Câmara dos EUA pune deputada ligada a teorias da conspiração
5 de fevereiro de 2021A Câmara dos Representantes dos EUA – com maioria democrata – votou na quinta-feira (04/02) a favor da remoção da polêmica congressista republicana Marjorie Taylor Greene de suas atribuições em comissões parlamentares. Greene defendeu o movimento conspiratório QAnon e, mais recentemente, endossou um discurso violento contra opositores e de que houve fraude na eleição presidencial em que o democrata Joe Biden derrotou Donald Trump.
Greene estava inserida nas comissões de Orçamento e Educação. Sua remoção foi aprovada com 230 votos a favor – 219 democratas e 11 republicanos –, e 199 deputados republicanos votaram contra. Trata-se de uma medida bastante incomum, pois normalmente a composição das comissões é decidida pelas bancadas.
A republicana de 46 anos foi eleita como representante do estado sulista da Geórgia para a câmara baixa do Congresso americano em novembro. Greene integra a ala mais radical – pró armas de fogo e antiaborto – do Partido Republicano e, recentemente, causou constrangimento no próprio partido ao usar um retórica violenta contra líderes democratas, incluindo a presidente da Câmara, Nancy Pelosi.
"Nunca vi uma situação como esta em que um membro [do Congresso] tenha feito comentários tão maldosos e dolorosos, tenha participado de assédio de colegas e expressado apoio à violência política", disse o líder majoritário da Casa, o democrata Steny Hoyer, antes da votação. "Esta votação pode ser um primeiro passo para corrigir o erro daqueles que até agora optaram por não fazer nada."
Republicanos criticaram a votação, e membros da liderança partidária alertaram sobre uma possível retaliação política caso recuperem o poder na Casa.
"Esta votação de hoje estabelece um precedente perigoso para esta instituição e da qual os democratas podem se arrepender quando os republicanos recuperarem a maioria", disse a deputada Liz Cheney. A congressista republicana de Wyoming afirmou que, embora os comentários de Greene sejam deploráveis, os democratas "não têm nenhum direito em determinar quais republicanos têm assentos nos comitês".
Os comitês ou comissões no Congresso dos EUA são projetados para serem bipartidários, independentemente de qual partido está no comando do governo, e com cada partido tipicamente escolhendo quem designar para quais cargos.
O que disse Greene?
Pouco antes da votação, Greene se dirigiu ao plenário da Câmara usando uma máscara com as palavras "liberdade de expressão". Ela se desculpou pela maioria de seus comentários polêmicos, por exemplo, de que massacres em escolas foram encenados ou de que nenhum avião atingiu o World Trade Center em Nova York em 11 de setembro de 2001.
"Essas eram palavras do passado... não representam meus valores", disse Greene. "Eu podia acreditar em coisas que não eram verdadeiras e fazia perguntas sobre elas e falava sobre elas. E isso é algo que eu absolutamente lamento."
"Veja, ataques a tiros em escolas são absolutamente reais. E cada criança que se perde, essas famílias choram. Também quero dizer a vocês: o 11 de Setembro realmente aconteceu. Lembro-me daquele dia, chorando o tempo todo, assistindo no noticiário", disse.
A congressista, no entanto, não se desculpou por aparentemente endossar os apelos por violência política contra os democratas. Antes de sua candidatura, Greene deu "like" em postagens no Facebook que apoiavam a execução de democratas, incluindo Pelosi.
De pedófilos a laser espacial
Em 2018, Green sugeriu que um "laser espacial" controlado por alguma família judia foi usado para deliberadamente iniciar um incêndio florestal na Califórnia.
Durante a sua campanha para as primárias, Greene afirmou fazer parte do movimento QAnon, que difunde um conjunto de teorias da conspiração, entre elas a associação do Partido Democrata a tráfico de crianças, canibalismo e rituais satânicos.
De acordo com a teoria QAnon, os Estados Unidos têm sido liderados durante décadas pelo "Deep State", uma organização secreta que reúno altos funcionários governamentais, além dos Clintons, dos Obamas, dos Rothschilds e do investidor George Soros.
As primeiras mensagens crípticas sobre a "seita" apareceram em 2017, escritas por um misterioso "Q", uma pessoa que seria de dentro do governo. "Q é um patriota", disse Taylor Greene em 2017. "Esta é a oportunidade de uma vida inteira para eliminar esta cabala global de pedófilos satânicos e penso que temos o presidente certo para isso", afirmou, então.
Além disso, Greene também disseminou diversos vídeos nas redes sociais com mensagens racistas, antissemitas e anti-islâmicas, além de atribuir massacres com armas automáticas, como o de 2017 num festival de música country, em Las Vegas, a conspirações de movimentos a favor da abolição do direito ao porte de armas de fogo.
Enaltecida por Trump, Greene incomodou algumas fileiras republicanas. O influente líder da minoria republicana no Senado, Mitch McConnell, advertiu que "mentiras malucas e teorias da conspiração são cancerosas para o Partido Republicano".
Pelo Twitter, Greene respondeu: "O verdadeiro câncer para o Partido Republicano são os republicanos fracos, que não fazem nada além de aceitar a derrota educadamente."
pv/lf (AFP, Reuters, AP, DPA, Lusa)