"Der Klassiker": quando o mundo do futebol para na Alemanha
13 de novembro de 2018Na história do futebol alemão, alguns clássicos marcaram época. Na década de 70, por exemplo, o confronto que aquecia o coração dos torcedores era entre Borussia M'Gladbach x Bayern Munique. Naqueles anos, os dois clubes reinavam absolutos na Bundesliga: quatro títulos para os bávaros, e cinco para os potros. Os dois formavam a base da seleção alemã campeã da Europa em 72 e do Mundial em 74.
Quando se trata de rivalidade entre torcidas, não há paixão maior do que a que envolve "a mãe de todos os dérbis": Schalke 04 x Borussia Dortmund. Gelsenkirchen dos "azuis reais" e Dortmund dos "auri-negros" ficam a apenas 40 quilômetros uma da outra e têm profundas raízes na classe trabalhadora. A rivalidade chega a tal ponto que, para os torcedores dos dois times, parece ser mais importante vencer o arquirrival do que conquistar a salva de prata.
Houve um tempo em que só se falava do clássico Norte-Sul. Era o confronto que representava duas grandes cidades alemãs: Hamburgo e Munique. Foi nos primeiros anos da década de 80 que o Hamburgo chegou a incomodar o Bayern e quebrou a hegemonia bávara em três temporadas: foi campeão da Bundesliga em 79, 82 e 83. Seu título mais importante, porém, foi o da Liga dos Campeões em 1983.
Nos tempos atuais, o grande jogo que toma conta das manchetes dos jornais e acirra os ânimos dos torcedores não só na Alemanha, mas mundo afora, ficou conhecido como "Der Klassiker" ("o clássico"). Desde o começo da década, Borussia Dortmund e Bayern Munique, quando se enfrentam, representam um prato cheio para quem gosta de fortes emoções.
E não foi diferente desta vez. É difícil descrever com palavras o que foi visto no sábado último, no Signal Iduna Park completamente lotado, com 81.365 torcedores. Foi um espetáculo em um estádio tomado não só pela grande massa torcedora como também pelos deuses do futebol, que decidiram, por razões que a própria razão desconhece, promover um jogão de bola como até então não tinha sido visto na atual temporada da Bundesliga.
Ao ser anunciada a escalação do Borussia Dortmund, muitos se perguntavam por que Lucien Favre havia deixado no banco três dos seus principais protagonistas na atual campanha: Paco Alcácer, Mahmoud Dahoud e Christian Pulisic. Por que não escalar de cara o time considerado titular?
Seria uma estratégia de caso pensado? Atrair o Bayern para o seu próprio campo, resistir à pressão ofensiva bávara e restringir-se apenas a um ou outro contra-ataque. Foi assim em todo primeiro tempo.
É sabido que uma das maiores qualidades de Favre é a sua capacidade de fazer uma análise que beira à perfeição do jogo do adversário no decorrer da partida. Já existe até, em inglês, um termo para isto: "in-game-coaching".
O técnico suíço costuma fazer substituições no segundo tempo que acabam sendo decisivas para o resultado final da partida. Já aconteceu algumas vezes durante a presente campanha e aconteceu de novo diante do Bayern Munique.
Coincidência? Não creio. É estratégia mesmo.
Neste último "Der Klassiker" o Bayern fez a sua melhor partida da temporada. Dominou o jogo na primeira etapa, mas caiu na armadilha montada por Favre. Partiu para cima do Dortmund com marcação muito alta, ataques velozes, jogo intenso. E cansou de tanto atacar. Exemplo clássico: Ribery, no segundo tempo, cansou de perder bolas no ataque proporcionando a Reus e cia. letais avanços rumo à meta de Neuer. E por falar em Neuer, venhamos e convenhamos, ele também está longe de sua melhor forma.
É verdade que o Bayern marcou dois gols através do sempre oportunista Lewandowski, mas a ótima atuação do polonês não foi suficiente para segurar a avalanche do Dortmund na etapa complementar.
A queda de produção do Bayern Munique no segundo tempo foi estarrecedora, e as substituições feitas por Niko Kovac não deram nenhum resultado prático, ao contrário daquelas providenciadas pelo esperto Lucien Favre.
Colocou Dahoud no lugar de Weigl, e Alcácer substituiu Götze. Com Reus na melhor forma de sua vida, a engrenagem auri-negra começou a moer os bávaros, especialmente utilizando-se da velocidade de Sancho para armar contra-ataques. Foi assim, por exemplo, na jogada que resultou no penal cometido por Neuer.
De quebra, Paco Alcácer bateu mais um recorde da Bundesliga: é o primeiro jogador do Campeonato Alemão que, tendo jogado ao todo apenas por 235 minutos, já marcou oito gols. O último foi justamente o da vitória sobre o Bayern: 3 a 2.
No frigir dos ovos, foi um jogo digno do nome que ostenta: "Der Klassiker".
--
Gerd Wenzel começou no jornalismo esportivo em 1991 na TV Cultura de São Paulo, quando pela primeira vez foi exibida a Bundesliga no Brasil. Desde 2002, atua nos canais ESPN como especialista em futebol alemão. Semanalmente, às quintas, produz o Podcast "Bundesliga no Ar". A coluna Halbzeit sai às terças. Siga-o no Twitter, Facebook e no site Bundesliga.com.br
----------------
A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas. Siga-nos no Facebook | Twitter | YouTube
| WhatsApp | App | Instagram | Newsletter