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Desativando minas no Afeganistão

Sandra Petersmann25 de dezembro de 2002

A alemã Vera Bohle (32) tem 1,84 m. e uma profissão incomum: é especialista em desativação de minas, tendo trabalhado em 2002 no Afeganistão.

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O Afeganistão é um grande campo minadoFoto: AP

Antes mesmo dos ataques da coalizão internacional, voltados contra o regime das milícias talibãs e os acampamentos da rede Al Qaida de Osama bin Laden, sabia-se da existência de minas espalhadas por uma área de 730 milhões de quilômetros quadrados! Depois, vieram a acrescentar-se os projéteis e bombas de fragmentação atirados pelos americanos , e que não explodiram.

Tendo aprendido seu métier numa escola técnica em Dresden, após o estudo de jornalismo, Vera Bohle é uma das poucas especialistas que sabem desativar as bombas de fragmentação. Depois de haver participado de missões internacionais na Bósnia, Albânia, no Kosovo, Zimbábue e Moçambique, trabalhou para a ONG Help em Herat, no ocidente do Afeganistão, com a missão de formar uma equipe de busca e desativação de minas, conforme contou em entrevista à Deutsche Welle. O Afeganistão, após 23 anos de guerra civil, é provavelmente o país com o maior número de minas no mundo.

Aceita por seus conhecimentos

Como contou à reportagem da DW, ficou surpresa de ter sido muito bem recebida no país, com o que não contava, após tudo o que leu a respeito da submissão imposta às mulheres durante o regime fundamentalista islâmico. "Dava na mesma se eu era homem ou mulher. O importante era que eu vinha da Alemanha, com a missão de transmitir os meus conhecimentos, do que eles precisavam com urgência. Isso foi a única coisa que contou e os afegãos me deram a entender isso com muita cordialidade e uma recepção carinhosa", comentou.

Seu uniforme de trabalho teria escandalizado os talibãs machistas e fanáticos: ele inclui uma calça caqui, capacete com proteção especial de acrílico para o rosto e um pesado colete salva-vida, para defendê-la de estilhaços. É nessa indumentária que Vera explica a seus alunos como funciona o detector de minas e projéteis não detonados e como desativá-los, passo a passo: um trabalho de grande concentração e alta tensão.

Em profissão perigosa não pode haver rotina

"O grande inimigo é a rotina", confessa, dizendo que no princípio todos os técnicos sempre prestam atenção em todos os detalhes, mas a tendência é descuidar com o tempo. "Aos poucos vem a sensação de que, se não aconteceu nada até agora, você é quase invulnerável. Mas aí é que está o perigo. Então me concentro e procuro me convencer que sou tão vulnerável quanto no começo. E digo para mim mesma: não seja leviana, aguce os sentidos, tome cuidado e não dê um passo muito grande, porque ele pode ser o seu último."

Mesmo com toda a experiência adquirida, Bera Bohle reconhece que no Afeganistão a situação é muito grave, principalmente porque não há mapas sobre os campos minados durante duas décadas de guerra civil. Por isso, as equipes de desativação dependem das informações da população. E muitas minas antigas, dos tempos da União Soviética, escorregaram para um metro de profundidade ou os explosivos se moveram juntamente com a terra e já não podem ser detectados.

Acidentes e senso de normalidade

"A situação aqui é dramática. Acontecem muitos acidentes. No pouco tempo que passei em Herat presenciei três acidentes. E eles não afetam apenas pessoas que não sabem onde há minas, como também os nossos técnicos. Neste ano, 11 de meus colegas morreram no exercício de sua perigosa tarefa".

Vera resolveu fazer uma pausa, agora, para não perder o sentido da "normalidade", como explicou à Deutsche Welle: "De ir de uma região de crise à outra, você acaba achando normal o que vê. Mas não é normal que crianças brinquem com pedaços de granada, como não é normal viver cercado de minas e ruínas." E para não perder a sensibilidade, ela vai fazer uma pausa.

Mas seu desejo é voltar ao Afeganistão e ajudar na reconstrução, no que o povo está muito empenhado. Todos estão tão fartos da guerra e trabalham arduamente pela nova paz. Seu maior desejo é estabilidade e poder levar uma vida normal. Esse elã, diante de tantas dificuldades, é o que ela mais admira na população, e o que a levará de volta ao país. As necessidades são imensas, como observa. No norte de Kabul, por exemplo, há enormes campos minados e é para lá que estão retornando as pessoas que se refugiaram no Paquistão. (ns)