Crescimento infinito com recursos limitados
19 de junho de 2012Prateleiras cheias nos supermercados, os últimos medicamentos e mais viagens de turismo do que no ano anterior: tudo isso contribuiu para um Produto Interno Bruto (PIB) elevado na Alemanha em 2012.
O PIB corresponde ao valor de todos os bens e serviços produzidos em um país num determinado ano. Na maioria das nações, ele é visto como um indicador de prosperidade e desenvolvimento. Quando se produz e se vende mais do que no ano anterior, o PIB sobe s e fala-se então em crescimento econômico.
Diferente de prosperidade
No entanto, quando se calcula o PIB não se computam possíveis perdas como, por exemplo, os incêndios ambientais ou a poluição resultante da extração de matérias-primas ou da fabricação e transporte de bens.
A produção de alimentos também não entra nas contas, tal como a fabricação de armas. O crescimento econômico pode também implicar em crescimento da desigualdade social: nesse caso, a riqueza do país é distribuída apenas entre alguns.
Esses são motivos suficientes para se questionar o atual modelo de crescimento, de acordo com Alberto Acosta, economista e antigo Ministro da Energia do Equador. Segundo ele, crescimento econômico não significa necessariamente desenvolvimento: "Qualquer forma de crescimento tem uma história social e ecológica. Há boas formas de crescimento e más formas de crescimento".
Segundo Acosta, os países industrializados seguem uma lógica do crescimento pelo crescimento, que não é orientado pelas necessidades reais das próprias populações e que é feito à custa dos países em desenvolvimento. O economista propõe, por isso, frear o crescimento.
Dinheiro versus felicidade
Pedir um crescimento menor é um assunto tabu entre os círculos econômicos tradicionais e na política econômica, observa a jornalista alemã Petra Pinzler, autora do livro Immer mehr ist nicht genug. Vom Wachstumswahn zum Bruttosozialglück (Sempre não é suficiente: Sobre obsessão de crescimento e Satisfação Social Bruta).
Ela partilha da opinião de muitos críticos: "Os economistas tradicionais partem do princípio que há um crescimento quase perpétuo, que continua ilimitadamente". Mas as matérias-primas são limitadas, recorda. Pode também haver crescimento econômico alargando-se o setor dos serviços. Mas a este setor pertencem também os mercados financeiros bastante especulativos, alerta a autora.
Pinzler pede que se deixe de comparar a prosperidade à riqueza material, apontando para os estudos sobre o índice de felicidade nas populações. Só em países muito pobres há uma relação direta entre o bem-estar e o crescimento econômico. Quando se atinge um determinado nível de riqueza, o bem-estar não continua a crescer indefinidamente: ter três automóveis não significa ser três vezes mais feliz do que quando se tinha apenas um.
Crescimento populacional e aumento dos rendimentos
Por sua vez, Günter Schmidt questiona se os países industrializados estão efetivamente saturados, e se há espaço para começarem a desacelerar o crescimento. O especialista em recursos naturais, que trabalha para o Banco Mundial, entre outras instituições, lembra o caso da Grécia, onde a falta de crescimento econômico levou a uma queda dramática do bem-estar e da prosperidade.
O especialista parte do princípio que o crescimento é algo inevitável: "Daqui a uns anos, seremos 9 bilhões de pessoas no planeta. Além disso, os rendimentos estão subindo em todos os países, sobretudo em países emergentes como a Índia ou a China". E isso trará inevitavelmente uma maior demanda de vários produtos, não só de alimentos.
Além disso, o ser humano é, por natureza, criativo, prossegue Schmidt. Ele desenvolve novas tecnologias ou economiza dinheiro que é, por sua vez, flui para a pesquisa e desenvolvimento através de créditos bancários – tudo isso gera crescimento, sustenta o especialista. E questiona: que instância imporia aos países uma desaceleração do crescimento, em face da competição no mercado mundial?
Regulação dos mercados
Pelo menos representantes dos países em desenvolvimento pedem à política que imponha regras à economia mundial.
Uma sugestão é, por exemplo, substituir o Produto Nacional Bruto por outros indicadores, ou mudar a forma como é efetuado seu cálculo, tendo em conta outros fatores, como a destruição ambiental. Deste modo diminuiria a pressão sobre os governos para que fomentem o mero crescimento pelo crescimento.
Outra sugestão: a exploração predatória da natureza deveria ser punida mais severamente. Os representantes dos países em desenvolvimento olham com ceticismo para um dos motes principais da agenda da conferência Rio+20: a chamada "economia verde", que tem como objetivo contribuir para um desenvolvimento social e ecológico sustentável. Desse modo, o próprio meio ambiente se tornaria uma mercadoria, passível de ser negociada na bolsa de valores.
Autora: Christina Ruta (gcs)
Revisão: Augusto Valente