Litoral dos EUA em perigo
24 de maio de 2010As consequências são dramáticas, e as medidas de contenção tomadas pela petroleira britânica British Petroleum (BP) já estão sendo consideradas insuficientes pelo governo dos Estados Unidos.
Desde a explosão da plataforma, no dia 20 de abril, demorou um mês para que a mancha de óleo atingisse o continente americano. Só agora se tornaram nítidos, na costa do estado de Louisiana, os efeitos da que já se considera da maior catástrofe ambiental envolvendo petróleo da história.
Jörg Feddern, biólogo da organização de proteção ambiental Greenpeace, explica que as primeiras vítimas da catástrofe são as aves. "Ao entrarem em contato com o petróleo, elas morrem em grande parte, pois as penas colam e os pássaros se envenenam ao limpá-las com o bico." Além disso, o óleo também destrói sargaços e mangues.
As regiões costeiras são extremamente difíceis de limpar, complementa Feddern. "Os rios são extremamente ramificados, e há ainda a vegetação, juncais e mangues... É impossível eliminar esse óleo, a não ser por processos naturais de decomposição. E isso pode durar anos, se não décadas", constata o biólogo.
No entanto, há especialistas menos pessimistas. O professor Lorenz Schwark, geoquímico da Universidade de Kiel, remete à capacidade de regeneração dos ecossistemas. "Em muitos casos, é impressionante a rapidez da fase de regeneração. Depois da guerra do Iraque, supunha-se que os âmbitos marinhos afetados pelo petróleo demorariam décadas para se recuperar; mas hoje essas regiões praticamente já retornaram à situação anterior à catástrofe", informa.
Efeitos colaterais de dispersantes podem ser graves
Para que a menor quantidade possível de petróleo atingisse o litoral, as autoridades ambientais norte-americanas permitiram que o conglomerado petrolífero BP, administrador da plataforma destruída, usasse produtos químicos que quebram as ligações moleculares do óleo.
A BP considerou um êxito a utilização do dispersante Corexit, considerando-o completamente inofensivo, atóxico e biodegradável. No entanto, biólogos marinhos e ambientalistas como Jörg Feddern veem isso por outro ângulo.
"Dispersantes não são inofensivos. Sabemos que o processo de decomposição dessas substâncias é tóxico, venenoso. Por exemplo, se uma catástrofe dessas ocorresse no golfo de Kiel, no norte da Alemanha, as autoridades não utilizariam esse dispersante, porque os danos simplesmente seriam maiores do que os benefícios", afirma Feddern.
Na última semana, as autoridades ambientais norte-americanas deram um ultimato à BP para que suspendesse a partir desta segunda-feira (24/05) o uso de Corexit, por não poder prever com exatidão seus efeitos colaterais.
Especialistas advertem que o petróleo diluído pelo dispersante continua atuando de forma prejudicial em nível subaquático. "Isso acontece porque o petróleo atravessa toda a coluna de água e tudo o que ali habita: plâncton, microorganismos, peixes. Tudo acaba sendo contaminado por esse óleo", descreve Feddern.
Consequências imprevisíveis
Outro problema surge com a decomposição do óleo por meio de bactérias subaquáticas. Esse processo reduz drasticamente o teor de oxigênio da água. "Para os organismos que precisam de oxigênio, como peixes ou microorganismos, isso é um enorme problema. Muitos cientistas temem que se formem zonas sem oxigênio, 'zonas da morte', mas nem isso é certo", diz o biólogo do Greenpeace especializado em catástrofes de petróleo.
A verdade é que ninguém pode avaliar com exatidão a proporção dos danos ambientais causados pela imersão da plataforma petrolífera Deepwater Horizon. Afinal, é a primeira vez na história que acontece uma catástrofe destas dimensões.
Autora: Rachel Gessat (sl)
Revisão: Roselaine Wandscheer