Conselho de Governadores discute questão iraniana
6 de março de 2006Após o impasse das negociações entre o representante iraniano, Ali Larijani, e diplomatas dos três Estados europeus (Alemanha, França e Reino Unido), na última sexta-feira (03/03), em Viena, o caso é levado agora para o Conselho de Governadores da AIEA.
Os 35 representantes do Conselho de Governadores da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) se reúnem a partir desta segunda-feira (06/03) para decidir se encaminham a polêmica em torno do programa nuclear iraniano ao Conselho de Segurança das Nações Unidas.
O Irã é acusado pela União Européia e pelos Estados Unidos de querer dominar o ciclo nuclear para construir a bomba atômica e não para fins pacíficos de fornecimento energético, como até agora afirmou o governo de Teerã.
A proposta do governo de Moscou de enriquecimento de urânio para as usinas atômicas iranianas em território russo também fracassou, já que o Irã não abre mão do enriquecimento do urânio em seu território.
O Conselho e a Agência
A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) foi criada em 1957 como uma organização independente das Nações Unidas. Quando, a partir dos anos 70, cada vez mais países se esforçavam para a obtenção da bomba atômica, a AIEA tornou-se um órgão controlador do Tratado de Não-Proliferação Nuclear (TNP).
A AIEA é composta por 139 países e tem como órgão máximo o Conselho de Governadores, composto, por sua vez, de 32 representantes de diferentes países, que se revezam a cada dois anos, e dos Estados Unidos, França e Reino Unido, membros permanentes do grêmio. Ao Conselho de Governadores também pertencem o Brasil e Alemanha, que nele está desde 1972.
Desde 1997, o chefe da agência com sede em Viena é o egípcio Mohamed El Baradei, que juntamente com sua organização foi premiado, no ano passado, com o Prêmio Nobel da Paz. Os inspetores da AIEA controlam hoje instalações nucleares em mais de 70 países.
Negociações ou não
Na reunião desta semana, El Baradei irá apresentar um novo relatório, onde descreve o desenvolvimento das pesquisas iranianas para o combustível atômico e como o país tenta escapar do controle da AIEA.
O eventual encaminhamento da polêmica iraniana ao Conselho de Segurança das Nações Unidas poderá levar a sanções econômicas, como também militares contra o governo de Teerã. Representantes do governo americano declararam, entretanto, que sanções, por enquanto, continuam fora de cogitação.
O diretor-geral da AIEA comentou, em Viena, que está otimista quanto à polêmica: "Ainda tenho a esperança de que já na próxima semana se chegará a um acordo sobre o assunto". El Baradei estava se referindo, com certeza, aos esforços europeus e russos para resolver a questão.
Para tal, especula-se em círculos diplomáticos que a possibilidade de um programa limitado de enriquecimento de urânio, por parte do Irã, poderá ser discutida a partir da terça-feira (07/03) na reunião do Conselho de Governadores em Viena.
Cada cabeça, uma sentença
No Conselho de Governadores, os países europeus e os Estados Unidos, apoiados pelo Japão, Austrália e Canadá, seguem uma linha dura e exigem que o Irã desista da intenção de enriquecer urânio em seu território.
A Rússia e a China, que possuem direito de veto no Conselho de Segurança da ONU, querem evitar sanções contra o Irã e se esforçam para que tudo seja resolvido diplomaticamente.
Os chamados "países em desenvolvimento" como o Brasil, a África do Sul e a Índia não concordam com a posição norte-americana e européia em relação à questão iraniana, já que estão temerosos que o mesmo possa acontecer com os seus próprios programas nucleares.
De uma forma geral, todos os países ocidentais apóiam a proposta russa de enriquecimento do urânio iraniano em seu território, o que evitaria sua utilização para armas atômicas.
Acusações e opiniões
Enquanto o negociador iraniano afirmava a intenção, a todo custo, de seu país continuar seu programa de pesquisas nucleares, o embaixador norte-americano nas Nações Unidas, John Bolton, anunciou no último domingo, em Washington, que o "Irã deve contar com conseqüências dolorosas, caso não desista de suas intenções".
Esta opinião também é compartilhada pela secretária de Estado norte-americana Condoleezza Rice, que declarou durante a sua visita a Islamabad, no sábado (04/03), que acredita que o Conselho de Segurança venha, em breve, decretar sanções contra o Irã.
O ministro das Relações Exteriores alemão, Franz-Walter Steinmeier, declarou ao Frankfurter Allgemeine Zeitung, nesta segunda-feira (06/03), estar preocupado com a questão iraniana, dando a entender que a questão poderá ser realmente levada ao Conselho de Segurança da ONU.
Peter Philipp comenta
O analista da Deutsche Welle, Peter Philipp, afirma a sua desconfiança em relação às intenções energéticas iranianas, já que um país rico em petróleo não precisaria de energia atômica.
Levando em conta as experiências negativas das sanções contra o Iraque no passado, o analista não acredita que o mesmo acontecerá com o Irã, como também não acredita que as acusações de El Baradei contra o Irã sejam convincentes.
A fórmula utilizada por Baradei é sempre de que "não se pôde comprovar claramente, que o Irã utiliza a energia nuclear para fins pacíficos". Seguindo a mesma lógica, também não se pode comprovar o contrário, afirma Peter Philipp.