa européia vem criticando também a falta de direção política da estratégia militar de Israel no Líbano. O jornal austríaco Der Standard, em sua edição desta terça-feira (25/07), comenta que "os objetivos políticos de Israel são tão difusos quanto o cenário ameaçador que enfrenta. O inimigo não é somente o Hisbolá, atrás dele estão a Síria, o Irã, como também o fundamentalismo islâmico. Mesmo no caso de uma vitória militar de Israel sobre o Hisbolá, outras ameaças, provenientes sobretudo das ambições nucleares iranianas, não estariam banidas".