Torre na Amazônia
4 de abril de 2010No meio da Amazônia, uma torre de pesquisa de 320 metros vai ajudar cientistas a entender melhor a dinâmica da floresta. A construção da estação de pesquisa Atto (sigla em inglês para Observatório Amazônico de Torre Alta) é uma parceria entre Brasil e Alemanha.
O professor Jürgen Kesselmeier, coordenador alemão do projeto bilateral, conversou com a Deutsche Welle sobre a relação entre o instituto Max-Planck, que mantém uma sede em Manaus, e o Inpa, Instituto Nacional de Pesquisa Amazônica.
Deutsche Welle: Quais são os principais motivos desse trabalho na Amazônia? Por que é tão importante fazer pesquisas nessa região do planeta?
Jung Kesselmeier: A imensa região de floresta tropical contribui muito para um maior conhecimento da questão do clima global. A enorme taxa de evaporação colabora para o resfriamento do planeta, abastece a atmosfera com água e energia, influencia a formação de nuvens.
A floresta também tem um reservatório de cerca de 100 bilhões de toneladas de gás carbono, aproximadamente um quinto da biosfera e, por isso, tem um papel fundamental na relação do planeta com os gases do efeito estufa. Cerca de 10% do CO2 lançado na atmosfera se deve à derrubada da floresta nessa região.
A região amazônica abriga um ecossistema muito importante para o nosso clima – são cerca de 7 milhões de quilômetros de quadrados, a maior reserva de floresta do planeta.
Cada vez mais pessoas ocupam a região da floresta tropical, abrem clareiras e começam uma atividade agrícola. E isso tem um grande impacto sobre o aumento das emissões de carbono, sobre o ciclo da água, sobre a concentração de gases estufa, sobre as partículas de aerossol em reação com outros gases que também têm efeitos químicos e físicos sobre a atmosfera.
A região amazônica, sobretudo pela a ameaça que sofre, é um lugar importante para pesquisa. E isso vale não só para a química, física e para o clima, mas também para o campo da biodiversidade. A quantidade de plantas e espécies animais na região não se compara a nenhum outro lugar do mundo.
Como tem sido o trabalho desde a fundação do escritório em Manaus?
O escritório foi fundado em 1969 como conseqüência de uma cooperação entre o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, em Manaus, e o Instituto Max-Planck. O trabalho de pesquisa do grupo se concentrava, inicialmente, em ecofisiologia, sucessão, biodiversidade, produtividade e sustentabilidade na Amazônia.
Na fase seguinte, de 1980 a 2002, a pesquisa se concentrou na ecologia da região alagada. Os trabalhos levaram à compreensão das estruturas e funções das regiões alagadas. Em diversos projetos realizados entre 1989 e 2002, desenvolvemos trabalhos sobre manejo sustentável em regiões alagadas e recursos como agricultura, pecuária, pesca e silvicultura.
Desde 2007, essa cooperação foi levada adiante e impulsionou significativas mudanças no direcionamento do trabalho de pesquisa, dando prosseguimento aos trabalhos anteriores. O novo foco da pesquisa é agora o conjunto de gases de relevância climática e suas trocas com o sistema do solo/vegetação e a atmosfera. Também estudamos a formação e função dos gases aerossóis – tanto os naturais como os antropogênicos – e sua influência sobre o clima, assim como a influência das queimadas sobre a ecologia e sobre a poluição. Esses efeitos são sentidos não apenas na região amazônica.
O que se espera exatamente da construção dessa torre climática?
Ela será usada para uma observação a longo prazo, de dez a trinta anos, e deverá fornecer informações sobre uma grande área. É um tipo de monitoramento implementado com relutância. Mas pensamos nas informações acumuladas durante décadas sobre os níveis crescentes de CO2. Sem o trabalho do pesquisador Charles David Keeling, não teríamos esses dados hoje.
Acreditamos que o projeto poderá contribuir a longo prazo para o compreensão da floresta e assegurar a sua proteção e uso sustentável.
Como é a divisão de trabalho dentro dessa parceria e como cada parte se beneficia dessa cooperação?
O trabalho científico e divisão de competência estão definidos em diversos projetos. O Instituto Max-Planck tem experiência com um instrumento semelhante ao do projeto Atto que há muitos anos está em funcionamento na Sibéria. Essa experiência será incorporada à cooperação. E o Inpa tem experiência na construção de torres de medição na floresta tropical.
Como é na prática a coordenação com os colegas brasileiros?
Do ponto de vista científico, sem qualquer problema. Do ponto de vista político, temos muito apoio, mas com alguns atrasos.
Dentro do processo de pesquisa, quais problemas podem surgir e quais dificuldades talvez ainda surjam pela frente?
Problemas podem aparecer se perdermos o apoio político. As estações de monitoramento selecionadas ficam geralmente em áreas de proteção. Cientistas estrangeiros que queiram trabalhar no Brasil precisam de autorização e de vistos especiais. A longa da experiência do Instituto Max Planck no país, no entanto, garante uma cooperação rica.
Quão importante é a cobertura global do projeto de pesquisa?
Essa será a segunda torre do tipo em todo o mundo! Uma torre semelhante está instalada na Sibéria. Todas as outras "torres muito altas" estão, frequentemente, em regiões bastante povoadas – são torres de televisão e prédios altos.
Atto e Zotto são as únicas torres capazes de detectar massas de ar limpas e investigar a interação entre vegetação e atmosfera. Isso vai gerar dados de importância global.
Qual a resposta o senhor daria para quem duvida de que as mudanças climáticas estejam sendo provocadas pela interferência do homem na natureza?
A influência do homem sobre o clima é irrefutável. Questões em aberto e divergências entre cientistas não devem ser usadas como pretexto de negação. Seria como tentar provar que os zangões não sabem voar.
O senhor espera que o intercâmbio entre Brasil e Alemanha, no âmbito do Ano da Ciência 2010/2011, conquiste atenção da população?
Seria muito bom se a opinião pública ficasse sabendo dos projetos de pesquisa. O dinheiro que financia as pesquisas vem dos impostos. A aceitação da população é muito importante, tanto na Alemanha como no Brasil.
Autora: Anna Pellacini (np)
Revisão: Simone Lopes