Cresce a concorrência entre China e UE
15 de julho de 2005
Muitos europeus ainda nem se deram conta, mas a China já é o segundo principal parceiro econômico da União Européia (UE). Do lado chinês, a dependência é ainda maior: é com a UE que a China mais fecha negócios. Só no ano passado, o volume comercializado entre os dois lados atingiu os 117 bilhões de dólares, um aumento de 30% em relação a 2003.
O que não agrada aos europeus é que eles compram da China quase 70 bilhões de dólares a mais do que vendem para lá, situação que está na origem de muitos conflitos comerciais. Para tentar amenizar a situação e debater o futuro das relações comerciais entre os dois lados, o presidente da Comissão Européia, José Manuel Barroso, embarcou nesta quinta-feira (14/07) para Pequim.
Além das questões comerciais, também estão em pauta o embargo europeu à venda de armas para a China e as violações de direitos humanos no país asiático.
Economia de mercado
A China espera ser reconhecida como economia de mercado pela União Européia, o que, na prática, dificultaria a tomada de ações antidumping contra os chineses. Nesta quarta-feira, a Comissão Européia reafirmou que a China ainda não preenche os requisitos necessários para alcançar o status desejado. "Ainda não é possível dizer quando a decisão será tomada", afirmou Barroso.
Barroso ressaltou o interesse da UE em intensificar suas relações comerciais com a China, mas disse que os europeus esperam avanços dos chineses. "Eles darão aos seus parceiros europeus as condições que nós gostaríamos de ter? Em relação ao direito de propriedade: o governo está mesmo trabalhando para modificar as atuais leis? Eles estão abrindo seu mercado da mesma forma que nós estamos abrindo o nosso para os produtos chineses?"
Têxteis e automóveis
Quanto mais as relações comerciais entre Pequim e Bruxelas se desenvolvem, mais conflitos há para serem resolvidos. O mais recente ainda está na memória de todos. Temendo uma invasão de têxteis chineses, Itália, Portugal e França foram bater às portas da Comissão Européia. Em torno de 2,5 milhões de empregos estariam em risco no setor, era o argumento.
Depois de um cabo-de-guerra que durou meses, China e UE selaram um acordo de paz em meados de junho passado: até 2007, as exportações chinesas de têxteis para a Europa poderão crescer apenas entre 8% e 12% ao ano. O objetivo é dar à indústria européia uma pausa para respirar e se reestruturar.
Os chineses também estão avançando em segmentos de produtos mais sofisticados, como os automóveis. Na semana passada, foram desembarcados na Holanda os primeiros 200 carros do modelo chinês Landwind, fabricados pela Jiangling. Preço ao consumidor: 16.950 euros.
Para daqui a alguns meses está prevista a entrega do primeiro lote de limusines da montadora Brilliance. O modelo, chamado de Zhonghua, lembra muito o Mercedes-Benz Classe E – e custa menos de 20 mil euros. Em tempos de recessão, alguns clientes pensarão duas vezes antes de descartar um produto com preço entre 30% e 50% menor que seus similares europeus só por causa do selo "Made in China", argumenta a gerente de exportações da empresa, Liu Juan.
Tecnologia de ponta
Depois das espetaculares aquisições de empresas das últimas semanas, cresce na Europa o temor de que a China se transforme num superpotência tecnológica. Mas analistas do setor avisam: os chineses podem estar em condições de mandar um homem para o espaço, mas ainda não sabem produzir chips para aparelhos de DVD ou impressoras laser.
O que quase ninguém sabe: cerca de 85% de todos os produtos de alta tecnologia exportados pela China são fabricados por empresas com participação estrangeira. Os asiáticos aumentaram sua participação no mercado mundial de microcomputadores e telefones celulares, mas os componentes mais importantes desses produtos continuam sendo importados.
Essa situação dificilmente mudará. O principal problema é a falta de investimento em pesquisa. Os empresários chineses operam com margens de lucro tão reduzidas que, mesmo se quisessem, não poderiam investir em pesquisa e desenvolvimento. O governo investe 1,3% do PIB em pesquisa, ante 2,5%, em média, da Europa. A maior chance para as empresas chinesas superarem essas dificuldades e, daqui a alguns anos, serem vistas como inovadoras ainda está na transferência de tecnologia por parte dos investidores estrangeiros.