Afeganistão
31 de março de 2009Na conferência internacional sobre o Afeganistão, realizada nesta terça-feira (31/03) na cidade holandesa de Haia, a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, clamou à comunidade internacional um maior engajamento no país, aumentando, em seu discurso, a pressão sobre os aliados europeus.
"No passado, dispúnhamos de muito pouco pessoal, recursos e dinheiro para os nossos esforços", criticou a norte-americana na conferência que reuniu representantes de 72 nações em Haia, inclusive o Irã. Segurança, reconstrução e desenvolvimento foram os principais temas discutidos no encontro.
Para o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, os planos dos EUA merecem amplo apoio. Além da ampliação do contingente norte-americano no Afeganistão, o governo Obama planeja um maior engajamento na reconstrução civil do país e também pretende integrar países vizinhos como o Irã e o Paquistão mais fortemente no combate ao terrorismo e ao tráfico de drogas.
A comissária europeia das Relações Exteriores, Benita Ferrero-Waldner, assegurou que a União Europeia (UE) está muito interessada no aspecto civil dos planos norte-americanos e anunciou que a UE irá disponibilizar mais 60 milhões de euros de ajuda, dos quais 20 milhões serão investidos apenas na prepararação das próximas eleições em agosto.
Aproximação com talibãs moderados
Clinton exigiu que principalmente as forças de segurança afegãs sejam apoiadas. "Queremos que cada unidade da polícia ou das Forças Armadas seja acompanhada por um parceiro internacional", afirmou. As Forças Armadas, que hoje contam com 60 mil homens, deverão ser ampliadas para 134 mil soldados até 2011, enquanto a polícia afegã passará a ter mais de 82 mil agentes.
Ao apresentar sua nova estratégia para o Afeganistão na semana passada, Barack Obama anunciou o envio de 4 mil novos instrutores militares à região. Além disso, serão enviados outros 17 mil soldados para ampliar o contingente atual de 38 mil homens. Na segunda-feira, Clinton anunciou que disponibilizará 30 milhões de euros para a organização das eleições presidenciais afegãs.
Encontro EUA-Irã
Antes da conferência, Clinton afirmara que o governo afegão deveria ser ajudado em seus esforços de separar extremistas daqueles que se agregam aos talibãs apenas por desespero. Ela defendeu uma aproximação com os talibãs afegãos que rejeitam a violência.
O presidente afegão, Hamid Karzai, reiterou seu desejo de aproximação com talibãs moderados, que não têm ligações com o Al Qaeda, rejeitam a violência e aceitam a Constituição do país.
A comissária Ferrero-Waldner exigiu dos países vizinhos ao Afeganistão que também cooperem na estabilização do país. Representando o Irã, o vice-ministro das Relações Exteriores, Mohammad Mehdi Ajundzade, reforçou a disposição de seu país em cooperar na reconstrução do Afeganistão e participar do combate ao tráfico de drogas.
No final do encontro, Clinton declarou que o enviado especial norte-americano para o Afeganistão, Richard Holbrooke, participou de um encontro bilateral "breve e espontâneo" com o vice-ministro Mehdi Ajundzade. Segundo Clinton, a reunião foi "muito promissora".
Ajuda europeia
A Alemanha foi representada em Haia pelo ministro alemão do Exterior, Frank-Walter Steinmeier, que anunciou que Berlim disponibilizará 50 milhões para o fundo controlado pela Otan para formar e equipar o Exército Nacional Afegão (ANA). Na segunda-feira, a Otan anunciou a ampliação do fundo, que até agora era de apenas 20 milhões de euros, segundo dados da própria organização.
Steinmeier anunciou ainda uma iniciativa para ampliar o controle civil do tráfego aéreo afegão, hoje praticamente em mãos militares. Como primeiro passo, a Alemanha pretende investir, juntamente com os Emirados Árabes Unidos, 35 milhões de euros para transformar o aeroporto de Masar-i-Sharif, no norte do país, em um eixo central de conexão de voos civis. Além de projetos na área de agricultura e irrigação, Steinmeier mencionou ainda o envio de 600 soldados adicionais para garantir a segurança das próximas eleições presidenciais afegãs.
Também a Comissão Europeia ampliará sua ajuda ao Afeganistão em 60 milhões para um total de 760 milhões de euros. A França anunciou que quadruplicará para 40 milhões de euros sua contribuição para hospitais e escolas.
Harmonia previsível
A harmonia na conferência sobre o Afeganistão já era prevista por delegados europeus. A repercussão política da nova estratégia norte-americana para o Afeganistão foi positiva e a Alemanha e outros países se mostraram satisfeitos com o fato de os Estados Unidos não quererem somente ampliar seu contingente, mas também contribuir para a reconstrução do país.
No entanto, organizações não governamentais afirmam que a retórica deve ser finalmente transformada em ação. Um representante da Agência do Corpo Coordenador de Ajuda ao Afeganistão (ACBAR), organização central das ONGs que operam no Afeganistão, declarou que está mais do que na hora de o governo afegão e a comunidade internacional reduzirem o número de vítimas civis a um mínimo.
A ACBAR cobrou o fim da cultura da impunidade e mais progressos para os direitos das mulheres e dos mais fracos no Afeganistão.
CA/RR/ap/afp/epd