Democratas contam com latinos para fazer diferença nas urnas
5 de novembro de 2016A poucos dias das eleições presidenciais nos Estados Unidos e com pesquisas de opinião indicando uma disputa apertada, a candidata democrata, Hillary Clinton, espera contar com um importante trunfo: o voto dos latinos. O aumento do comparecimento às urnas dos eleitores hispânicos em relação a 2012 em estados onde há votação antecipada – como nos disputados Nevada e Flórida – vem sendo apontado como um boa notícia para a campanha da democrata.
A comemoração tem motivo: pesquisa de opinião realizada há duas semanas pelos veículos Wall Street Journal, NBC News e Telemundo indicam uma larga vantagem de Hillary entre os eleitores latinos – dois terços (67%) dos entrevistados afirmaram apoiar a democrata, enquanto apenas 17% estão com o candidato republicano, Donald Trump. Segundo o levantamento, 80% dos imigrantes hispânicos e descendentes ouvidos veem Trump de maneira negativa, enquanto que, para Hillary, este índice é de apenas 28%.
O discurso anti-imigração que marcou a campanha de Trump, somado a polêmicas declarações do magnata – como a de que o México manda apenas "estupradores, criminosos e traficantes” para os EUA, e de que ele irá construir um muro na fronteira com o país – desgastaram a imagem do republicano junto à comunidade latina.
Dos 57 milhões de latinos que vivem nos EUA, segundo o último censo, 27,3 milhões estão aptos a votar este ano, o equivalente a 12% do eleitorado americano – um recorde. Em 2012, este número era de 23,3 milhões. O aumento deve-se, em grande parte, à maioridade de descendentes de imigrantes nascidos nos Estados Unidos, que ao completar 18 anos, recentemente tornaram-se eleitores.
Houve ainda uma forte movimentação de grupos latinos nos últimos meses, promovendo uma intensa campanha – e que contou com a participação dos consulados mexicanos – para estimular quem estava apto a solicitar a cidadania americana a tempo de poder votar este ano. O objetivo, embora nem sempre explícito, era bem claro: arrebanhar o maior número de votos contra Trump.
De acordo com o Serviço de Imigração e Cidadania Americana (USCIS), entre outubro do ano passado e junho deste ano, 718,4 mil imigrantes, a maioria de origem hispânica, entraram com pedidos para se naturalizarem americanos, 8% a mais do que nas últimas eleições presidenciais.
Propostas divergem
Embora imigração não seja o tema de maior relevância para os latinos registrados como eleitores, mas sim economia e educação, as propostas apresentadas por Hillary e Trump direcionadas à população estrangeira que vive nos EUA são as que mais depertaram reações na comunidade hispânica.
A principal bandeira da candidatura do magnata é a construção de um muro "impenetrável” na fronteira entre os EUA e o México, país de origem do maior grupo de imigrantes em terras americanas, e o envio da conta para o governo mexicano. Em um documento intitulado Pay for the Wall ("pagamento pelo muro”), o site do republicano detalha como pretende fazer com que o México pague pelo muro. Uma das maneiras seria ameaçar proibir a transferência de dinheiro de cidadãos mexicanos ilegais nos EUA para as famílias em seus países de origem, até que o governo mexicano cedesse.
Trump ainda promete triplicar o número de agentes de imigração e deportar todas as cerca de 11 milhões de pessoas que vivem ilegalmente no país. O magnata compromete-se ainda a derrubar duas ações executivas assinadas durante a gestão Obama: a DACA, criada para evitar a deportação de imigrantes que chegaram aos EUA ainda crianças e que permite a concessão de vistos de trabalho de dois anos, renováveis, a quem chegou aos EUA com menos de 16 anos antes de junho de 2007; e o DAPA, que autoriza a permanência de imigrantes ilegais que tenham chegado aos EUA até 2010 e cujos filhos são americanos ou possuem residência permanente.
Hillary, por sua vez, garante que vai defender as ações executivas DACA e DAPA e estimular atividades de integração de imigrantes. A candidata afirma ainda que reforçará investimentos nos trabalhos de patrulha da fronteira e que vai liberar fundos para promover uma reforma de imigração abrangente, a fim de "trazer para a economia formal milhões de trabalhadores dedicados”.