Coreia do Sul investiga retorno ao norte de fugitiva famosa
19 de julho de 2017A polícia sul-coreana começou nesta quarta-feira (19/07) a investigar como uma norte-coreana que fugira para o sul em 2014 e ficou famosa na televisão acabou retornando para o norte.
A mulher, conhecida como Lim Ji-hyeon na Coreia do Sul, apareceu em vários programas de televisão, como debates ou reality shows que tematizam a vida de fugitivos do norte. O último do qual ela participou foi ao ar em abril.
Lim deixou a Coreia do Sul no início de 2017 para viajar para a China. No domingo passado, reapareceu num vídeo de propaganda da Coreia do Norte. A polícia sul-coreana investiga se ela retornou à Coreia do Norte por vontade própria ou se foi sequestrada na China. Na gravação, ela se apresenta como Chon Hae-song e diz que retornou por conta própria.
Ela relata que voltou a morar com os pais depois de retornar, em junho, e descreve a vida no sul como um inferno. "Numa sociedade onde o dinheiro determina tudo, havia apenas dor física e psicológica para uma mulher como eu, que traiu a sua pátria e fugiu", afirma. Ela acrescenta que foi forçada a falar mal do regime da Coreia do Norte em programas de televisão do sul.
Vestida com roupas tradicionais e chorando, ela descreve como a sua "fantasia" de uma "vida melhor no sul rico" logo virou um "inferno". "Eu fui para a Coreia do Sul alimentando essa fantasia de que eu poderia comer e viver bem e ganhar muito dinheiro por lá, mas o sul não é o lugar que eu imaginava."
Vídeos de propaganda da Coreia do Norte frequentemente contêm declarações dramáticas sobre o sul. O regime também costuma organizar entrevistas para a imprensa com estrangeiros que foram detidos por supostamente terem cometido atos hostis ao país. Nas entrevistas, eles "confessam" seus crimes. Quando são libertados, muitos afirmam que foram coagidos a dar declarações.
Segundo informações do governo em Seul, mais de 30 mil norte-coreanos fugiram e foram integrados à sociedade sul-coreana. Ativistas afirmam que alguns deles acabam retornando para tentar buscar parentes ou são sequestrados quando viajam para a China. O governo em Seul afirma que 25 pessoas voltaram para o norte desde 2012, e cinco delas fugiram de novo para o sul.
Muitos norte-coreanos que chegam ao sul reclamam da falta de oportunidades e de discriminação social. Eles afirmam ter dificuldades para se adaptar a uma sociedade extremamente competitiva. Uma pesquisa recente mostrou que 60% deles se consideram cidadãos de segunda classe. Entre as mortes de norte-coreanos na Coreia do Sul, 14% são devido a suicídio, cinco vezes mais que a taxa entre sul-coreanos, a mais alta dos países industrializados.
AS/afp/ap