Degelo do Ártico bate recorde de 2007 e preocupa cientistas
28 de agosto de 2012O Centro Nacional de Dados sobre Gelo e Neve dos EUA (NSIDC, na sigla em inglês) e a Nasa informaram nesta segunda-feira (27/08) que a camada de gelo do Ártico alcançou uma baixa histórica. O gelo estende-se agora por 4,1 milhões de metros quadrados, a menor área registrada desde que os satélites começaram as medições, em 1979.
A camada diminuiu 70 mil quilômetros quadrados desde o último recorde, registrado em 2007. A redução deixa cientistas e ambientalistas em alerta, pois o gelo do Ártico é considerado vital para o planeta. Ele funciona como uma espécie de ar-condicionado, refletindo o calor do sol para o espaço e ajudando a manter a temperatura global.
"É provável que iremos superar significativamente a diminuição recorde este ano", disse Walt Meier, cientista do centro de dados em Boulder, no Colorado. Espera-se que a camada diminua até a segunda quinzena de setembro, quando ao derretimento de verão costuma chegar ao fim.
Segundo Meier, antes, a camada de gelo do Ártico formava um grande bloco – derretendo um pouco em suas bordas, mas bastante sólido. "Agora é como gelo moído. Pelo menos partes do Ártico se transformaram numa gigante raspadinha de gelo, muito mais fácil e rápido de derreter."
Pior do que o previsto
O degelo foi mais rápido do que o previsto até mesmo nos piores cenários climáticos, de acordo com Michael E. Mann, cientista da Penn State University e principal autor de um relatório da Organização das Nações Unidas sobre mudanças climáticas, de 2001.
"Os modelos previram basicamente que não veríamos o que estamos vendo agora por muitas décadas", disse Mann. "Há uma quantidade de áreas onde as mudanças climáticas parecem estar de fato ocorrendo mais rápido e em maior magnitude do que o previsto."
Waleed Abdalati, cientista-chefe da Nasa, afirma que a marca recorde é um sinal de que, em breve, o Polo Norte não teria mais uma cobertura de gelo significante durante os meses de verão.
"Por que deveríamos nos preocupar? Porque esse gelo foi um fator-chave para criar as condições climáticas e meteorológicas sob as quais a sociedade moderna se desenvolveu", alerta.
Um estudo publicado este ano na revista científica Geophysical Research Letters apontou correlações entre o derretimento do Ártico e eventos climáticos extremos, como secas, inundações e ondas de frio e de calor.
Alerta do Greenpeace
O derretimento de gelo indica que o planeta está "esquentando a um ritmo que coloca o futuro de bilhões de pessoas em risco", afirmou Kumi Naidoo, diretor-executivo do Greenpeace, nesta segunda-feira.
"Esses números não são o resultado de um capricho da natureza, mas efeitos do aquecimento global provocado pelos seres humanos, causado por nossa dependência de combustíveis fósseis poluentes", disse.
Estima-se que o Ártico abrigue um terço das reservas ainda não descobertas de petróleo e gás natural. Com o derretimento da camada de gelo, navios cargueiros adentram cada vez mais águas antes inacessíveis, encurtando viagens entre a China e a Europa, por exemplo.
LPF/rtr/afp/dapd
Revisão: Carlos Albuquerque