Droga da moda
12 de fevereiro de 2011Um grupo de garotos comanda um cruzamento movimentado em Bonteheuwel, uma township (área urbana pobre) na periferia da Cidade do Cabo. Suas camisetas e calças são muito grandes para seus corpos pequenos. Seus olhares são intimidantes. Eles costumam atuar agressivamente e estão todos sob o efeito de droga. Eles acabam de fumar o Tik. O Tik é, segundo um estudo atual, a droga da moda na Cidade do Cabo e sua periferia.
Seus efeitos são devastadores, diz Sayem. Ele conhece bem o assunto, já que há três semanas está em processo de desintoxicação: "Os jovens aqui roubam as casas. Os roubos estão na ordem do dia. A maioria deles é totalmente dependente. A criminalidade é extremamente alta".
A droga dos pobres
Até bem pouco tempo, Sayem também fazia parte dos problemas que dizem respeito às drogas na cidade. Por nove anos ele fumou o Tik. Para financiar seu vício, ele vendeu suas roupas e celulares.
Era imenso o desejo pelo Tik e pelo delírio que ele produz e que está modificando e destruindo as townships da Cidade do Cabo. "Aqui o Tik dá coragem aos pobres", explica a ativista Kathleen Dey. "Quando eles estão sob efeito do Tik, esquecem suas preocupações. Ela é irresistível justamente para as pessoas pobres e sofridas", esclarece.
No Brasil, como na Alemanha, a droga é conhecida sob o nome de "meth" ou "cristal". O problema com o Tik é que ele é barato e fácil de produzir. Diferentemente do que acontece, por exemplo, com a cocaína, o Tik não precisa ser contrabandeado e atravessar metade do planeta. Os estimulantes à base de anfetamina são simplesmente misturados em laboratórios clandestinos na África do Sul. Os seus componentes podem ser comprados em qualquer farmácia.
Durante a Segunda Guerra, o Tik já foi utilizado na Alemanha. O agente deveria ser usado para inibir a sensação de medo em soldados e aumentar o seu rendimento. Os soldados, no entanto, não foram informados sobre os efeitos colaterais da droga.
O Tik leva a uma mudança da personalidade e à psicose. "Ele produz agressividade", relata o cientista alemão Andreas Plüddemann. Ele pesquisa os efeitos do consumo excessivo de Tik na Cidade do Cabo: "Existe muitos pais aqui que recorrem a um juiz, a fim de se proteger de seus filhos, que se tornaram agressivos. Um efeito desse tipo não existia com outras drogas ou era muito, muito raro".
Aumento dos estupros
O uso intenso de Tik tem levado ainda a um outro problema. A organização Rape Crisis, que cuida de vítimas de estupros, informa que inúmeros casos acontecem em conexão com o uso do Tik. Kathleen Dey, diretora da organização, explica que, desde o advento do Tik, os autores e as vítimas de estupro são cada vez mais jovens e os estupros tornaram-se também mais violentos.
"São circunstâncias terríveis. Os jovens têm de 10 a 12 anos de idade. Eles são ainda crianças. A violência torna-se cada vez mais cruel", disse.
Precisamente na Cidade do Cabo, a droga Tik passou a ser bastante cobiçada – as razões para tal ainda continuam um enigma. Dey acredita que muitos fatores são responsáveis por isso. Os motivos mais importantes são o grande número de órfãos, cujos pais morreram de aids; a pobreza extrema; a perda da esperança e o fato de os jovens usuários de Tik não refletirem sobre as consequências do consumo.
Esses jovens simplesmente destroem o seu futuro. O que agrava ainda mais a situação é que parte da polícia trabalha junto dos narcotraficantes, acrescenta Sayem. "Eles são corruptos. Quando eu tinha dinheiro suficiente, pagava a um policial facilmente 100 euros. Eles se contentavam e, em troca, diziam-me então onde haveria uma batida policial", explica.
Um Futuro livre de drogas
Sayem, que há algumas semanas está num programa de desintoxicação, não teria conseguido parar por vontade própria. Ele foi pego em flagrante por seu patrão, que relatou tudo aos seus pais. Por nove anos, Sayem fumou Tik. Foram nove anos em que morou com seus pais e mentiu repetidamente para eles. Foram justamente eles que, no final, levaram o jovem de 26 anos à desintoxicação. Sayem espera agora um futuro sem drogas. Isso, no entanto, não será algo fácil. Sayem mora em Bonteheuwel e ali, infelizmente, o Tik está sempre presente.
Autor: Jörg Poppendieck (pp)
Revisão. Carlos Albuquerque