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Crise ameaça sobrevivência de partido de extrema direita na Alemanha

Arnd Riekmann (rc)31 de dezembro de 2013

Enquanto enfrenta risco de ser banido, ultradireitista NPD se vê à beira de um colapso financeiro, conta com pouco apoio popular e está rachado por disputas internas. Orientação política e imagem da legenda devem mudar.

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NPD Demonstration Flagge
Foto: picture-alliance/dpa

O Partido Nacional Democrático da Alemanha (NPD), de extrema direita, passa por uma séria crise existencial. Os recursos financeiros escasseiam, seu líder renunciou ao cargo e a sigla enfrenta fortes ameaças de banimento. "O ano de 2013 não foi nada bom para o NPD", resume Alexander Häusler, especialista em extremismo de direita e neonazismo da Universidade de Düsseldorf.

O partido encontra-se à beira de um colapso financeiro após o Tribunal Constitucional Federal, a mais alta corte alemã, ter suspendido o repasse de recursos estatais. Em teoria, assim como todas as legendas que conseguem um determinado número de votos nas eleições, o NPD estaria apto a receber esses fundos.

.Entretanto, a Justiça decidiu que o partido terá que pagar uma multa de 1,27 milhão de euros por ter emitido uma falsa declaração de finanças em 2007. O valor será abatido diretamente do suporte financeiro estatal a que a sigla tem direito

Cartaz da campanha do NPD nas eleições de 2013: "dinheiro para as avós, em vez de dá-lo aos sinti e roma"
Cartaz da campanha do NPD nas eleições de 2013: "dinheiro às avós, em vez de dá-lo aos sinti e roma"Foto: picture-alliance/ZB

Para completar, as últimas eleições parlamentares, em 22 de setembro, confirmaram a popularidade minguante do partido junto ao eleitorado: o NPD obteve ínfimos 1,3% dos votos.

Renúncia para evitar expulsão

O partido passa por uma disputa interna de poder, também motivada por inimizades pessoais. Em meados de dezembro, o presidente da legenda, Holger Apfel, renunciou ao cargo após dois anos, alegando estar sofrendo de forte estresse devido ao trabalho. Pouco depois, ele acabou deixando o partido.

Segundo rumores, porém, o motivo da saída de Apfel seria outro: ele teria assediado sexualmente um dos militantes do partido durante a última campanha eleitoral. No NPD, de caráter notoriamente homofóbico, este seria o pior escândalo que se poderia imaginar.

É possível que Apfel tenha renunciado, e posteriormente abandonado a legenda, no intuito de evitar uma expulsão. Ele próprio afirmou ter sido vítima de uma "campanha de ódio pessoal". Um de seus colegas de partido ainda teria sugerido a ele que cometesse suicídio.

Häusler aponta que há uma verdadeira "briga na lama" acontecendo atualmente no NPD, por trás da qual haveria uma "disputa de poder sobre a futura direção do partido". Apfel, afirma o especialista, almejava um novo direcionamento para a sigla, e com um "radicalismo sério" aproximar a legenda da sociedade, por trás de uma imagem superficial de ativismo social. O NPD, na visão do ex-líder, não deveria mais se apresentar abertamente como neonazista.

Segundo Häusler, Apfel acabou ganhando muitos inimigos ao defender essa nova postura. "O NPD é formado, em grande parte, por indivíduos criminosos, violentos, que seguem claramente as ideologias nazistas, e que viram nessa proposta uma traição à orientação do partido", explica.

Retorno da linha dura

O cientista político Wolfgang Gessenharter, também especialista em extremismo de direita, concorda com a visão de Häusler. "Parece-me que, acima de tudo, são os membros do comitê executivo do partido, como Udo Pastörs e outros, que desaprovam a 'suavização' do NPD", observa.

Até o momento, Pastörs é o vice-presidente do partido e também líder da legenda no Parlamento do estado de Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental. Ele é tido como um dos integrantes da "linha dura" do NPD, famoso por alguns embaraços públicos. Em 2009 ele foi condenado por incitação ao ódio após insultar cidadãos turcos, chamando-os de "canhões de sêmen".

Holger Apfel renunciou à presidência do NPD após denúncias de assédio sexual
Holger Apfel renunciou à presidência do NPD após denúncias de assédio sexualFoto: picture-alliance/dpa

Pastörs deve continuar liderando interinamente o NPD até o partido escolher um novo presidente no próximo ano. Ainda não se sabe quem deve ocupar o cargo, mas Gessenharter acredita que o próprio Partörs tem grandes chances de se eleger presidente.

Tudo indica que Pästors deverá enfrentar a concorrência de outro veterano do NPD que aparentemente já atua nos bastidores, preparando seu retorno. Trata-se do ex-líder de extrema direita Udo Voigt, que chefiou a legenda entre 1996 e 2011, até ser removido do poder por Holger Apfel.

"Voigt nunca superou o fato de ter sido retirado da liderança do partido", acredita Gessenharter. Recentes declarações e ações de Voigt já deixaram claro que ele se vê apto a retomar as rédeas do NPD, avalia o cientista político.

Pressão cada vez maior

Independentemente de quem se tornará o próximo líder do NPD, a orientação política e a imagem do partido deverão ser novamente alteradas. "Tudo indica que o NPD vai abandonar sua fachada de aparente seriedade e deve admitir seu conteúdo abertamente nacional-socialista", analisa Alexander Häusler.

Udo Pastörs, da "linha dura" do partido, é presidente interino do SPD
Udo Pastörs, da "linha dura" do partido, é presidente interino do SPDFoto: picture-alliance/dpa

Isso, no entanto, deverá fornecer ainda mais munição ao processo movido pelos estados alemães, que requerem o banimento do partido junto ao Tribunal Constitucional. O especialista acredita que os esforços pela proibição do NPD – fracassados em 2003 – poderão, dessa vez, obter êxito.

Já o cientista político Gessenharter não é tão otimista. Para ele, a dúvida é se a corte estaria de fato preparada para limitar a sua própria iniciativa de preservar a liberdade de opinião.

"Pode-se dizer as coisas mais ridículas ou ofensivas, mas enquanto elas ficarem restritas ao campo das opiniões, não há muito que a Corte Constitucional possa fazer", explicou. Ele alerta que uma segunda tentativa frustrada de banir o NPD seria um desastre para os que desejam abolir o grupo nacional-socialista.

Häusler observa que "durante o curso de seu desenvolvimento, o partido passou por várias crises. Já esteve diversas vezes à beira da falência e sofreu perdas de votos". Ainda assim, o NPD em seus quase 50 anos de existência conseguiu se reinventar em diversas ocasiões e permanecer vivo.