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Teste pesado

Alexandre Schossler5 de setembro de 2011

Ex-líderes políticos criticam desempenho de Angela Merkel e de Barack Obama na busca de uma saída para a crise. Para especialistas, ainda é cedo para estabelecer um veredicto.

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Barack Obama e Angela Merkel: acusados de fraquezaFoto: AP

As críticas vêm de vários lados. Os ex-chanceleres federais alemães Helmut Kohl e Helmut Schmidt condenaram o que consideram falta de liderança europeia da atual líder alemã, Angela Merkel, diante da crise financeira. Joschka Fischer, ex-ministro alemão do Exterior, também repreendeu a forma de Merkel conduzir a Europa nesta que é, sem dúvida, a crise mais severa desde a criação da União Europeia (UE).

Do outro lado do Atlântico, Barack Obama não está se saindo muito melhor. Embora o argumento dos republicanos sobre a falta de liderança do presidente possa ser interpretado como uma retórica de campanha partidária, esse parecer também reflete uma crescente opinião pública. Segundo um estudo do centro de pesquisa Pew, a aceitação pública de Obama despencou. Pela primeira vez desde que ele assumiu, mais norte-americanos desaprovam a maneira como o presidente tem conduzido seu governo. Desde maio, a porcentagem de cidadãos que descrevem Obama como um líder forte caiu de 58% para 49%.

Na semana passada, o presidente do sindicato de trabalhadores mais importante do país, AFL-CIO, disse que se Obama não tomasse logo uma atitude forte para incrementar a economia norte-americana ele não seria um líder, mas um "seguidor".

Falta de liderança

No caso de Merkel, os principais exemplos para a sua suposta falha em liderar seriam a forma inepta, sem princípios e tardia com que a líder respondeu à crise na Europa e a posição alemã contrária à ação militar na Líbia, que, segundo os críticos, teria isolado Berlim dos aliados ocidentais.

Já Obama é acusado de ter sido enganado pelos republicanos ao aceitar um acordo da dívida profundamente equivocado. Além disso, o presidente teria sido passivo demais, em vez de assumir uma posição forte contra os ditadores que estão lutando contra o próprio povo na Síria e na Líbia. E, mais importante, de não ter feito nada em relação a uma questão primordial para os norte-americanos – a criação de postos de trabalho.

Embora a indignação ao estilo de governar de Merkel e Obama seja compreensível, dizem especialistas, ele deveria ser medido em relação às demais opções políticas disponíveis quando ambos foram eleitos.

Papel pouco habitual

"Se olharmos para Merkel, eu diria que as cobranças sobre a Alemanha para que lidere são bastante recentes", diz Matthias Wächter, diretor do Instituto Europeu de Estudos Internacionais (EHEI, do francês), com sede em Nice, na França. Segundo o especialista, até recentemente, não era esperado que Berlim agisse como um líder forte no cenário internacional, mas que exercesse a liderança apenas no contexto da chamada parceria franco-alemã. Isso porque a Alemanha, de certa maneira, não está acostumada a agir sozinha como líder europeu forte, como muitos esperam agora.

Além do mais, argumenta Hubert Zimmermann, professor de Relações Internacionais na Universidade de Marburg, essa grande visão e a liderança na Europa que muitos críticos esperam agora de Merkel deveria ter um alcance muito maior e mais profundo.

Essencialmente, essa postura levaria a uma Europa muito mais centralizada do que estariam dispostas a aceitar as pessoas que agora pedem um "grande plano", diz Zimmermann. "Então, pedir por visões europeias de longo alcance era relativamente fácil para pessoas como Helmut Kohl, porque estava claro que isso não aconteceria durante seu mandato."

Altbundeskanzler Helmut Kohl
Ex-chanceler federal Helmut KohlFoto: dapd

Dificuldade de liderança

Michael Genovese, diretor do Instituto para Estudos de Liderança e professor na Loyola Marymount University, em Los Angeles, coloca num contexto mais prático esse clamor para que Merkel surja como líder europeia de fato.

"Para Merkel, é difícil liderar a União Europeia, que é uma organização em processo de formação, e muito menos organizada juridicamente do que os Estados Unidos. É difícil liderar ou, como dizemos nos Estados Unidos, é como tentar controlar um grupo de gatos", disse Genovese à Deutsche Welle.

Indiscutivelmente, porém, sua postura quanto à Líbia enfraqueceu sua posição como líder internacional ainda mais do que as críticas sobre sua hesitação quanto à crise da dívida europeia.

"Os parceiros europeus da Alemanha, particularmente a França, onde vivo, estão se perguntando aonde a Alemanha quer chegar, quais são os princípios e as principais linhas de sua política internacional. Deveria haver muito mais clareza quanto aos objetivos da Alemanha em sua política externa", comenta Wächter.

Lições erradas

Barack Obama, argumentam especialistas, é um tipo de líder político semelhante à chanceler federal alemã. Ele também é pragmático e gosta de pesar todas as opções, e não um ideólogo que aborda questões políticas de forma emocional.

Segundo Genovese, o presidente norte-americano tentou aprender as lições do debate sobre assistência médica da época de Bill Clinton. O ex-presidente investiu pesadamente, em todos os aspectos de seu mandato, essencialmente tentando ditar a política ao Congresso. O tiro saiu pela culatra: a reforma do sistema de saúde falhou e a imagem de Clinton foi deteriorada. Obama observou isso e, em vez de se envolver pessoalmente, deixou praticamente toda a legislação a cargo do Congresso.

"Acho que ele desaprendeu as lições da história recente", comenta Genovese. "É uma falha estratégica de Obama. As lições de Clinton não são mais aplicáveis." O sistema político nos Estados Unidos é tão polarizado que nada que Obama queira é aprovado por um Congresso dominado por republicanos.

Zimmermann adiciona que Obama deveria ter agido com mais força na questão do debate sobre o teto da dívida, e oferecer propostas mais arriscadas. No entanto, esse não é o estilo pessoal do presidente.

Kombibild Ronald Reagan Barack Obama: estilos diferentes
Ronald Reagan e Barack ObamaFoto: AP/DW

Épocas e situações diferentes

"Normalmente, presidentes norte-americanos têm o cuidado de cobrir suas apostas e de não fazer propostas arriscadas ou discursos visionários", diz Zimmermann, citando a fala famosa de Ronald Reagan, "Derrube esse muro", na ocasião de sua visita a Berlim durante a Guerra Fria. "Claro que ele poderia dizer isso porque as pessoas que ficariam furiosas com essa fala estavam do outro lado do muro."

Desta maneira, invocar antigos líderes para criticar a liderança de Angela Merkel e Barack Obama é compreensível, mas não completamente justo. Primeiramente, as pressões constantes sobre ambos os chefes de governo, e também as restrições que eles enfrentam atualmente são muito maiores do que as vistas durante a Guerra Fria por Helmut Kohl e Ronald Reagan.

"É quase como se você fosse Gulliver acorrentado por milhares de liliputianos", compara Genovese. Em segundo lugar, o veredicto da história sobre o que transforma governantes em grandes líderes leva tempo, ressalta Zimmermann.

"Se você olhar para trás, para Reagan e Kohl, por muito tempo os dois foram considerados como praticamente dois idiotas, distantes de serem vistos como líderes fortes. A razão era, claro, que eles governavam em um sistema dividido. Depois que a Guerra Fria acabou, eles passaram a ser vistos como líderes visionários", adiciona Zimmermann.

Autor: Michael Knigge (np)
Revisão: Roselaine Wandscheer