Conflito do Iraque divide a OTAN
10 de fevereiro de 2003Um clima de agitação reina no quartel general da OTAN há três semanas, desde que França, a Bélgica e a Alemanha se opuseram ao pedido dos Estados Unidos para que a Aliança do Tratado do Atlântico Norte iniciasse os preparativos de proteção da Turquia em caso de um ataque por parte do Iraque. No entanto foi somente no domingo (09) que o governo belga comunicou a apresentação oficial de seu veto.
A França só o fez na manhã desta segunda-feira, quando começou a "reunião de crise" da OTAN em Bruxelas. E a Alemanha apresentou sua objeção formal na última hora, pois às 10 horas vencia o prazo, do contrário o pedido seria considerado aprovado pelos 19 países-membros. Os EUA querem os aviões de reconhecimento Awacs da OTAN, o estacionamento de mísseis Patriot de defesa antiaérea e de sistemas contra armas atômicas, químicas e biológicas na Turquia.
Contra a lógica de guerra
Para Bruxelas, Paris e Berlim, a questão é o momento em que a OTAN deve decidir sobre essa questão. Começar agora com preparativos militares para uma eventual guerra contra o Iraque seria um sinal falso, como manifestou o ministro belga do Exterior, Louis Michel: "Negamos a aprovação porque, com tal decisão, estaríamos aceitando a lógica da guerra." Os três países querem evitar a impressão de que a guerra é inevitável.
Para Nicholas Burns, embaixador dos EUA na OTAN, o que está em jogo é a credibilidade da aliança atlântica. O secretário norte-americano da Defesa, Donald Rumsfeld, já havia considerado o veto "uma vergonha". Os três países serão julgados pelas suas próprias populações e pelos outros membros da aliança, disse Rumsfeld em entrevista ao jornal conservador francês Le Figaro. O secretário de Estado norte-americano, Colin Powell, também criticou a OTAN pelo veto aos preparativos, lembrando seu compromisso de socorrer os países membros.
Turquia pede consultas e abre precedente
Por sua vez, o secretário-geral da OTAN, George Robertson, admitiu que "é sério não havermos chegado a um acordo em três semanas", lembrando, porém, que os aliados já tiveram muitas discrepâncias no passado. Mesmo acreditando que as divergências tendem a aumentar no futuro, ele mostrou-se confiante de que será possível um entendimento. "O que nos une é o fato de garantirmos a segurança de todos os membros da OTAN. Por isso, a questão não é se vamos fazer os preparativos, mas quando iremos fazê-los".
Os acontecimentos parecem dar razão a Robertson, pois reagindo ao veto dos três governos, a Turquia deu o próximo passo e solicitou oficialmente consultas, com base no artigo 4 do tratado da OTAN. Esse artigo permite que um país membro solicite uma consulta oficial, caso veja ameaçada sua integridade territorial, a independência política ou sua segurança. É a primeira vez que isso acontece na história da Aliança Atlântica.
Negar ajuda nesse caso, seria o mesmo que ditar a sentença de morte da OTAN. Uma questão importante a ser discutida pelos 19 embaixadores da aliança militar é se a ameaça que paira sobre a Turquia é realmente aguda neste momento. Os aliados concordam, porém, que em caso de ataque ela receberia imediatamente ajuda. Situada na intercessão da Europa e da Ásia, e fazendo fronteira com o Iraque, a Turquia é tida como o provável ponto de partida para um ataque norte-americano contra o regime de Saddam Hussein. E também como um dos primeiros países afetados por um contra-ataque.