Câmara dos EUA atrela pacto com Reino Unido a paz na Irlanda
14 de agosto de 2019Não há chance de um acordo comercial entre os Estados Unidos e o Reino Unido ser sancionado pelo Congresso americano se a separação britânica da União Europeia minar o acordo de paz da Sexta-Feira Santa entre a Irlanda e a Irlanda do Norte. Esse é o ponto de vista da presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi.
"Qualquer que seja a forma que ele tome, não se pode permitir que o Brexit ameace o Acordo da Sexta-Feira Santa, incluindo a fronteira destravada entre a República da Irlanda e a Irlanda do Norte", disse a democrata em comunicado nesta quarta-feira (14/08).
"Se o Brexit minar o Acordo da Sexta-Feira Santa, não haverá chance de um acordo comercial EUA-Reino Unido passar no Congresso", acrescentou a líder da Câmara. "A paz proporcionada pelo Acordo de Sexta-Feira Santa é cara aos americanos e será ferozmente defendida pelas duas câmaras e pelos dois partidos."
O governo Trump está negociando um acordo de livre-comércio com o Reino Unido que pode entrar em vigor depois que o país europeu finalizar sua saída da UE, marcada para 31 de outubro.
Mas todo e qualquer novo pacto teria que passar pelo Congresso americano, que está dividido entre democratas, que controlam a Câmara, e os correligionários republicanos do presidente Donald Trump, que controlam o Senado.
A reação de Pelosi ocorreu após o assessor de segurança nacional dos Estados Unidos, John Bolton, afirmar, durante visita a Londres, que os EUA apoiarão entusiasticamente um Brexit sem acordo se isso for o que o governo britânico decidir fazer. Ele ainda acrescentou que um acordo comercial com os EUA ajudaria a amortecer o impacto da saída britânica da UE.
O novo primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, prometeu que o Reino Unido vai sair da UE a 31 de outubro, com ou sem acordo.
Assinado em 1998, o Acordo da Sexta-feira Santa pôs fim a três décadas de violência na Irlanda do Norte, entre republicanos nacionalistas (católicos), defensores da reunificação da Irlanda, e unionistas (protestantes), defensores da manutenção da região sob a coroa britânica.
Como a Irlanda do Norte, que faz parte do Reino Unido, compartilha uma fronteira com a Irlanda, que é membro da UE, observadores temem que o Brexit acabe provocando a reimposição de postos de fronteira na ilha, colocando em risco o acordo que manteve a paz na Irlanda do Norte nas últimas duas décadas.
Como ambos os países são atualmente membros da UE, bens e pessoas circulam livremente através da fronteira.
Um membro republicano da Câmara dos Representantes, Pete King, de origem irlandesa, disse ao jornal britânico The Guardian que colocar em risco a fronteira aberta seria uma "provocação desnecessária" sobre a qual seu partido não hesitaria em desafiar Trump.
JPS/afp/rt/lusa
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